domingo, 8 de outubro de 2017

Coronel Felipe Nery de Aguiar

CORONEL FELIPE NERY DE AGUIAR
Primeiro intendente de Itaqui. Líder político-militar da República.





               Prof.º Paulo Santos
A história do Coronel Felipe Nery de Aguiar é riquíssima, entretanto pouco conhecida do grande público. Aliás, tudo o que pertence ao passado fica à margem das lembranças. Isso é material para pesquisadores e curiosos. Às vezes, até a família esquece de seus antepassados, o tempo moderno valoriza o efêmero; o que ficou para trás parece que perde sua validade. Entretanto, resgatar o passado e trazê-lo de uma forma menos saudosista é função de todos. Assim, retomar a figura de Felipe Nery de Aguiar é dar a conhecer uma personagem muito atuante na história antiga de Itaqui, naqueles conturbados tempos republicanos.
Existem muitos dados sobre Felipe Nery de Aguiar, alguns faltando exatidão. Há relato de que Felipe teria nascido na Fazenda Santa Esperança, localizada a poucas léguas de Recreio (Maçambará), na Sesmaria Bittencourt. Existem, nas fontes, três datas de nascimento: a 1.ª – 26 de maio de 1853; a 2.ª – 7 de março de 1845. Uma terceira: Há o batizado de Felipe Pinto de Aguiar (sem o Nery), em 30 de outubro de 1842, na Catedral de Sam Antonio de Padua, Concórdia, província de Entre Rios, Argentina. Aparece o nome correto de seu pai, Braz Pinto de Aguiar. Nem se sabe por que existe esta disparidade de informações. Por que teria sido batizado na Argentina se teria nascido em Itaqui ou Santa Maria? Outros relatos dizem que Felipe Nery teria vindo de Santa Maria, terra de seus pais.
Era filho de Braz Pinto de Aguiar e Maria Josepha Lopes de Aguiar.
Os avôs paternos eram o Capitão de Milícias, Baltazar Pinto de Aguiar, natural da Bahia, e Luiza Francisca Cabral, de Cachoeira, província do Rio Grande do Sul.
Os bisavôs paternos eram Baltazar Antonio Pinto, de Portugal, e Adriana Felícia de Santana, da Bahia, Brasil.
A mãe de Felipe, Maria Josepha Lopes, era filha de José Lopes de Paula (irmão de Atanásio José Lopes) e Maria Antonia Bittencourt (prima-irmã de José Lopes de Paula), originários de Santa Maria da Boca do Monte. A avó paterna, mãe de Braz, era filha de Antonio Cabral, de Cachoeira e Eulália Maria do Espírito Santo, de Viamão.
 A família de Felipe Nery veio de Santa Maria quando a Revolução Farroupilha estava destruindo as famílias e propriedades, principalmente de quem era monarquista (no caso do avô de Felipe) ou até mesmo republicano. O bisavô de Felipe Nery, O Juiz de Paz, Capitão de Milícias Baltazar Pinto de Aguiar, era inimigo ferrenho do líder revolucionário Bento Gonçalves, havendo correspondências que se referem a isso. O referido Juiz de Paz, radicado na localidade de Pau Fincado, arregimentava forças para lutar contra os rebeldes republicanos. Naquele período, Baltazar Pinto de Aguiar era aliado de Bento Manuel.
Felipe Nery de Aguiar pertenceu às unidades do Exército brasileiro como fez parte dos efetivos da Guarda Nacional, como Capitão Honorário.
Em 10 de janeiro de 1879 prestou juramento como vereador suplente. Em 1881 recebia diploma de vereador efetivo. Fez parte dos Clubes Abolicionista e Republicano. Exerceu o cargo provisório de delegado de Polícia no período de 1890. Foi também Juiz de Paz, em 1889. Estava presente na sessão da Câmara de Itaqui que aderiu à República, em 18 de novembro de 1889.
Como Intendente, o Coronel Felipe dedicou especial atenção à Praça Central, que na época recebeu o nome de Marechal Deodoro, criando jardins sob a supervisão de moças da sociedade itaquiense. Criou mais uma aula pública para meninos, nomeia professor, cria o 1.º Regulamento para as Escolas Municipais, regula os contratos dos passos municipais, solicita demarcação dos limites do Município e das estradas gerais de Itaqui, assinou contratos para iluminação pública dos lampiões de querosene, contrata o primeiro advogado para a Intendência, além de limpeza de sangas e ruas, serviços básicos daquele período.
