sábado, 30 de setembro de 2017

Augusto Silveira Dutra

AUGUSTO SILVEIRA DUTRA

Uma partida de salteadores invadindo fazenda no Passo da Cachoeira! 1897!

Prof.º Paulo Santos

O passado rio-grandense é marcado principalmente por peleias. Seja no enfrentamento dos contrários para defenderem ideologias políticas, seja para fixar territórios, seja para preservar a honra, o patrimônio e, mais ainda, para consubstanciar a natureza guerreira do gaúcho.
Os confrontos para definir as fronteiras, os movimentos para definição de tratados, a Guerra Guaranítica, a Revolução Farroupilha, a Invasão Paraguaia, a Federalista e outros movimentos menores.
Quando não tinham peleias legais, os gaúchos inventavam. Após o cessar das hostilidades da Revolução Federalista, onde chimangos e maragatos se digladiaram numa sanha fratricida, os moradores dessas densas sesmarias ficaram receosos. Bandos armados invadiam fazendas, roubavam e exterminam famílias inteiras.
Uma das fazendas invadidas em Itaqui foi a de meu trisavô paterno, Augusto Silveira Dutra, primo do Coronel Felipe Nery de Aguiar, um dos líderes republicanos defensor da doutrina de Júlio de Castilhos.
Em 1897, a fazenda de Augusto fora atacada por uma partida de salteadores, no local denominado Passo da Cachoeira. Recolhi de um tio-avô este relato. Eram em torno de 12 homens, todos com “a cara pintada de preto e encarnado”, conforme depoimento.
No dia do ataque, Marcino de Aguiar, filho de João Pinto de Aguiar e Maria Joaquina de Medeiros, neto de Ignacio Pinto de Aguiar (meu tetravô paterno) e outro menino, de apelido Bilica, estavam no mato cortando lenha. Uma filha de Delfino, irmão de Augusto, foi até eles e avisou que os bandidos estavam atacando a sede da fazenda.
Eles, então, correram para o local. Ali, o velho Augusto comandava a defesa da casa. No decorrer do episódio, o estancieiro incentivava a Marcino, novo, imaturo e nervoso e mais o outro garoto a reagirem. Ele gritava: “ - Não se entreguemo pra bandido! Não se entreguemo pra bandido!”
No confronto, Augusto foi ferido numa perna e continuou reagindo, pedindo que as mulheres municiassem a arma com que atirava na quadrilha, sentado em uma cadeira. As mulheres também preparavam água fervida para atirar nos invasores. Coisa feia o quadro!
A esposa de Augusto também foi atingida. Os defensores da casa acertaram um dos invasores. O grupo de salteadores, não podendo socorrer ao ferido, resolveu degolá-lo para que, posteriormente, não os delatassem.
Meu bisavô Higino Francisco dos Santos e Tomé Oviedo também estavam na confusão. Informações algumas indicavam que um dos quadrilheiros seria um genro de Augusto, de sobrenome Ramos. Existe, inclusive, um relato policial desse incidente. Augusto Silveira Dutra teria ficado “manco” de uma perna devido ao tiro sofrido.
Foto acervo de família. Período aproximado de 1900 a 1915


Ele fora anteriormente integrante da Guarda Nacional de Itaqui, por volta de 1879, um furriel da 4.ª Cia do Batalhão do Serviço Ativo. Em documentos de 1906, Augusto aparece nomeado como Tenente-Coronel do Estado Maior. Esse, assim, como outros, era uma graduação efêmera, dada ao sabor das refregas e com interesses imediatos e específicos. É claro que ele não era um oficial de carreira, apenas um título recebido naquele período para chefiar, como oficial, determinado regimento. Seria uma “graduação arrumada”!
Como o clima de tensão e insegurança era frequente naquele período, seu primo, o Coronel Felipe Nery de Aguiar, intendente de Itaqui e líder político dos republicanos, eventualmente autorizava que um soldado da Guarda Municipal fizesse a vigilância da fazenda de Augusto, no Rincão da Cachoeira. Benesses entre parentes!
A reação de Augusto e sua gente impediu que a quadrilha invadisse a propriedade e cometesse as atrocidades que bandos dessa natureza frequentemente cometiam. No meio do entrevero choveram balas de tudo que era calibre, panelas de água fervente, muita munição e gritos de “não se entreguemo pra bandido”!
E não se entregaram mesmo! Esses flashes do passado são singulares.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Minhocão de Itaqui

                        O Minhocão de Itaqui:   o limite entre o real e o imaginário ! Prof.º Paulo Santos O limite entre o real e o ima...