sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Vigário José Coriolano de Sousa Passos

VIGÁRIO JOSÉ CORIOLANO DE SOUSA PASSOS
O patriarca da Família Passos de Itaqui.RS
Esta casa ficava na esquina da Independência com João Dubal Goulart. Acredita-se que após os anos 70 teria sido desativada.


 Prof.º  Paulo Santos

A família Passos, de Itaqui, através de alguns de seus componentes, costumava afirmar que descendia de um padre. Esse conceito parecia um tanto curioso, dado ao fato de não ser permitido aos vigários terem filhos, ainda que na história antiga do Rio Grande do Sul ocorressem casos onde os sacerdotes se envolviam em relacionamentos, advindo daí filhos, alguns reconhecidos, outros, não. No entanto, em Itaqui, os dados pesquisados dão sustentação a essa verdade, amparados ainda pela versão oral.
Inicialmente, há que se considerar que Itaqui, por volta de 1850, período onde inicia a história do referido religioso, era ainda uma freguesia pertencente a São Borja, o primeiro dos Sete Povos das Missões, no segundo ciclo missioneiro. Sobre esse ambiente inicial, convém citar o que o pesquisador, padre RUBBERT, expõe:

Aos poucos, junto ao rio Uruguai, num pequeno elevado, surgiu a povoação chamada Itaqui, que custou a se desenvolver. Não obstante, cedo se tornou paróquia por lei provincial de 23 de dezembro de 1837, tendo como padroeiro S. Patrício. A aprovação canônica demorou alguns anos, pois só a 9/3/1838 foi nomeado pároco o Pe. Marcelino Lopes Falcão. A 5/1/1839 esteve em Itaqui em visita canônica o Pe. Fidêncio José Ortiz da Silva. Que achou a povoação insignificante com um pequeno templo feito com esmolas dos fiéis, carente de alfaias. A população da freguesia era de 2.500 almas. Crismou 720 pessoas.

Pois nessa “insignificante povoação” veio, mais tarde, de São Paulo, o nosso primeiro padre nomeado. Muitas fontes foram utilizadas para que tal pesquisa tivesse consistência e veracidade.
José Coriolano de Sousa Passos, o padre em questão, nasceu em 22 de abril de 1815, na freguesia de Santa Ana da Laguna, província de Santa Catarina. Era filho do alferes Manuel de Sousa Passos Ribeiro e de Matilde Rodrigues de Oliveira. Seu pai era de Santa Catarina, e a mãe, de Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande do Sul.
Seus avós eram Manuel de Sousa Passos Ribeiro e Catarina Gonçalves Ribeiro. Seus bisavós eram Manuel Gonçalves Ribeiro, da freguesia de São Mateus do Bunheiro, distrito de Aveiro, situado entre Coimbra e o Porto, em Portugal, casado com Maria dos Passos, natural de Paranaguá, falecida antes de 1727. O bisavô veio de Portugal, chegando ao Rio de Janeiro, dali para Santa Catarina.
Coriolano foi ordenado presbítero a 3 de maio de 1841, em São Paulo, por Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, Bispo daquela província.
Em 28 de agosto de 1841 foi nomeado padre coadjutor de Desterro, uma localidade de Santa Catarina. Já em 10 de maio de 1842 era designado como coadjutor de outra freguesia, São José, na mesma província. Em 2 de março de 1844, nomeado pároco da mesma paróquia. No ano seguinte vem para a província do Rio Grande do Sul.
A primeira localidade onde o distinto religioso foi prestar seus serviços foi a paróquia de São Francisco de Borja, nomeado pároco e vigário da referida Vara em 01 de abril de 1845.
Desta povoação missioneira, o mesmo foi designado para a freguesia de São Patrício de Itaqui, então como nomeado em 18 de julho de 1850. Seria, de fato, o 1.º padre e o 1.º vigário da Vara. Os relatos canônicos indicam que Coriolano era zeloso do culto divino e dedicou-se à construção da matriz da Villa. Entretanto, diante de denúncias que acreditam os pesquisadores serem devidas ao fato de que o vigário teria feito inúmeros batismos de estrangeiros, principalmente de Alvear, Argentina, o mesmo chegou a ser suspenso em 1856. Com relação a esse fato, há que se considerar o que encontramos em FREDERICO PALMA (1993):

Fue preocupación de los hombres de gobierno, la falta de sacerdotes que atendiesen esa amplia zona de costa Correntina sobre El rio Uruguai. Los departamentos de Santo Tomé y La Cruz – decia El gobernador Balciene em sua mensaje de 1870 – hacia mucho tiempo que reclamaban um pastor espiritual sin poder conseguir a causa de la enorme distancia a que se encuentran aquellos pueblos. Uma de la razones más fundamentales que El gobierno tênia para empeñarse em proveer aquellos curatos era la de que los niños nacideos alli se llevaban a bautizar em el Brasil y eram inscriptos em los libros de parroquiales com súbditos de aquel país.