Em 1895, tempo do Cel. Felipe de Aguiar, a Prefeitura, denominada de Intendência possuía 8 servidores e funcionava das 9 às 15 horas.
Embora não se conheça com exatidão a carreira militar de Felipe Nery, encontramos na Ordens do Dia, do Conde D’Eu, alguns dados, assim como dados do Diário Oficial da União, por exemplo:
Em 14 de julho de 1869 é promovido de Alferes Secretário para Tenente Secretário, conforme Ordem do Dia N.º 27, do Quartel General de Pirayu, no Paraguai;
Em 01 de janeiro de 1870 é promovido de Tenente para Capitão, através da Ordem do Dia N.º 42, do Quartel General Curuguaty, no teatro da Guerra do Paraguai;
Em 21 de janeiro de 1870, o Tenente Fellipe Nery de Aguiar, do 11.º Corpo de Cavalaria, foi designado para assistente de deputado do quartel-mestre junto ao comando da 4.ª Brigada da mesma arma, através da Ordem do Dia N.º 47, do Quartel General da Vila do Rosário;
Em 1880, promovido a Major Ajudante da Guarda Nacional da comarca de Itaqui, RS;
Em 29 de setembro de 1894, através de decreto do Ministério da Guerra, publicado no Diário Oficial da União, promovido de Tenente-Coronel a Coronel, pelos relevantes serviços no estado do Rio Grande do Sul durante a Revolta Federalista.
Foi nomeado pelo presidente da província, como primeiro intendente de Itaqui, prestando compromisso em 1.º de novembro de 1892. Neste mesmo ano foi promulgada, em seu governo, a 1.ª Lei Orgânica do Município. Em 1896 é eleito para seu segundo mandato, não podendo concluí-lo devido a seu falecimento em 1900.
Em 13 de março de 1892 participa junto com outras lideranças políticas e militares de importante reunião em Caceros, província de Corrientes(Argentina), que decidiu por fazer a revolução com o objetivo de restaurar a ordem, em virtude dos protestos e luta armada organizados pelo Partido Federalista, cujo líder Silveira Martins pregava contra a política de Júlio de Castilhos. Eram as tratativas que originaram a Revolução Federalista com repercussão em toda a província do Rio Grande do Sul, com combates em Itaqui. O Coronel Felipe estava entre os organizadores desta contrarrevolução.
O Coronel Felipe Nery de Aguiar é chamado para comandar a 6.ª Brigada subordinada à Divisão do Norte, sob o comando de Pinheiro Machado. O Intendente Felipe Nery pede licença de seis meses para se integrar a essa força, havendo notícias de combates onde o Cel. Felipe de Aguiar é elogiado.
Comprovadamente participou da Guerra do Paraguai, recebendo condecoração em virtude disso. Em 26 de setembro de 1893 ocorreu um combate entre as forças governistas, comandadas pelo Tenente-coronel Felipe de Aguiar contra os revolucionários de Gomercindo Saraiva, em Itaqui. As forças legais foram derrotadas. Felipe Nery de Aguiar reorganizou um contingente das forças derrotadas dando-lhe o nome de “Esquadrão Itaquiense”. Havia na cidade o 11.º Corpo Provisório sob o comando do Tenente-coronel Aureliano Pinto Barbosa.
Em Itaqui, casou com Cândida Lopes de Aguiar, filha de Simeão Estelita Lopes e Maria Teodora Lopes, de Santa Maria. Tiveram uma única filha: Felicidade, que ao casar com o escrivão Maurílio Xavier Caldeira, passou a assinar-se Felicidade de Aguiar Caldeira. Felicidade e Maurílio tiveram como filhos: Elisa, Hilda, Alda, Otília e Felipe Nery de Aguiar, falecido precocemente aos 20 anos.
