terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Ênio Cacciatore Sayago

ÊNIO CACCIATORE SAYAGO
Prof.º Paulo Santos
Este texto recebi, na íntegra, de um itaquiense (Paulo Cabral), morador em São Paulo, que mantinha ligação com a família de Ênio Sayago, um prefeito de Itaqui. Hoje quase ninguém sabe nada sobre sua história. Dessa forma, transcrevo-o da forma como o recebi. Vejam quem foi e o que fez esta grande figura pública do Itaqui antigo.
foto recebida da família, com pouca resolução.
Enio Cacciatore Sayago nasceu em 8 de janeiro de 1922, em Itaqui, filho de Esther Cacciatore e José Sayago.
Precoce ainda, perde sua mãe aos dois anos, sendo criado por tios e tias.
Na sua infância o prazer maior era nadar nas águas do rio Uruguai. Quando jovem, frequentava CTGs, sendo apaixonado por músicas de sua terra.
Com 16 anos, trabalhava na farmácia de seu cunhado, Max Krause, empenhando-se com afinco nesse ofício. Seu grande sonho era ser médico. Não pôde alcançar esse objetivo pela ausência de recursos financeiros, seu pai havia falido.
Aos 21 anos resolve defender a pátria, alistando-se na Força Expedicionária Brasileira – FEB. Participou do teatro de operações de guerra na Itália, de 22 de fevereiro a 29 de agosto de 1945, junto ao III Batalhão, sendo licenciado em 1 de outubro de 1945.
No retorno à terra natal, foi recepcionado pela sociedade itaquiense com um baile de recepção e de boas vindas, organizado pela sua futura esposa, senhorita Maria do Horto Moretti, também filha de Itaqui.
Em 28 de maio de 1949 contrai núpcias com Maria do Horto.
Nesta ocasião, prestou concurso e foi aprovado no Banco do Brasil, nomeado para assumir o posto da União da Vitória, Paraná. Lá nasceu seu primogênito, José Alberto.
Estando Maria do Horto grávida, à espera do segundo filho, Ênio, que tanto amava sua terra natal, fez questão que este filho viesse a nascer em Itaqui. Assim, Maria do Horto foi levada a Itaqui para o seu segundo parto, e nasce Elizabeth, a única mulher do casal.
Nesse período, a família assume a guarda da afilhada Maria, que passar a morar com eles.
É transferido para Porto Alegre, instalando-se com a família no bairro da Glória, próximo a outra de suas paixões, o Grêmio Futebol Porto Alegrense. Também em Porto Alegre nasce o último filho do casal, que levaria o nome do pai, em sua homenagem – Ênio Sayago Jr.
Amigos insistiram que se candidatasse à prefeitura de Itaqui, filiando-se ao PTB, que lhe estendeu convite. É eleito para o período de 1956 a 1960, sendo seu vice, o Dr. Sany Fontoura Silva.
Ao ser empossado na prefeitura, Ênio Sayago tinha uma visão humanística e pública.  Entre suas ações de governo que podem ser salientadas situam-se, entre outras,: praça para as crianças, casa para todos, espécies de programas governamentais.
Dava forte apoio aos pequenos agricultores e utilizava as máquinas da prefeitura em empréstimos. O agricultor financiava o diesel e a diária do maquinista, somente nos finais de semana.
Encerrado o mandato, retorna a Porto Alegre com a família. Assume no Banco do Brasil a função de instalador de agências, em 1960. Nessa função, muda-se novamente com a família para União da Vitória, PR.
Em setembro desse mesmo anto assume a instalação da agência de Pato Branco, no mesmo estado. Esta agência é inaugurada pela então presidente da República, João Goulart.
Numa de suas constantes  viagens a seu torrão natal, volta em companhia da pequena Maria Ivone, que é mais uma a agregar à\ família.
Com as mudanças ocorridas na ocasião, é transferido para Porto Alegre.
Desgostoso com as alterações políticas, licencia-se do Banco do Brasil e muda com a família para a cidade do Rio de Janeiro.
Sofre, então, os primeiros sintomas de doença grave. Resolve mudar para cidade de São Paulo, onde existia o melhor centro cardiológico do país.
Reassume suas funções no Banco do Brasil, porém em 1971 sofre uma trombose grave, com lesões sérias, adiando seu sonho de voltar para Itaqui.
Nesse período, aposenta-se por invalidez, mas em todas as férias escolares dos filhos, trazia-os pra rever a terra natal, sua querida Itaqui.
Em sua última viagem, hospedado na casa de Helena Schenini Moretti, conhece um guri que o encantou: Paulo Roberto Cabral, e pede permissão a sua mãe para levá-lo a São Paulo como sua companhia. Era mais um membro a somar à família.
Em 1975 perde a visão totalmente, e Paulo Roberto assume as leituras diárias de quatro jornais, um hábito seu.
Aos 16 de outubro de 1978, fecha seus olhos para o sempre, em São Paulo. Foi cremado e suas cinzas repousam no cemitério Getsmani. Deixou à esposa e filhos o exemplo de imenso amor à sua terra natal, sua amada Itaqui.
Obs.; Este texto foi organizado pela família de Ênio Sayago e recolhido por Paulo Roberto Cabral, que em 2011 nos enviou.