O padre José Coriolano batizava as crianças argentinas porque não havia quem o fizesse no lado de lá. Isso não era permitido, portanto a denúncia. No entanto, há que destacar que os argentinos reconheciam a boa vontade do referido sacerdote, pois o mesmo Palma destaca que “...estuvo por entonces atendido em lo espiritual por el presbítero José Coriolano de Souza Passos, vicário de la parroquia de San Patrício de Itaqui (Brasil)”
Em 28 de outubro de 1859 era nomeado Pároco Colado. A confirmação desse cargo deu-se em 10 de abril de 1860, pelo Bispo Dom Sebastião Laranjeira. No dia seguinte recebeu a Colação.
No dia 28 de agosto de 186, Itaqui recebe a visita do Bispo, Dom Sebastião Dias Laranjeira. Sobre o referido sacerdote, o Bispo, autoridade maior da província, assim se referia:
“...embora não seja de grandes conhecimentos, exerce o ministério com aceitação e aproveitamento dos fiéis, gozando naquela paróquia, por sua moralidade e severos costumes de respeito e estima dos povos, como tive ocasião de testemunhar durante os dias que aí me demorei em Visita Pastoral.”

Dom Sebastião achou o arquivo da paróquia em ordem, partindo bem impressionado do pároco e do lugar. Quando sua Eminência aqui chegou, Coriolano já estava há 14 anos. O Bispo a tudo examinou, demorando-se alguns dias em Itaqui. Ainda em São Borja, o padre Passos já recebera elogios do padre visitador Fidêncio, no Natal de 1848, referindo-se a ele como: “Sacerdote de exemplar conduta, pronto no cumprimento de seus deveres e geralmente estimado de seus fregueses.” Também lá esteve empenhado na construção de uma nova matriz para a igreja do povo.
Em Itaqui, documentos de 1865, época da invasão paraguaia, como atas de eleições, de alistamento eleitoral, dão conta de que José Coriolano teria 52 anos de idade, tendo, dessa forma, nascido em 1813. Não se sabia de onde era natural, nem tampouco sua filiação. Pressupunha-se fosse originário de São Paulo pelas pistas encontradas na pesquisa. Os familiares atuais indicavam de que o mesmo era oriundo do referido estado. Os dados confirmaram esses indícios.
As primeiras evidências da participação de Coriolano, em Itaqui, datam, por exemplo, de 11 de março de 1855, quando o mesmo era responsável pelo registro das terras da Villa de São Patrício. Durante muito tempo, a Igreja era encarregada do Registro Paroquial, onde os proprietários eram obrigados a registrar suas sesmarias, no que revertia em tributos para a ordem religiosa.
Já em 1853 há documentos que atestam ser José Coriolano um dos que defendia a instalação de uma Mesa de Rendas para Itaqui, uma briga que se consolidou com o trabalho do juiz Hemetério José Veloso da Silveira, quando em 1857 sugeriu que os habitantes pedissem à Assembléia Provincial a emancipação de Itaqui ao termo de São Borja. Em 1858 foi tal ato aprovado, tendo o colega de Coriolano, o cônego João Pedro Gay, travado uma discussão muito séria com Hemetério, excomungando-o da Igreja. O padre João Pedro Gay era vigário da Paróquia de Santa Ana da Laguna, SC, em 1843. Nessa época, José Coriolano ainda estava por lá.