Da filha Elisa casada com Paschoal Degrazia nasceu, entre outros, o popular Seu Roquinho, proprietário de lotérica, esposo de Dilema Dellamora Degrazia, muito querido pela comunidade. Antes do seu falecimento, conseguimos falar com o mesmo a cerca de seu bisavô ilustre. Dizia-me ele que pouca coisa sabia do mesmo. A família não costumava preservar a história passada. Além disso, também falecida, Dona Hilda Degrazia, bisneta de Felipe, moradora na rua Independência, com quem tivemos a oportunidade de conversar em vida. Ainda vive outra bisneta, Dona Gilda Degrazia Saad, viúva do saudoso Dr.º Chaphick Saad.
O Coronel Felipe Nery de Aguiar deve ter granjeado a simpatia dos órgãos vivos do município tanto que recebeu após sua morte, várias homenagens como, por exemplo: uma rua de sentido leste/oeste com o seu nome; o batismo da Escola Isolada Coronel Felipe de Aguiar, em 1953, no Curuçu e a homenagem com o nome da Escola Estadual Felipe Nery de Aguiar, em 1963, próxima ao centro da cidade, cuja primeira diretora, professora Gilda Caldeira Degrazia, era sua bisneta.
Uma de suas bisnetas, já falecida, contou-nos um dia que a família guardava como relíquia uma espada do Coronel Felipe Nery de Aguiar, que teria usado na Guerra do Paraguai.
Este contava aos seus descendentes que em determinado período, num momento de descontração entre as peleias, ele teria desembainhado a espada e tirado num único golpe o quepe de um de seus soldados, apenas para descontrair. Contava essa história e costumava rir muito. Afinal, a guerra é dura e não dava tempo para brincadeiras. A família recolheu esse depoimento e guardava com carinho a respectiva espada, que na época a referida bisneta manifestou a intenção de doá-la ao município desde que houvesse uma garantia da guarda e do uso adequado de tamanha relíquia. Não houve interesse do poder público para receber tal relíquia.
O pai de Felipe Nery, o também militar Braz Pinto de Aguiar era filho do Tenente de Milícias, Baltazar Pinto de Aguiar. Baltazar era, por informações orais familiares, irmão de meu tetravô paterno, Ignácio Pinto de Aguiar. Os relatos indicam que Baltazar eventualmente vinha até Itaqui e procurava seu irmão. Ignácio, por ocasião de seu testamento, nomeia o sobrinho-neto Felipe Nery de Aguiar como seu testamenteiro em 1883, no Rincão da Árvore, vindo a falecer em 1886. Por outro lado, o Coronel Felipe Nery de Aguiar era primo-irmão de meu outro trisavô paterno Augusto Silveira Dutra.
O Coronel Felipe Nery de Aguiar faleceu em Itaqui, dia 5 de janeiro de 1900, de congestão cerebral, numa sexta-feira, ocorrendo os funerais no sábado, às 9h da manhã, morte atestada pelo Dr.º Afonso Escobar.
Itaqui precisa conhecer mais sobre essa figura de singular atuação na vida político-histórica de um período de intensas conturbações – o advento da República. Outrossim, a República destituiu a Monarquia e inicia uma nova fase na história do Rincão da Cruz, que literariamente poderíamos denominar como “entre a cruz e a espada”.
Numa conotação estilística, pode-se abstrair que seria a cruz missioneira do pueblo de Itaquy das doutrinas cristãs da Companhia de Jesus e a espada dos republicanos, aqui representada por essa relíquia preservada pela família do Coronel Felipe Nery de Aguiar.






4 comentários:

  1. A espada encontrasse comigo. Foi doada pela dona Ilza para que eu a guardasse. Sou casado com uma sobrinha neta dela.

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    1. Grato pelo comentário. Continue seguindo nosso blogger e, se não for pedir muito, poste uma foto desta relíquia para que possamos reproduzir para todos os aficionados por história, essa espada do Cle Felipe de Aguiar. ok? por

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  2. Bela história,estou a pouco em Itaqui e fiquei maravilhado com a vasta história do município

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  3. História maravilhosa... Deveríamos estudar mais sobre sobre Itaqui para repassarmos para nos filhos, pois são histórias lindas.

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