CORONEL FELIPE NERY DE AGUIAR
Primeiro intendente de Itaqui. Líder político-militar da República.
Prof.º Paulo Santos
A história do Coronel
Felipe Nery de Aguiar é riquíssima, entretanto pouco conhecida do grande
público. Aliás, tudo o que pertence ao passado fica à margem das lembranças. Isso
é material para pesquisadores e curiosos. Às vezes, até a família esquece de
seus antepassados, o tempo moderno valoriza o efêmero; o que ficou para trás
parece que perde sua validade. Entretanto, resgatar o passado e trazê-lo de uma
forma menos saudosista é função de todos. Assim, retomar a figura de Felipe
Nery de Aguiar é dar a conhecer uma personagem muito atuante na história antiga
de Itaqui, naqueles conturbados tempos republicanos.
Existem muitos dados sobre
Felipe Nery de Aguiar, alguns faltando exatidão. Há relato de que Felipe teria
nascido na Fazenda Santa Esperança, localizada a poucas léguas de Recreio
(Maçambará), na Sesmaria Bittencourt. Existem, nas fontes, três datas de
nascimento: a 1.ª – 26 de maio de 1853; a 2.ª – 7 de março de 1845. Uma
terceira: Há o batizado de Felipe Pinto de Aguiar (sem o Nery), em 30 de
outubro de 1842, na Catedral de Sam Antonio de Padua, Concórdia, província de
Entre Rios, Argentina. Aparece o nome correto de seu pai, Braz Pinto de Aguiar.
Nem se sabe por que existe esta disparidade de informações. Por que teria sido
batizado na Argentina se teria nascido em Itaqui ou Santa Maria? Outros relatos
dizem que Felipe Nery teria vindo de Santa Maria, terra de seus pais.
Era filho de Braz Pinto de
Aguiar e Maria Josepha Lopes de Aguiar.
Os avôs paternos eram o
Capitão de Milícias, Baltazar Pinto de Aguiar, natural da Bahia, e Luiza
Francisca Cabral, de Cachoeira, província do Rio Grande do Sul.
Os bisavôs paternos eram
Baltazar Antonio Pinto, de Portugal, e Adriana Felícia de Santana, da Bahia,
Brasil.
A mãe de Felipe, Maria
Josepha Lopes, era filha de José Lopes de Paula (irmão de Atanásio José Lopes)
e Maria Antonia Bittencourt (prima-irmã de José Lopes de Paula), originários de
Santa Maria da Boca do Monte. A avó paterna, mãe de Braz, era filha de Antonio
Cabral, de Cachoeira e Eulália Maria do Espírito Santo, de Viamão.
A família de Felipe Nery veio de Santa Maria
quando a Revolução Farroupilha estava destruindo as famílias e propriedades,
principalmente de quem era monarquista (no caso do avô de Felipe) ou até mesmo
republicano. O bisavô de Felipe Nery, O Juiz de Paz, Capitão de Milícias
Baltazar Pinto de Aguiar, era inimigo ferrenho do líder revolucionário Bento
Gonçalves, havendo correspondências que se referem a isso. O referido Juiz de
Paz, radicado na localidade de Pau Fincado, arregimentava forças para lutar
contra os rebeldes republicanos. Naquele período, Baltazar Pinto de Aguiar era
aliado de Bento Manuel.
Felipe Nery de Aguiar
pertenceu às unidades do Exército brasileiro como fez parte dos efetivos da
Guarda Nacional, como Capitão Honorário.
Em 10 de janeiro de 1879
prestou juramento como vereador suplente. Em 1881 recebia diploma de vereador
efetivo. Fez parte dos Clubes Abolicionista e Republicano. Exerceu o cargo
provisório de delegado de Polícia no período de 1890. Foi também Juiz de Paz,
em 1889. Estava presente na sessão da Câmara de Itaqui que aderiu à República,
em 18 de novembro de 1889.
Como Intendente, o Coronel
Felipe dedicou especial atenção à Praça Central, que na época recebeu o nome de
Marechal Deodoro, criando jardins sob a supervisão de moças da sociedade
itaquiense. Criou mais uma aula pública para meninos, nomeia professor, cria o
1.º Regulamento para as Escolas Municipais, regula os contratos dos passos
municipais, solicita demarcação dos limites do Município e das estradas gerais
de Itaqui, assinou contratos para iluminação pública dos lampiões de querosene,
contrata o primeiro advogado para a Intendência, além de limpeza de sangas e
ruas, serviços básicos daquele período.