Há registro da participação do ilustre vigário na Guerra do Paraguai, na função de Capelão, Tenente de Comissão, conforme indica a Ordem do Dia N.º 85, de 30 de novembro de 1865, do Ministério da Guerra. Não se sabe se efetivamente participou da Guerra ou esteve nomeado nesta função, permanecendo por aqui.
Entretanto, quando o Imperador D. Pedro II visitou Itaqui em setembro de 1865, ali estava, colaborando na recepção ao monarca e toda sua comitiva, composta de seus genros, de outros nobres, de militares, além do Marquês de Caxias, que permaneceu no barco no meio do rio Uruguai por se encontrar adoentado. O padre Passos recepcionou D. Pedro II, juntamente com o Venerável Cônego João Pedro Gay, emérito escritor da História da República Jesuítica do Paraguai. Desde o descobrimento do Rio da Prata até nossos dias, anno de 1861, Rio de Janeiro. Dom Pedro II conversou demoradamente com o padre José Coriolano de Sousa Passos.
Mais tarde, vamos encontrar o padre Passos reivindicando ao Governo Imperial o ressarcimento das perdas sofridas com o roubo das alfaias da igreja durante a invasão do exército paraguaio. Um dos vereadores um tempo depois, Luiz Peixoto do Prado, informava em documento de 18 de maio de 1874 o seguinte: “Os ornamentos e livros saqueados de uma casa de comercio para onde o vigario (finado) José Coriolano de Sousa Passos os deixou guardados em sua retirada”.
Com relação ao ressarcimento dos prejuízos, a documentação consultada nada indica que o mesmo tenha tido sucesso, pois bem se sabe que as vilas invadidas não foram indenizadas. Entre tanta gente que batizou, podemos citar, por exemplo: Aureliano Pinto Barbosa, em 14 de junho de 1862. Antes, em 26 de outubro de 1859 pôs os santos óleos em Rufino, filho de meu tetravô paterno, Ignácio Pinto de Aguiar e Fermiana Roza de Lima, apenas para citar dois casos.
Em 10 de fevereiro de 1862 aparece o registro do padre Coriolano como delegado da instrução pública de Itaqui, sendo responsável pela fiscalização das provas e exames dos alunos e demais rotinas da educação naquela época, de moral e conduta rigorosas. Um pouco antes, em janeiro de 1859, o governo municipal havia fechado a escola pública. O padre Passos discute o destino dos materiais da escola, sugerindo que os mesmos fossem guardados na Câmara até que aquela cadeira fosse de novo provida de professor, já que seu primeiro titular, Pedro Antonio de Miranda, não quis ficar na função devido à baixa remuneração.
O reverendo em questão morava em 13 de março de 1868 na rua 7 de setembro, hoje Independência. Segundo o falecido pesquisador e artista plástico, Jorge Vômero, a casa do padre Passos seria no local onde hoje fica a sede da seita Jhorei, esquina da Independência com João Dubal Goulart, informação comprovada pelo Inventário de 1873.
Detalhe da casa do padre, ao lado da Casa Degrazia, no lado esquerdo.

