VIGÁRIO
JOSÉ CORIOLANO DE SOUSA PASSOS
O
patriarca da Família Passos de Itaqui.RS
Esta casa ficava na esquina da Independência com João Dubal Goulart. Acredita-se que após os anos 70 teria sido desativada. |
Prof.º Paulo Santos
A família Passos, de
Itaqui, através de alguns de seus componentes, costumava afirmar que descendia
de um padre. Esse conceito parecia um tanto curioso, dado ao fato de não ser
permitido aos vigários terem filhos, ainda que na história antiga do Rio Grande
do Sul ocorressem casos onde os sacerdotes se envolviam em relacionamentos,
advindo daí filhos, alguns reconhecidos, outros, não. No entanto, em Itaqui, os
dados pesquisados dão sustentação a essa verdade, amparados ainda pela versão
oral.
Inicialmente, há que se
considerar que Itaqui, por volta de 1850, período onde inicia a história do
referido religioso, era ainda uma freguesia pertencente a São Borja, o primeiro
dos Sete Povos das Missões, no segundo ciclo missioneiro. Sobre esse ambiente
inicial, convém citar o que o pesquisador, padre RUBBERT, expõe:
Aos poucos, junto ao rio Uruguai, num pequeno
elevado, surgiu a povoação chamada Itaqui, que custou a se desenvolver. Não
obstante, cedo se tornou paróquia por lei provincial de 23 de dezembro de 1837,
tendo como padroeiro S. Patrício. A aprovação canônica demorou alguns anos,
pois só a 9/3/1838 foi nomeado pároco o Pe. Marcelino Lopes Falcão. A 5/1/1839 esteve em Itaqui em visita
canônica o Pe. Fidêncio José Ortiz da Silva. Que achou a povoação
insignificante com um pequeno templo feito com esmolas dos fiéis, carente de
alfaias. A população da freguesia era de 2.500 almas. Crismou 720 pessoas.
Pois nessa “insignificante
povoação” veio, mais tarde, de São Paulo, o nosso primeiro padre nomeado.
Muitas fontes foram utilizadas para que tal pesquisa tivesse consistência e
veracidade.
José
Coriolano de Sousa Passos,
o padre em questão, nasceu em 22 de
abril de 1815, na freguesia de Santa Ana da Laguna, província de Santa
Catarina. Era filho do alferes Manuel de
Sousa Passos Ribeiro e de Matilde
Rodrigues de Oliveira. Seu pai era de Santa Catarina, e a mãe, de Santo
Antônio da Patrulha, Rio Grande do Sul.
Seus avós eram Manuel de Sousa Passos Ribeiro e Catarina Gonçalves Ribeiro. Seus
bisavós eram Manuel Gonçalves Ribeiro, da
freguesia de São Mateus do Bunheiro, distrito de Aveiro, situado entre Coimbra
e o Porto, em Portugal, casado com Maria
dos Passos, natural de Paranaguá, falecida antes de 1727. O bisavô veio de
Portugal, chegando ao Rio de Janeiro, dali para Santa Catarina.
Coriolano foi ordenado
presbítero a 3 de maio de 1841, em
São Paulo, por Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, Bispo daquela
província.
Em 28 de agosto de 1841
foi nomeado padre coadjutor de Desterro, uma localidade de Santa Catarina. Já
em 10 de maio de 1842 era designado como coadjutor de outra freguesia, São
José, na mesma província. Em 2 de março de 1844, nomeado pároco da mesma
paróquia. No ano seguinte vem para a província do Rio Grande do Sul.
A primeira localidade onde
o distinto religioso foi prestar seus serviços foi a paróquia de São Francisco
de Borja, nomeado pároco e vigário da referida Vara em 01 de abril de 1845.
