PADRE
JOSÉ DE NORONHA NÁPOLES MASSA – PARTE 2
As
dubiedades de uma conduta: entre o sacro e o profano!
Prof.º
Paulo Santos
O
Jornal A Província, RJ, edição 277, de 4 de dezembro de 1890, p.1, estampava:
Por
um seu filho adoptivo de nome José Soares de Noronha, foi assassinado em Itaquy,
no Rio Grande do Sul, o padre Jose de Noronha Nápoles Massa, que ali era
geralmente estimado.
O
referido veículo detalha:
O
padre Massa estava deitado quando ouviu bater á porta de sua casa. De fora seu
filho pedia-lhe insistentemente que a abrisse.
Ao
satisfazer esse pedido, o desgraçado sacerdote foi atirado ao chão por José de
Noronha, que lhe deo duas punhaladas no peito.
O
jornal fala que o mesmo ainda ferira gravemente outra pessoa e fora preso por um
telegrafista, chamado Sílvio, que viera em socorro do padre.
O
Jornal O Brasil, RJ, edição 204, de 5 de dezembro do mesmo ano, destacava:
Chegou-nos
por telegrama a consternadora noticia de haver sido assassinado o vigário de
Itaquy, reverendo padre José de Noronha Nápoles Massa, um dos mais ilustres
sacerdotes que honrão o nosso clero.(...) e foi contra esse velho sacerdote
afável, carinhoso, rodeado de consideração que as suas maneiras instintivamente
despertarão, que armou-se um braço assassino, para dar-lhe a morte. (p.2)
O
Jornal do Commercio, RJ, edição 331, de 27 de novembro, informava mais:
Foi
assassinado em Itaquy o padre José de Noronha Nápoles Massa, que era geralmente
estimado. Era homem erudito, foi professor de Latim em Porto Alegre, era tido
como primeiro latinista do estado. O seu assassino foi preso.
O
infrator fugira do local do crime, sendo perseguido, capturado e entregue à
polícia local. Consta que teria sido amarrado a uma árvore e chicoteado pela
força de segurança que o prendeu. Foi enviado para a Casa de Correção, em Porto
Alegre. Condenado a 30 anos de prisão, findando seus dias na cadeia, em maio de
1891.
Os
motivos desse bárbaro crime nunca vieram à tona. Ficaram as especulações. Dr.º
Sany Silva, um entusiasta pesquisador “das antigas”, de saudosa memória,
estudou muito este personagem. Chegou, inclusive, a ouvir que o mesmo
envolvia-se em relacionamentos não compatíveis com a batina.
Que,
por ilação, sua morte teria sido encomendada por algum marido cobrando suposto
envolvimento do padre com a mulher daquele. Outros dizem que o crime
fundamentou-se na índole perversa do filho adotivo.
Outros
depoimentos orais, porém, colocam Nápoles Massa como uma pessoa de rasgados
elogios – correto, piedoso, justo e honesto. Comovia-se facilmente frente ao
sofrimento de alguém, chegando, inclusive, não raras vezes, a chorar.
As
dubiedades sobre sua conduta ficarão no olvido da história porque não foram
totalmente explicadas.
Era
extremamente culto, dominando o Latim e exercendo o magistério dessa língua.
Escreveu a “GRAMMATICA ANALYTICA DA
LINGUA PORTUGUEZA”, editada em 1888. Obra que gastou 20 anos estudando e
preparando, não dispondo de recursos pra editá-la, sendo ajudado por amigos
para tal. Essa obra mereceu estudo acadêmico contemporaneamente. Consta que
teria obras sacras queimadas em incêndio em sua casa.
“Era um espírito entusiasta por todas as grandes
ideias”, por isso envolveu-se em múltiplos movimentos.
Participou da Revista Murmúrios do Guayba, de Porto
Alegre, 1870.
Sócio do grupo Partenon Literário, Porto Alegre,
1868.
Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Sul.
Membro da Comissão Consultiva de Obras Públicas,
Cruz Alta, 1859.
Criou e administrou um colégio particular em Porto
Alegre, chamado Ginasio Porto-alegrense.
Fundou, também, escola particular em Cruz Alta.
Foi
secretário da Mesa Diretora dos trabalhos da Assembleia Provincial, em Porto
Alegre, 1853.
Era maçom, participando da Loja Maçônica
Filantropia, de Itaqui.
Em Itaqui, sua memória é reverenciada com uma rua
de sentido Norte/Sul – Rua Nápoles Massa.
Itaqui pode ufanar-se de ter, no passado, o
convívio de uma personalidade tão rica e tão controversa.
Ele transitou entre o sacro e o profano. Viveu
intensamente e fez história.
Obs,; Por opção de pesquisa, muitas fontes não são
citadas, guardando-me o direito de preservá-las para futuras publicações. Todas
as transcrições são, por opção, textuais, como forma de reconhecer o estilo e o
modo de expressar dos autores das fontes.
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