Quando foram escolhidos 7 eleitores para a Paróquia de Itaqui, no dia 3 de fevereiro de 1869, às 9 horas da manhã, na matriz da igreja, José Coriolano de Sousa Passos, o vigário da Villa de São Patrício de Itaqui, recebeu 114 votos, concorrendo com militares mais conhecidos da região, dentre eles o Coronel Antonio Fernandes Lima, que recebeu 121 votos, o mais votado.
O vigário Passos chegou a ser indicado para concorrer para vereador da Villa (denominação pela qual Itaqui era conhecida, pois somente passa à cidade em 1879). Numa dessas eleições, ficou em segundo lugar, no entanto não foi nomeado, como pudemos constatar.
Em pesquisa no Arquivo da Câmara de Vereadores de Itaqui, encontramos a evidência de que o padre José Coriolano de Sousa Passos tinha um filho. No Livro 1876, da Junta Eleitoral, que contém as atas de alistamento consta o seguinte: “Israel Coriolano de Sousa Passos, idade 35 anos, empregado público, filiação: José Coriolano de Sousa Passos. Já havia alguns relatos orais por parte de alguns descendentes da família Passos que confirmavam essa constatação.
Em busca no site de pesquisa genealógica – familysearch.org – dos mórmons, há o seguinte registro: Israel Coriolano de Sousa Passos, batizado em 7 de agosto de 1840, na paróquia de Nossa Senhora de Assunção, São Paulo. Filho de Joze Coriolano de Sousa Passos e Maria Magdalena Machado Bueno.
Portanto, um ano antes de ser ordenado padre, Coriolano tivera um relacionamento com Maria Bueno, vindo a nascer Israel. Pelo que se entende, o padre trouxera esse filho para o Rio Grande. Israel quando aqui chegou tinha 5 anos. Quem será que o cuidava?
As informações sobre Israel são muitas em Itaqui. Israel Coriolano foi secretário interino da Câmara de Vereadores, também chamada de Conselho Municipal, em janeiro de 1865, um pouco antes da invasão paraguaia por parte das tropas de Solano Lopes, comandadas pelo Coronel Estigarribia.
Esse Israel teria nascido entre 1839/1843, conforme alguns registros da Guarda Nacional do qual foi por durante certo tempo membro ativo. Em 25 de agosto de 1880 foi nomeado de Tenente para Capitão, lotado na 3.ª Companhia, Batalhão de Infantaria N.º 5, do serviço ativo da Guarda Nacional de Itaqui.
Itaqui ficou conhecida por ambientar um famoso romance – o da jovem itaquiense Emília Josefina Coimbra de Mello com o Tenente, do Rio de Janeiro, suposto descendente de Vasco da Gama, futuro Almirante da Marinha brasileira, Luís Felipe SALDANHA DA GAMA.
Eles vieram a casar em 28 de janeiro de 1867, em Itaqui, ofício religioso esse celebrado pelo padre José Coriolano de Sousa Passos, na segunda igreja de Itaqui, no beco de São Patrício. O enlace durou apenas oito dias. O Tenente fora chamado para a Guerra do Paraguai, em pleno andamento. Mila, como era conhecida, ficou sozinha, sem notícias do oficial, seu marido.
Nesse intervalo, conta a tradição oral de que fora cortejada por alguns pretendentes da cidade. Entre esses, destacava-se o jovem Israel de Sousa Passos, na época com 27 anos. Entretanto, mais tarde, desiludida do marido, que não retorna da Guerra e nem dá notícias, Mila casa-se com estancieiro de São Tiago do Boqueirão, Antônio José Barcelos, bem mais velho do que ela.
Após esse período, Israel contrai matrimônio com Mercedes de Sousa Passos, cujo nome de batismo era Mercês Luíza, ou ainda Maria das Mercês Gonçalves Belmonte, que era natural de São Paulo. Era filha do Coronel Manoel Luiz de Souza e de Balbina Gonçalves. Entre os filhos que se tem notícia de Mercedes e Israel constam:
1.    Maria da Conceição, nascida em 8 de outubro de 1874;
2.    Pedro de Sousa Passos, nascido em 1871, Major secretário do Estado Maior do 17.º Corpo Provisório de Cavalaria sob o comando do Tenente-Coronel Maximiano Teixeira Coelho, na Revolução de 1893, em Itaqui;