Desta povoação missioneira,
o mesmo foi designado para a freguesia
de São Patrício de Itaqui, então como nomeado em 18 de julho de 1850. Seria, de fato, o 1.º padre e o 1.º vigário da Vara. Os relatos canônicos indicam que
Coriolano era zeloso do culto divino e dedicou-se à construção da matriz da
Villa. Entretanto, diante de denúncias que acreditam os pesquisadores serem
devidas ao fato de que o vigário teria feito inúmeros batismos de estrangeiros,
principalmente de Alvear, Argentina, o mesmo chegou a ser suspenso em 1856. Com
relação a esse fato, há que se considerar o que encontramos em FREDERICO PALMA
(1993):
Fue preocupación de los hombres de gobierno,
la falta de sacerdotes que atendiesen esa amplia zona de costa Correntina sobre
El rio Uruguai. Los departamentos de Santo Tomé y La Cruz – decia El gobernador
Balciene em sua mensaje de 1870 – hacia mucho tiempo que reclamaban um pastor
espiritual sin poder conseguir a causa de la enorme distancia a que se
encuentran aquellos pueblos. Uma de la razones más fundamentales que El
gobierno tênia para empeñarse em proveer aquellos curatos era la de que los
niños nacideos alli se llevaban a bautizar em el Brasil y eram inscriptos em
los libros de parroquiales com súbditos de aquel país.
O padre José Coriolano
batizava as crianças argentinas porque não havia quem o fizesse no lado de lá.
Isso não era permitido, portanto a denúncia. No entanto, há que destacar que os
argentinos reconheciam a boa vontade do referido sacerdote, pois o mesmo Palma
destaca que “...estuvo por entonces atendido em lo espiritual por el presbítero
José Coriolano de Souza Passos, vicário de la parroquia de San Patrício de
Itaqui (Brasil)”
Em 28 de outubro de 1859
era nomeado Pároco Colado. A confirmação desse cargo deu-se em 10 de abril de
1860, pelo Bispo Dom Sebastião Laranjeira. No dia seguinte recebeu a Colação.
No dia 28 de agosto de
186, Itaqui recebe a visita do Bispo, Dom Sebastião Dias Laranjeira. Sobre o
referido sacerdote, o Bispo, autoridade maior da província, assim se referia:
“...embora não seja de grandes conhecimentos,
exerce o ministério com aceitação e aproveitamento dos fiéis, gozando naquela
paróquia, por sua moralidade e severos costumes de respeito e estima dos povos,
como tive ocasião de testemunhar durante os dias que aí me demorei em Visita
Pastoral.”
Dom Sebastião achou o
arquivo da paróquia em ordem, partindo bem impressionado do pároco e do lugar.
Quando sua Eminência aqui chegou, Coriolano já estava há 14 anos. O Bispo a
tudo examinou, demorando-se alguns dias em Itaqui. Ainda em São Borja, o padre
Passos já recebera elogios do padre visitador Fidêncio, no Natal de 1848,
referindo-se a ele como: “Sacerdote de exemplar conduta, pronto no cumprimento
de seus deveres e geralmente estimado de seus fregueses.” Também lá esteve
empenhado na construção de uma nova matriz para a igreja do povo.
Em Itaqui, documentos de
1865, época da invasão paraguaia, como atas de eleições, de alistamento
eleitoral, dão conta de que José Coriolano teria 52 anos de idade, tendo, dessa
forma, nascido em 1813. Não se sabia de onde era natural, nem tampouco sua
filiação. Pressupunha-se fosse originário de São Paulo pelas pistas encontradas
na pesquisa. Os familiares atuais indicavam de que o mesmo era oriundo do
referido estado. Os dados confirmaram esses indícios.
As primeiras evidências da
participação de Coriolano, em Itaqui, datam, por exemplo, de 11 de março de
1855, quando o mesmo era responsável pelo registro das terras da Villa de São
Patrício. Durante muito tempo, a Igreja era encarregada do Registro Paroquial,
onde os proprietários eram obrigados a registrar suas sesmarias, no que
revertia em tributos para a ordem religiosa.
