segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Povo do Carmen.



POVO DO CARMEM


Os remanescentes do povo missioneiro em Itaqui – 1848.


Prof.º Paulo Santos


   Poucos sabem que em 1848 havia o Povo do Carmem, com aproximadamente 800 índios oriundos da redução de Itapuã, no Paraguai. Este povo estava localizado em Tuparaí e era uma espécie de colônia dos jesuítas onde plantavam, além de explorar a confecção de cerâmica. Inicialmente, as informações remetem para Itaqui, porém uma análise mais cuidadosa orienta para não veracidade das mesmas.


    Até porque não se tem hoje em dia nenhuma noção do local de tal povoado. Pesquisas arqueológicas podem um dia resgatar tal sítio, servindo, assim, de atrativo turístico para o município. Fica, por outro lado, notório que o distrito de Tuparaí era local bem antigo, talvez pertencente ao período missioneiro.


   Talvez fosse uma capela, um posto ou estância. Os campos pertencentes aos povos missioneiros tinham grandes extensões territoriais, havendo a necessidade de serem divididos em estâncias e estas em postos, em torno dos quais eram erguidas pequenas capelas. A vinda desse contingente de índios paraguaios ocorre num período posterior ao império jesuítico. É um mistério esse êxodo dos guaranis de Itapuã para Tuparaí. Verdadeiramente, um mistério! Há um arrazoado por parte do autor, mas por que aqui no território do Rincão da Cruz, agora já como freguesia de São Borja.


   Para fundamentar a transmigração dos guaranis de Itapuã para Itaqui cito o texto do cônego João Pedro Gay:


   “(...) Como durante a ditadura de Francia, Itapuã e Nhiembucu eram os únicos pontos abertos ao comércio estrangeiro, Itapuã fazia um comércio sofrível com São Borja, e se tinha tornado bastante florescente, mas em conseqüência da interrupção quase completa do seu comércio de trânsito com a vila brasileira desde a abertura do rio Paraguai, Itapuã tem ficado um povo pobre e sem recursos. Todavia, como a estes últimos anos tem-se povoado de novo o território do departamento de S. Tomé entre Uruguai e Paraná, parece que os habitantes da vila da Encarnación, principiam de novo a exportar alguns produtos, especialmente tabaco para São Tomé, mas são tão diminutas estas exportações que não remediam as necessidades dos seus habitantes. Os habitantes de Itapuã são unicamente brancos e mestiços. Em 1848 os guaranis que habitavam no povo de Itapuã foram transferidos ao povinho do Carmen que se formou unicamente para eles a sete léguas de Itaqui sobre a estrada que vai à capital e que era uma capela dos jesuítas chamada Tuparaú, que quer dizer filho de Deus.


   O Carmen é uma espécie de grande fazenda administrada como as estâncias de Missões. Nele somente é bem edificado o alojamento do mordomo. As outras casas são ranchos miseráveis. No meio da praça há uma capelinha que se trata de substituir por uma igreja mais própria. O terreno assinalado para estes índios é fértil, e seu clima salubre, mas suas chácaras e seus ranchos são mal atendidos e todos parecem estar muito pobres; mas apesar disso, eles não parecem sentir o ter saído de Itapuã. Há no Carmen excelente terra pra louça que alimenta uma pequena indústria de talhas, jarros, pratos, fogareiros, etc. Ai fabricam também tijolos e telhas de excelente qualidade; o que não deixa de ser útil aos índios. O número de habitantes do dito povinho do Carmen e da vila da Encarnación é de oitocentas almas. (ortografia atualizada. Texto coligido da obra História da Republica Jesuítica do Paraguay. Desde o descobrimento do Rio da Prata até nossos dias, anno de 1861.(Pelo Conego João Pedro Gay, vigario de S. Borja nas Missões Brasileiras. Publicada por deliberação do Instituto Histórico e Geografico Brasileiro. Rio de Janeiro. Tipografia de Domingos Luiz dos Santos, Rua do Ouvidor, n.º 20, 1863. páginas 294-295).


   Por que este povo veio para cá? Tão Longe do seu lugar de origem? Por que aqui – Itaqui? Há no Paraguai um lugar chamado Itapuã, com uma capela, cujo patrono seria a escultura de um "deus menina", chamado "tupã ray'. O nome Itaqui existi\a em outros lugares do cenário missioneiro.


   Este seria um dos motivos pelos quais poderíamos elencar Itaqui como um remanescente da civilização jesuítico-guarani. Creio que alguns documentos jazem por serem descobertos. Tenho convicção de que nesta área devia existir um povo jesuítico com tal denominação. A mesma que aparece num documento de oficiais espanhóis em 1759. Nesse documento aparecia “Pueblo jesuítico de Itaquy”. Então!?!? Porém, o Povo do Carmen não seria de Tuparaí, em Itaqui.




Um comentário:

  1. Parece que o padre João Pedro possa ter cometido algum equívoco nesta informação, porque o povo do Carmen se formou com índios oriundos de Itapuã. Tupã ra'y era o "niño de victoria", uma escultura jesuítica deste povo. Não nos parece haver a localidade de Itaqui no Paraguai. Creio ser pouco provável que fossem transmigrados índios do Paraguai para o interior de Itaqui, formarem uma colônia e não ficar nenhum resquício.

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