AUGUSTO
SILVEIRA DUTRA
Uma
partida de salteadores invadindo fazenda no Passo da Cachoeira! 1897!
Prof.º Paulo
Santos
O
passado rio-grandense é marcado principalmente por peleias. Seja no
enfrentamento dos contrários para defenderem ideologias políticas, seja para fixar
territórios, seja para preservar a honra, o patrimônio e, mais ainda, para
consubstanciar a natureza guerreira do gaúcho.
Os
confrontos para definir as fronteiras, os movimentos para definição de
tratados, a Guerra Guaranítica, a Revolução Farroupilha, a Invasão Paraguaia, a
Federalista e outros movimentos menores.
Quando
não tinham peleias legais, os gaúchos inventavam. Após o cessar das
hostilidades da Revolução Federalista, onde chimangos e maragatos se
digladiaram numa sanha fratricida, os moradores dessas densas sesmarias ficaram
receosos. Bandos armados invadiam fazendas, roubavam e exterminam famílias
inteiras.
Uma
das fazendas invadidas em Itaqui foi a de meu trisavô paterno, Augusto Silveira
Dutra, primo do Coronel Felipe Nery de Aguiar, um dos líderes republicanos
defensor da doutrina de Júlio de Castilhos.
Em
1897, a fazenda de Augusto fora atacada por uma partida de salteadores, no
local denominado Passo da Cachoeira. Recolhi de um tio-avô este relato. Eram em
torno de 12 homens, todos com “a cara pintada de preto e encarnado”, conforme
depoimento.
No
dia do ataque, Marcino de Aguiar, filho de João Pinto de Aguiar e Maria
Joaquina de Medeiros, neto de Ignacio Pinto de Aguiar (meu tetravô paterno) e
outro menino, de apelido Bilica, estavam no mato cortando lenha. Uma filha de
Delfino, irmão de Augusto, foi até eles e avisou que os bandidos estavam
atacando a sede da fazenda.
Eles,
então, correram para o local. Ali, o velho Augusto comandava a defesa da casa. No
decorrer do episódio, o estancieiro incentivava a Marcino, novo, imaturo e
nervoso e mais o outro garoto a reagirem. Ele gritava: “ - Não se entreguemo
pra bandido! Não se entreguemo pra bandido!”
No
confronto, Augusto foi ferido numa perna e continuou reagindo, pedindo que as
mulheres municiassem a arma com que atirava na quadrilha, sentado em uma cadeira.
As mulheres também preparavam água fervida para atirar nos invasores. Coisa feia
o quadro!
A
esposa de Augusto também foi atingida. Os defensores da casa acertaram um dos
invasores. O grupo de salteadores, não podendo socorrer ao ferido, resolveu
degolá-lo para que, posteriormente, não os delatassem.
Meu
bisavô Higino Francisco dos Santos e Tomé Oviedo também estavam na confusão.
Informações algumas indicavam que um dos quadrilheiros seria um genro de
Augusto, de sobrenome Ramos. Existe, inclusive, um relato policial desse
incidente. Augusto Silveira Dutra teria ficado “manco” de uma perna devido ao
tiro sofrido.
Ele
fora anteriormente integrante da Guarda Nacional de Itaqui, por volta de 1879,
um furriel da 4.ª Cia do Batalhão do Serviço Ativo. Em documentos de 1906,
Augusto aparece nomeado como Tenente-Coronel do Estado Maior. Esse, assim, como
outros, era uma graduação efêmera, dada ao sabor das refregas e com interesses
imediatos e específicos. É claro que ele não era um oficial de carreira, apenas
um título recebido naquele período para chefiar, como oficial, determinado
regimento. Seria uma “graduação arrumada”!
Como
o clima de tensão e insegurança era frequente naquele período, seu primo, o
Coronel Felipe Nery de Aguiar, intendente de Itaqui e líder político dos
republicanos, eventualmente autorizava que um soldado da Guarda Municipal
fizesse a vigilância da fazenda de Augusto, no Rincão da Cachoeira. Benesses
entre parentes!
A
reação de Augusto e sua gente impediu que a quadrilha invadisse a propriedade
e cometesse as atrocidades que bandos dessa natureza frequentemente cometiam.
No meio do entrevero choveram balas de tudo que era calibre, panelas de água
fervente, muita munição e gritos de “não se entreguemo pra bandido”!
E
não se entregaram mesmo! Esses flashes do passado são singulares.
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