3.    América Barbosa, casada;
4.    Astério de Sousa Passos, nascido em 3 de agosto de 1883, batizado pelo padre Nápoles Massa em 13 de outubro de 1885 e falecido, com 52 anos, em 11 de agosto de 1936, em Itaqui. Astério era casado com Maria da Glória Rosa Passos, que teriam os filhos: um de nome Israel da Rosa Passos, nascido em 1916 e casado com Fany Nunes Ramos, em 2 de janeiro de 199; outro de nome Manoel Bráulio da Rosa Passos, nascido em 1921, casado em 6 de outubro de 1950, com Erci Nunes Ramos – dois irmãos passos com duas irmãs Ramos; Hectelindo e Astério Filho, são outros filhos, além de Irma Passos, nascida em 1918 e falecida em 20 de dezembro de 1933, com 15 anos;
5.    Maria Magdalena, nascida em 27 de maio de 1882 e batizada em 16 de fevereiro de 1883;
6.    Maria Balbina, nascida em 23 de junho de 1885 e batizada em 13 de outubro de 1885, casada na capital federal, Rio de Janeiro, com o Contra-Almirante Agenor Vidal, em 29 de janeiro de 1901;
7.    Alípio, nascido em 1860 e falecido em 11 de junho de 1880.
O Coronel Manoel Luiz de Souza e Balbina Gonçalves, além de Mercedes, eram pais de:
1. Balbina Gonçalves de Sousa (Biquinha), falecida em 14 de fevereiro de 1966, em Itaqui, casou em 29 de junho de 1896, com Luiz Acilino Palmeiro ( nascido em 17 de julho de 1872 e falecido em 26 de outubro de 1962, filho de Amâncio Palmeiro e Lara Palmeiro, bisneto de Floriano Machado Fagundes, o tronco basilar da família Floriano, na fronteira oeste).
2. América Gonçalves de Sousa, esposa do Dr.º Aureliano Barbosa, intendente de Itaqui e deputado estadual.
Com relação a Israel, os documentos da Guarda Nacional indicam que em 1860, com a idade citada de 20 anos, solteiro, padecia de completa surdez. Com 30 anos de idade era Alferes Honorário da GN de Itaqui. Parece que um descendente contemporâneo da família, falecido, sofria do mesmo problema, com dificuldade na audição.
Em 11 de maio de 1872, Israel aparece como testemunha de casamento em Itaqui, quando era pároco interino, Antonio Guido. O interessante é que Israel é citado como testemunha em registros de batismos anteriores, onde José Coriolano, seu pai, era o padre oficiante.
Em 1880, Israel de Sousa Passos era o 3.º suplente de Juiz Municipal de Órfãos de Itaqui. No mesmo ano, 18 de fevereiro, era nomeado 3.º suplente de vereador. No ano de 1882 detinha o posto de delegado de Polícia da cidade. Novamente, em 3 de julho de 1889, sendo presidente da Câmara de Vereadores, o Dr.º Eduardo Fernandes Lima, foi nomeado para comandar, pelo governo do Estado, a força policial de Itaqui.
A esposa de Israel, Mercedes de Sousa Passos, teve seu falecimento publicado pelo Jornal de Itaqui, edição de 30 de maio de 1928, com idade bem avançada. Em algumas fontes, Israel surge como natural de São Paulo (Arquivo da Cúria Diocesana de Uruguaiana, Livro (-B, p.3v, 1885). Em anotações do Cartório de Registros de Imóveis e Especiais, de Arlindo Siqueira Dias, consta que Manoel Luiz de Souza, sendo nesta data (1889), era morador da província de Entre-Rios, na Argentina.
Quanto ao vigário José Coriolano de Sousa Passos sabe-se que o casamento do Tenente Saldanha d Gama com a itaquiense é um de seus últimos registros, conhecidos, como padre. Conforme o historiador Jesus Pahim, o padre Passos teve destacada atuação em Itaqui, pois “O seu envolvimento com a comunidade foi muito grande. Por iniciativa sua, construiu-se a primeira igrejinha de Itaqui. Foi edificada em pedra, com cobertura de capim Santa-Fé.” Seu nome foi importante também no processo de emancipação do município.
Em 17 de abril de 1873, o Bispo do Rio Grande do Sul recebe uma comunicação de Itaqui sobre o falecimento do vigário Passos. O passamento se deu em 14 de outubro do mesmo ano. A correspondência se dirigia desta forma:

BISPADO DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL
Palácio Episcopal em Porto Alegre
16 de maio de 1873.
Ilmo. Sr.
Acusando a recepção do officio de VV.SS. com data de 17 do mês findo, em que me dão a infausta notícia do passamento do R.do Vigário dessa Villa p.º José Coriolano de Sousa Passos; cumpre-me declarar-lhes que a brevidade possível será Ella provida de Parocho confirmando entretanto na sua administração o respectivo coadjutor enquanto aí não se apresente o novo Parocho.
Deus guarde a VV.SS.ªs.
(assinatura) Bispo do Rio Grande
AOS PRESIDENTE E DEMAIS MEMBROS DA CÂMARA MUNICIPAL DA VILLA DE ITAQUY

Os relatos desse período são fragmentados, não pudemos conseguir mais dados sobre seu falecimento, pois os arquivos da Prefeitura, Câmara, Paróquia e Bispado nada indicam sobre esse fato.
Em 1873 foi aberto o Inventário do Vigário Passos, hoje no Arquivo Público do Rio Grande do Sul (Autos: 222, Maço: 7, Estante: 114, Cartório de Itaqui- Órfãos e Ausentes – Inventários, Ano: 1873).
Conforme a descrição do referido documento, somente um único herdeiro havia – seu filho Israel Coriolano de Sousa Passos. Consta que não foi feito testamento. Os bens deixados pelo reverendo eram os seguintes, conforme descrição textual do documento pesquisado:
Ø  “Uma morada de casa situada na praça da Matriz desta Villa fasendo esquina com a rua da Igreja, frente ao Oeste com a mesma praça, frente ao Norte com a rua da Igreja, limitando-se pelo Sul com o terrenos do mesmo Inventariado e pelo leste com terrenos de D. Leonarda Canepa, e Evaristo Teixeira do Amaral, tem na frente de Oeste cem palmos, com cinco janellas todas envidraçadas, e um grande portão de ferro; e na frente de Norte cento e cincoenta palmos, trez janellas todas envidraçadas, um grande portão, um grade telheiro todo repartido junto e contíguo a mesma caza, cosinha, e posso de balde, toda a caza é construída de pedra e cal, e um quintal todo cercado de muro de pedra: o que tudo sendo conhecido dos avaliadores. Declararão valor: vinte e seis mi contos de réis, que sai 26:000:000.
Ø  Um terreno contíguo a mesma caza com trezentos e oitenta palmos de frente a Oeste, e trezentos e cincoenta palmos de frente a Leste, limitando-se com a rua do Ipiranga, pelo Norte com a caza ocupada pelo inventariante, todo plantado e lagiado todas as veredas, todo cercado com um muro de pedra de nove palmos de altura que os avaliadores declararão valor: quatro contos de réis, que sai 4:000:000.
Ø  Uma marqueza em bom estado que os avaliadores declararão valor vinte mil reis, que sai 20:000.
Ø  Um sofá de palhinha que os avaliadores declararão valor cincoenta mil réis, que sai a margem 50:000.
Ø  Quatro aparadores (acento de mármore) que os avaliadores declararão valor a cincoenta  e dois mil cada um e todos por dusentos e trinta e dois mil réis, que sai a marge: 232:000.
Ø  Quatro cadeiras de braço, de jacarandá, a vinte mil réis, oitenta mil réis, que sai para – 80:000.
Ø  Dose cadeiras acento de palhinha, madeira de jacarandá novas, por cento e vinte mil réis. 120:000.
Declara o inventariante não ter mais bens a descrever; e com o Medico, Botica, funeral e Missa de sétimo dia despendeu a quantia de um conto e dusentos mil réis. 1:200:000.”
Pela leitura do texto do Inventário, entende-se que a casa do Vigário José Coriolano de Sousa Passos é a mesma que na década de 70 ainda existia, passando mais tarde para a família Palmeiro, sendo seu proprietário o sr. Amâncio Palmeiro, filho de Maria Leopoldina Floriano e João José Fontoura Palmeiro (que fazia parte da primeira Câmara de São Borja e um dos líderes militares da região).
Uma cunhada de Israel Coriolano, Balbina, casou um Palmeiro (Luiz Acilino e tiveram 11 filhos. Possivelmente, é através dessa ligação que se explica a antiga casa do Padre José Coriolano de Sousa Passos pertencer mais tarde a Amâncio Palmeiro.
Casa de Luiz Acilino Palmeiro, casado com uma cunhada do padre Coriolano. Esta casa ainda existe.

O local da localização da mesma e do terreno é o seguinte: Hoje corresponde a todo o terreno da sede da seita Jorhei, que seria a parte da casa, indo até a esquina dos Correios, que corresponderia à parte dos terrenos. Portanto, toda a parte da frente da quadra da Independência, no lado esquerdo, frente à Praça Matriz, pertencia na época ao Padre Passos. Não deixou campos, gado, nem ouro e prata. Os bens relacionados eram singelos. Com certeza, a casa e os terrenos deviam ser concessões que a própria Igreja permitia aos reverendos no exercício do cargo.
Em seu lugar viria o também conhecidíssimo José de Noronha Nápoles Massa. Sobre José Coriolano foi possível reunir um bom conjunto de informações, antes não havidas na cidade: algumas até inéditas.
A comunidade precisava conhecer um pouco mais sobre esse que foi o primeiro padre de Itaqui, sua inserção no processo da identidade civil e religiosa do Rincão da Cruz. Observação: Por envolver, nomes, datas e fatos antigos, pode ser que alguma informação não proceda. Isso é possível. Acréscimos são bem vindos!



Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Minhocão de Itaqui

                        O Minhocão de Itaqui:   o limite entre o real e o imaginário ! Prof.º Paulo Santos O limite entre o real e o ima...