Em 1895, tempo do Cel.
Felipe de Aguiar, a Prefeitura, denominada de Intendência possuía 8 servidores
e funcionava das 9 às 15 horas.
Embora não se conheça com
exatidão a carreira militar de Felipe Nery, encontramos na Ordens do Dia, do
Conde D’Eu, alguns dados, assim como dados do Diário Oficial da União, por
exemplo:
Em 14 de julho de 1869 é
promovido de Alferes Secretário para Tenente Secretário, conforme Ordem do Dia
N.º 27, do Quartel General de Pirayu, no Paraguai;
Em 01 de janeiro de 1870 é
promovido de Tenente para Capitão, através da Ordem do Dia N.º 42, do Quartel
General Curuguaty, no teatro da Guerra do Paraguai;
Em 21 de janeiro de 1870,
o Tenente Fellipe Nery de Aguiar, do 11.º Corpo de Cavalaria, foi designado
para assistente de deputado do quartel-mestre junto ao comando da 4.ª Brigada
da mesma arma, através da Ordem do Dia N.º 47, do Quartel General da Vila do
Rosário;
Em 1880, promovido a Major
Ajudante da Guarda Nacional da comarca de Itaqui, RS;
Em 29 de setembro de 1894,
através de decreto do Ministério da Guerra, publicado no Diário Oficial da
União, promovido de Tenente-Coronel a Coronel, pelos relevantes serviços no
estado do Rio Grande do Sul durante a Revolta Federalista.
Foi nomeado pelo
presidente da província, como primeiro intendente de Itaqui, prestando
compromisso em 1.º de novembro de 1892. Neste mesmo ano foi promulgada, em seu
governo, a 1.ª Lei Orgânica do Município. Em 1896 é eleito para seu segundo
mandato, não podendo concluí-lo devido a seu falecimento em 1900.
Em 13 de março de 1892
participa junto com outras lideranças políticas e militares de importante
reunião em Caceros, província de Corrientes(Argentina), que decidiu por fazer a
revolução com o objetivo de restaurar a ordem, em virtude dos protestos e luta
armada organizados pelo Partido Federalista, cujo líder Silveira Martins
pregava contra a política de Júlio de Castilhos. Eram as tratativas que
originaram a Revolução Federalista com repercussão em toda a província do Rio
Grande do Sul, com combates em Itaqui. O Coronel Felipe estava entre os
organizadores desta contrarrevolução.
O Coronel Felipe Nery de
Aguiar é chamado para comandar a 6.ª Brigada subordinada à Divisão do Norte,
sob o comando de Pinheiro Machado. O Intendente Felipe Nery pede licença de
seis meses para se integrar a essa força, havendo notícias de combates onde o
Cel. Felipe de Aguiar é elogiado.
Comprovadamente participou
da Guerra do Paraguai, recebendo condecoração em virtude disso. Em 26 de
setembro de 1893 ocorreu um combate entre as forças governistas, comandadas
pelo Tenente-coronel Felipe de Aguiar contra os revolucionários de Gomercindo
Saraiva, em Itaqui. As forças legais foram derrotadas. Felipe Nery de Aguiar
reorganizou um contingente das forças derrotadas dando-lhe o nome de “Esquadrão
Itaquiense”. Havia na cidade o 11.º Corpo Provisório sob o comando do
Tenente-coronel Aureliano Pinto Barbosa.
Em Itaqui, casou com
Cândida Lopes de Aguiar, filha de Simeão Estelita Lopes e Maria Teodora Lopes,
de Santa Maria. Tiveram uma única filha: Felicidade, que ao casar com o
escrivão Maurílio Xavier Caldeira, passou a assinar-se Felicidade de Aguiar
Caldeira. Felicidade e Maurílio tiveram como filhos: Elisa, Hilda, Alda, Otília
e Felipe Nery de Aguiar, falecido precocemente aos 20 anos.
