sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Da palmatória ao data show - sempre professor!

DA PALMATÓRIA AO DATA SHOW – SEMPRE PROFESSOR!
Prof.º Paulo Santos
No 15 de outubro é comemorado o Dia do Professor. No Brasil, não há muitos motivos para se comemorar, tendo em face o descaso com que essa classe é tratada. É na verdade um magistério. E olha que tem que ter vocação, hein! 
Folheando as amarelas páginas do passado, vamos encontrar registros pitorescos a cerca do magistério e das condições que o profissional dessa área convivia. Itaqui, antes de sua emancipação já recebia por parte do governo provincial algum tipo de atendimento. Professores avulsos atendiam aulas de meninos e meninas.
Em 1840, uma comissão examinava o professor Joaquim José de Lacerda para o exercício das primeiras letras à freguesia de Itaqui, foi aprovado e nomeado. Mais tarde, a 13 de julho de 1846, a Câmara de São Borja indicava ao governo provincial, José Gualberto da Fontoura para reger a escola masculina de primeiras letras da capela de Itaqui, juntamente com sua esposa, Maria Eulália da Fontoura Vasconcelos, para a escola feminina.
Quando Itaqui se emancipou de São Borja, a governo da Província fez a nomeação do primeiro professor público de Itaqui, o poeta romântico Pedro Antonio de Miranda. Olhem, caríssimos leitores! A coisa já era complicada desde o início dos tempos por aqui. Pedro Antonio de Miranda não ficou mais do que um ano na classe. Abandonou as aritméticas, as tabuadas, o quadro-negro, os bancos, as palmatórias e as canetaa à pena, a luz à vela de sebo de porco e “deitou o cabelo”, numa expressão bem coloquial fronteiriça.
Abandonou o magistério pelo baixo salário e foi ganhar dinheiro como escrivão de cartório. Nesse período, a senhora Fausta do Carmo é indicada para dar aula embora não fosse habilitada. Era de Porto Alegre. Vinha com a indicação de alta autoridade da capital do Estado, o Dr. Luiz da Silva Flores, com data de 20 de agosto de 1859. Afinal, a educação naqueles tempos ainda estava em fase embrionária.
No início da República, 1889, por exemplo, as estatísticas mostravam que havia no Rio Grande do Sul uma taxa de 85% de analfabetismo. Antes, o governo republicano de Bento Gonçalves e Domingos de Almeida ensaiava um arremedo de estrutura da educação, criando aulas públicas em muitas localidades do interior rio-grandense.
O primeiro Regulamento para as Escolas Municipais, em Itaqui, surgiu no governo do intendente Cel. Felipe Nery de Aguiar, através do Ato 54, de 26 de julho de 1898. Algumas nomeações começam a ser feitas antes desse período, trazendo professoras de fora de Itaqui para suprirem as escolas então criadas já que no município não havia pessoal qualificado. A senhora Clodomira Affonso de Miranda, em 19 de abril de 1888 requer trabalhar na cadeira mista do primário da cidade de Itaqui, vindo de Porto Alegre. Cita-se, também, idêntica situação, um pouco antes, da professora Castorina Barbosa de Miranda, esposa de Pedro Antonio de Miranda, sendo contratada como professora municipal. O professor Joaquim Pedro do Prado requer sua contratação em 8 de outubro de 1888.
Tempo de curiosidades! Encontramos um inquérito de 1939, em que um cidadão queixa-se ao prefeito, Dr.º Otávio Silveira, que determinada professora em determinada escola do interior de Itaqui aplicava castigos corporais em seus alunos, utilizando a palmatória e joelhos no milho. A palmatória da dita professora, acreditem, era de pau-ferro. Pobre gurizada! Exageros à parte, vivemos num tempo de liberdade, e isso é salutar, embora pouco disso tenha melhorado a educação. Não sei! Temos data show, pen drive, pincel atômico, videoaulas, teleconferência. E daí? A burrice campeia!
Sou filho e neto de professoras. Muito disso me orgulho. Minha mãe, Élvia Corrêa dos Santos, nomeada em 1949, no governo do Dr.º Togo Barbosa. Minha avó, Virgilina Corrêa dos Santos, uma das mais antigas nomeadas, entrando no magistério em 1924 e aposentando-se com 32 anos de efetivo exercício da função. Só posso me orgulhar disso e quero poder continuar honrando essa herança bonita que nos legaram. Ainda que sejamos pouco valorizados.

 (texto de nossa obra Agenda 150/2008, com alguns ajustes)

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