O TESOURO DOS JESUÍTAS
O imaginário coletivo alimentando
caçadores povoeiros na costa do Ibicuí!
Prof.º
Paulo Santos
Um
dos assuntos que mais aguça a curiosidade popular são os tesouros enterrados,
os famosos “enterros”! Um misto de fantasia, exageros, doses homeopáticas de
realidade e muito misticismo. Receita perfeita para os amantes dos causos e
entrecausos. E entre esses fantasiosos relatos, um transcende a todos pelo
inusitado de sua construção épica e folclórica – o Tesouro dos Jesuítas!
A Ordem dos Jesuítas foi proscrita da América
e a Carta Régia de 13 de setembro de 1759 expulsava do reino do Brasil a
Companhia de Jesus. O decreto previa que os bens desses religiosos seriam
incorporados ao fisco real e revertidos à Coroa Imperial Brasileira.
As
fontes daqueles períodos indicavam que esta irmandade juntou um patrimônio extremamente
elevado, constando inclusive muito ouro, prata e joias, alfaias das igrejas,
mobiliários, propriedades etc.
E
nessa esteira surgem as versões a tesouros escondidos quando da expulsão da Ordem desse continente. As incidências sobre tais fatos são infindas. Descrição de
tesouro em diversos lugares do Rio de Janeiro, na Bahia, em Minas Gerais,
Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Sul. E aqui chegamos!
O
mais expressivo caso – o Tesouro dos Jesuítas no campo dos Barbosa, em Itaqui,
RS.
Inúmeros
pesquisadores ocuparam-se desse tema. Entre eles, destaco nosso dedicado
historiador Jesus Pahim, inclusive com um livreto de lendas onde trata do tema.
Além dele, o ilustrado escritor Milton Braz Rubin em sua última obra, dedicando
expressivo espaço para tal.
Um
documento assaz significativo encontrei na Biblioteca Nacional, no link da
Hemeroteca Digital. Trata-se da edição número 051, ano de 1955, da Revista O Cruzeiro, do
Rio de Janeiro, que nas páginas 38 a 42, traz a interessantíssima reportagem
intitulada “O TESOURO DOS JESUÍTAS. Às
margens do Ibicuí, enterrado há quase meio século,” Texto e pesquisa de
Leoni Machado.
Ali
temos uma cobertura singular de algumas expedições empreendidas no sentido de
desenterrar esse fabuloso tesouro. É sabido que o sr. Carlos Teles, de Porto
Alegre, alguns anos antes de 1940, teve conhecimento de um pergaminho e um mapa
que indicava a existência do tesouro dos jesuítas, numa curva do rio Ibicuí,
nos campos da família Barbosa, em Itaqui.
O
Jornal Correio do Povo, de 1972, elabora e traça a história desse aventureiro nos
campos dos Barbosa.
A
revista O Cruzeiro, sabendo disso, organiza a cobertura de tão destacada notícia
alguns anos mais tarde. Sabe-se que a busca por este tesouro durou décadas e
décadas.
Pois,
a Revista narra as aventuras engendradas por este senhor junto com os proprietários
das terras, no caso o sr. Bolivar Barbosa, filho de Marciano Barbosa e irmão de
Togo Lima Barbosa (pai do Dr.º Marco Aurélio Barbosa, residente em Itaqui). Uma equipe de reportagem
veio a Itaqui em 1955 e cobriu algumas escavações. Utilizaram detector de
metais, empregaram mais de cem homens, cavaram centenas de buracos e nada do tesouro.
Aquele
meio de comunicação, em dado momento declara:
“Comentários
feitos por alguns espíritas os quais afirmavam que o tesouro era guardado pelos
espíritos dos índios que tinham sido enterrados com ele.”
O
tesouro teria sido enterrado numa curva do rio Ibicuí, no centro de um
triângulo formado por pedras distando cem passos entre cada uma. No pergaminho
encontrado nas escavações da igreja jesuítica de Yapeju por alguns operários,
datado de 1775, constava que havia um baú com objetos da igreja, algumas caixas
contendo novecentas e noventa barras de ouro e uma caixinha com pedras preciosas.
O
cálculo disso em 1955 beirava a duzentos milhões de dólares.
Isso
atiçou a cobiça de muita gente. Até empresa, em Porto Alegre, foi formada para
explorar tal área. Quando começaram os trabalhos para construção da ponte do
rio Ibicuí (por volta de 1887), consta que até os ingleses andaram cavando
atrás do ouro. Os funcionários descobriram e foi uma agitação total – todos queriam
descobrir o tesouro.
Mas....nada...buracos
e mais buracos...os guardiões não deixaram ninguém chegar perto de tanta
riqueza.
Ou
será que havia tudo isso?
É
a lenda! A transfiguração do real, o fomento ao imaginário coletivo e o desejo
impulsivo da riqueza em tarefas épicas e
mirabolantes. Ninguém consegue. Ninguém conseguirá! Nesse mesmo rio há a lenda
de que um sino de tamanho descomunal, dos jesuítas em fuga, teria caído no rio
Ibicuí, com a boca para baixo. Um padre de Itaqui, o francês Leon Blondet, junto com o
fazendeiro Marciano Barbosa tentaram tirar esse sino do rio com várias juntas
de boi. Conseguiram?
Não.
Ninguém consegue!
A lenda só é lenda porque fica no imaginário coletivo. É o
fermento que alimenta as rondas campeiras, a beira dos fogos de chão, das
lonjuras das carreteadas, do trote em silêncio dos gaúchos nos hermos das
amplidões e na prosa galponeira da gente desse tempo.
Nada
além disso! ..mas bem que uma dessas barras de ouro nos ajudaria bastante!!!