Da filha Elisa casada com
Paschoal Degrazia nasceu, entre outros, o popular Seu Roquinho, proprietário de
lotérica, esposo de Dilema Dellamora Degrazia, muito querido pela comunidade.
Antes do seu falecimento, conseguimos falar com o mesmo a cerca de seu bisavô
ilustre. Dizia-me ele que pouca coisa sabia do mesmo. A família não costumava
preservar a história passada. Além disso, também falecida, Dona Hilda Degrazia,
bisneta de Felipe, moradora na rua Independência, com quem tivemos a oportunidade
de conversar em vida. Ainda vive outra bisneta, Dona Gilda Degrazia Saad, viúva
do saudoso Dr.º Chaphick Saad.
O Coronel Felipe Nery de
Aguiar deve ter granjeado a simpatia dos órgãos vivos do município tanto que
recebeu após sua morte, várias homenagens como, por exemplo: uma rua de sentido
leste/oeste com o seu nome; o batismo da Escola Isolada Coronel Felipe de
Aguiar, em 1953, no Curuçu e a homenagem com o nome da Escola Estadual Felipe
Nery de Aguiar, em 1963, próxima ao centro da cidade, cuja primeira diretora,
professora Gilda Caldeira Degrazia, era sua bisneta.
Uma de suas bisnetas, já
falecida, contou-nos um dia que a família guardava como relíquia uma espada do
Coronel Felipe Nery de Aguiar, que teria usado na Guerra do Paraguai.
Este contava aos seus
descendentes que em determinado período, num momento de descontração entre as
peleias, ele teria desembainhado a espada e tirado num único golpe o quepe de
um de seus soldados, apenas para descontrair. Contava essa história e costumava
rir muito. Afinal, a guerra é dura e não dava tempo para brincadeiras. A
família recolheu esse depoimento e guardava com carinho a respectiva espada,
que na época a referida bisneta manifestou a intenção de doá-la ao município
desde que houvesse uma garantia da guarda e do uso adequado de tamanha
relíquia. Não houve interesse do poder público para receber tal relíquia.
O pai de Felipe Nery, o
também militar Braz Pinto de Aguiar era filho do Tenente de Milícias, Baltazar
Pinto de Aguiar. Baltazar era, por informações orais familiares, irmão de meu
tetravô paterno, Ignácio Pinto de Aguiar. Os relatos indicam que Baltazar
eventualmente vinha até Itaqui e procurava seu irmão. Ignácio, por ocasião de
seu testamento, nomeia o sobrinho-neto Felipe Nery de Aguiar como seu testamenteiro
em 1883, no Rincão da Árvore, vindo a falecer em 1886. Por outro lado, o
Coronel Felipe Nery de Aguiar era primo-irmão de meu outro trisavô paterno
Augusto Silveira Dutra.
O Coronel Felipe Nery de
Aguiar faleceu em Itaqui, dia 5 de janeiro de 1900, de congestão cerebral, numa
sexta-feira, ocorrendo os funerais no sábado, às 9h da manhã, morte atestada
pelo Dr.º Afonso Escobar.
Itaqui precisa conhecer
mais sobre essa figura de singular atuação na vida político-histórica de um
período de intensas conturbações – o advento da República. Outrossim, a
República destituiu a Monarquia e inicia uma nova fase na história do Rincão da
Cruz, que literariamente poderíamos denominar como “entre a cruz e a espada”.
Numa conotação
estilística, pode-se abstrair que seria a cruz missioneira do pueblo de Itaquy das doutrinas cristãs
da Companhia de Jesus e a espada dos republicanos, aqui representada por essa
relíquia preservada pela família do Coronel Felipe Nery de Aguiar.
A espada encontrasse comigo. Foi doada pela dona Ilza para que eu a guardasse. Sou casado com uma sobrinha neta dela.
ResponderExcluirGrato pelo comentário. Continue seguindo nosso blogger e, se não for pedir muito, poste uma foto desta relíquia para que possamos reproduzir para todos os aficionados por história, essa espada do Cle Felipe de Aguiar. ok? por
ExcluirBela história,estou a pouco em Itaqui e fiquei maravilhado com a vasta história do município
ResponderExcluirHistória maravilhosa... Deveríamos estudar mais sobre sobre Itaqui para repassarmos para nos filhos, pois são histórias lindas.
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