Hoje, em Itaqui, o nome Ênio Sayago faz parte de um conhecido bairro, assim como do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Vila Ênio Sayago, uma das maiores campeãs do carnaval de rua de Itaqui.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Da palmatória ao data show - sempre professor!

DA PALMATÓRIA AO DATA SHOW – SEMPRE PROFESSOR!
Prof.º Paulo Santos
No 15 de outubro é comemorado o Dia do Professor. No Brasil, não há muitos motivos para se comemorar, tendo em face o descaso com que essa classe é tratada. É na verdade um magistério. E olha que tem que ter vocação, hein! 
Folheando as amarelas páginas do passado, vamos encontrar registros pitorescos a cerca do magistério e das condições que o profissional dessa área convivia. Itaqui, antes de sua emancipação já recebia por parte do governo provincial algum tipo de atendimento. Professores avulsos atendiam aulas de meninos e meninas.
Em 1840, uma comissão examinava o professor Joaquim José de Lacerda para o exercício das primeiras letras à freguesia de Itaqui, foi aprovado e nomeado. Mais tarde, a 13 de julho de 1846, a Câmara de São Borja indicava ao governo provincial, José Gualberto da Fontoura para reger a escola masculina de primeiras letras da capela de Itaqui, juntamente com sua esposa, Maria Eulália da Fontoura Vasconcelos, para a escola feminina.
Quando Itaqui se emancipou de São Borja, a governo da Província fez a nomeação do primeiro professor público de Itaqui, o poeta romântico Pedro Antonio de Miranda. Olhem, caríssimos leitores! A coisa já era complicada desde o início dos tempos por aqui. Pedro Antonio de Miranda não ficou mais do que um ano na classe. Abandonou as aritméticas, as tabuadas, o quadro-negro, os bancos, as palmatórias e as canetaa à pena, a luz à vela de sebo de porco e “deitou o cabelo”, numa expressão bem coloquial fronteiriça.
Abandonou o magistério pelo baixo salário e foi ganhar dinheiro como escrivão de cartório. Nesse período, a senhora Fausta do Carmo é indicada para dar aula embora não fosse habilitada. Era de Porto Alegre. Vinha com a indicação de alta autoridade da capital do Estado, o Dr. Luiz da Silva Flores, com data de 20 de agosto de 1859. Afinal, a educação naqueles tempos ainda estava em fase embrionária.
No início da República, 1889, por exemplo, as estatísticas mostravam que havia no Rio Grande do Sul uma taxa de 85% de analfabetismo. Antes, o governo republicano de Bento Gonçalves e Domingos de Almeida ensaiava um arremedo de estrutura da educação, criando aulas públicas em muitas localidades do interior rio-grandense.
O primeiro Regulamento para as Escolas Municipais, em Itaqui, surgiu no governo do intendente Cel. Felipe Nery de Aguiar, através do Ato 54, de 26 de julho de 1898. Algumas nomeações começam a ser feitas antes desse período, trazendo professoras de fora de Itaqui para suprirem as escolas então criadas já que no município não havia pessoal qualificado. A senhora Clodomira Affonso de Miranda, em 19 de abril de 1888 requer trabalhar na cadeira mista do primário da cidade de Itaqui, vindo de Porto Alegre. Cita-se, também, idêntica situação, um pouco antes, da professora Castorina Barbosa de Miranda, esposa de Pedro Antonio de Miranda, sendo contratada como professora municipal. O professor Joaquim Pedro do Prado requer sua contratação em 8 de outubro de 1888.
Tempo de curiosidades! Encontramos um inquérito de 1939, em que um cidadão queixa-se ao prefeito, Dr.º Otávio Silveira, que determinada professora em determinada escola do interior de Itaqui aplicava castigos corporais em seus alunos, utilizando a palmatória e joelhos no milho. A palmatória da dita professora, acreditem, era de pau-ferro. Pobre gurizada! Exageros à parte, vivemos num tempo de liberdade, e isso é salutar, embora pouco disso tenha melhorado a educação. Não sei! Temos data show, pen drive, pincel atômico, videoaulas, teleconferência. E daí? A burrice campeia!
Sou filho e neto de professoras. Muito disso me orgulho. Minha mãe, Élvia Corrêa dos Santos, nomeada em 1949, no governo do Dr.º Togo Barbosa. Minha avó, Virgilina Corrêa dos Santos, uma das mais antigas nomeadas, entrando no magistério em 1924 e aposentando-se com 32 anos de efetivo exercício da função. Só posso me orgulhar disso e quero poder continuar honrando essa herança bonita que nos legaram. Ainda que sejamos pouco valorizados.

 (texto de nossa obra Agenda 150/2008, com alguns ajustes)

Arquiteto Pascual Minoggio

                                                 ARQUITETO PASCUAL MINOGGIO
Na vanguarda da modernidade itaquiense
Prof.º Paulo Santos
Itaqui precisa lembrar-se de seus antepassados, reverenciá-los com o respeito que merecem. Há tantas mentes brilhantes atuando no espaço territorial do velho Rincão da Cruz, algumas até no ostracismo, outras, na ribalta. E também algumas mentes de isopor se sobrepondo no apogeu da mediocridade.
O passado, da mesma forma, era assim: méritos e vulgaridades. Entre os primeiros, destacamos Pascoal Minoggio, uma das mentes mais fecundas do pretérito itaquiense, interagindo com as inovações estético-científicas.
Pascual Minoggio nasceu em Itaqui, no dia 0l de outubro de l874, sendo batizado em 21 de março de l875.  Seus pais eram Paulo Defendente Minoggio e Catharina Minoggio, naturais da Itália. Nos registros antigos de Itaqui, lá pelos idos de l893 a l895, Paschoal aparece como pedreiro. Mais tarde, estudou e diplomou-se em Arquitetura pela Escola de Belas Artes de Buenos Aires, Argentina. Muitas obras antigas de Itaqui tinham a assinatura de seu pai, Paulo Minoggio.
Retornando a sua terra, destacou-se como um hábil arquiteto, sendo dele a planta do Mercado Público Municipal, inaugurado em 7 de setembro de l909, na administração do intendente Tito Corrêa Lopes, na época uma das maiores obras da arquitetura local.
Traçou ainda o projeto para a construção do edifício do Clube Comercial da cidade de Uruguaiana, sendo até hoje um dos cartões-postais do turismo da fronteira-oeste. As construções mais antigas do centro de Itaqui têm a lavra do emérito arquiteto itaquiense, principalmente as que possuem belos alto-relevos e ornamentos, uma de suas marcas. No cemitério local, túmulos das famílias mais representativas da comunidade levam sua autoria com a marca do neoclássico no contorno das linhas arquitetônicas.
Alguns relatos atestam que Paschoal Minoggio teria instalado o primeiro cinema de Itaqui entre os anos de 1920 a 1922. Também em l922 nossa cidade já contava com a energia elétrica, obra essa que teve a contribuição decisiva do incansável engenheiro. Por muitos anos foi funcionário público, solicitando sua exoneração em 19 de abril de l929, como engenheiro municipal. Um dos intendentes resolve, em determinado período, indenizá-lo pelos seus serviços, pois que trabalhava muitas vezes sem receber nada.
Casou, em Itaqui, com Abrilina Fernandes Lima em l9l2. Do casal conhece-se, por informações, duas filhas: Zair Fernandes Minoggio, casada com Heitor Carlos Klein, e Glória Lima Minoggio, casada, nascida em l9l3. São conhecidos os seguintes irmãos: Arthur Minoggio e Ambrosina Minoggio Tatsch.
Há registro de que Pascual Minoggio assina visto na planta do Chalé dos Barbosa, do Cel. Tristão Pinto Barbosa e filhos, em 2  de fevereiro de 1910, não se sabendo se era o autor. Fazia parte, junto com o Dr.º Osvaldo Degrazia, da “A Construtora”, como um diretor-técnico.
O Jornal de Itaqui, edição de 9 de junho de l925 informa que Pascual tinha uma “estação de rádio” onde as pessoas se aglomeravam, atentas às novidades da época. Hoje temos TV, Internet, naquele tempo a mídia moderna em alta era o rádio.
Paschoal Minoggio, com destacada atuação no cenário público, faleceu em Porto Alegre, aos 68 anos, no mês de julho de l952. O poder público lhe conferiu uma homenagem, batizando uma importante artéria do perímetro urbano, de sentido oeste/leste, como – Rua Pascual Minoggio -, eternizando, assim, o reconhecimento do povo de Itaqui a seu incessante trabalho. Com essa lembrança são evocadas ações desse eminente arquiteto, responsável pelo advento da modernidade no espaço urbano de Itaqui, assim como sua inserção no fomento às novidades da tecnologia.

O Minhocão de Itaqui

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