Já em 1853 há documentos
que atestam ser José Coriolano um dos que defendia a instalação de uma Mesa de
Rendas para Itaqui, uma briga que se consolidou com o trabalho do juiz
Hemetério José Veloso da Silveira, quando em 1857 sugeriu que os habitantes
pedissem à Assembléia Provincial a emancipação de Itaqui ao termo de São Borja.
Em 1858 foi tal ato aprovado, tendo o colega de Coriolano, o cônego João Pedro
Gay, travado uma discussão muito séria com Hemetério, excomungando-o da Igreja.
O padre João Pedro Gay era vigário da Paróquia de Santa Ana da Laguna, SC, em
1843. Nessa época, José Coriolano ainda estava por lá.
Há registro da participação
do ilustre vigário na Guerra do Paraguai, na função de Capelão, Tenente de Comissão, conforme indica a Ordem do Dia N.º
85, de 30 de novembro de 1865, do Ministério da Guerra. Não se sabe se
efetivamente participou da Guerra ou esteve nomeado nesta função, permanecendo
por aqui.
Entretanto, quando o
Imperador D. Pedro II visitou Itaqui em setembro de 1865, ali estava,
colaborando na recepção ao monarca e toda sua comitiva, composta de seus
genros, de outros nobres, de militares, além do Marquês de Caxias, que
permaneceu no barco no meio do rio Uruguai por se encontrar adoentado. O padre
Passos recepcionou D. Pedro II, juntamente com o Venerável Cônego João Pedro
Gay, emérito escritor da História da
República Jesuítica do Paraguai. Desde o descobrimento do Rio da Prata até
nossos dias, anno de 1861, Rio de Janeiro. Dom Pedro II conversou demoradamente com o padre José Coriolano de
Sousa Passos.
Mais tarde, vamos
encontrar o padre Passos reivindicando ao Governo Imperial o ressarcimento das
perdas sofridas com o roubo das alfaias da igreja durante a invasão do exército
paraguaio. Um dos vereadores um tempo depois, Luiz Peixoto do Prado, informava
em documento de 18 de maio de 1874 o seguinte: “Os ornamentos e livros
saqueados de uma casa de comercio para onde o vigario (finado) José Coriolano
de Sousa Passos os deixou guardados em sua retirada”.
Com relação ao
ressarcimento dos prejuízos, a documentação consultada nada indica que o mesmo
tenha tido sucesso, pois bem se sabe que as vilas invadidas não foram
indenizadas. Entre tanta gente que batizou, podemos citar, por exemplo:
Aureliano Pinto Barbosa, em 14 de junho de 1862. Antes, em 26 de outubro de
1859 pôs os santos óleos em Rufino, filho de meu tetravô paterno, Ignácio Pinto
de Aguiar e Fermiana Roza de Lima, apenas para citar dois casos.
Em 10 de fevereiro de 1862
aparece o registro do padre Coriolano como delegado da instrução pública de
Itaqui, sendo responsável pela fiscalização das provas e exames dos alunos e
demais rotinas da educação naquela época, de moral e conduta rigorosas. Um
pouco antes, em janeiro de 1859, o governo municipal havia fechado a escola
pública. O padre Passos discute o destino dos materiais da escola, sugerindo
que os mesmos fossem guardados na Câmara até que aquela cadeira fosse de novo
provida de professor, já que seu primeiro titular, Pedro Antonio de Miranda,
não quis ficar na função devido à baixa remuneração.
O reverendo em questão
morava em 13 de março de 1868 na rua 7 de setembro, hoje Independência. Segundo
o falecido pesquisador e artista plástico, Jorge Vômero, a casa do padre Passos
seria no local onde hoje fica a sede da seita Jhorei, esquina da Independência
com João Dubal Goulart, informação comprovada pelo Inventário de 1873.
Detalhe da casa do padre, ao lado da Casa Degrazia, no lado esquerdo. |
Quando foram escolhidos 7 eleitores
para a Paróquia de Itaqui, no dia 3 de fevereiro de 1869, às 9 horas da manhã,
na matriz da igreja, José Coriolano de Sousa Passos, o vigário da Villa de São
Patrício de Itaqui, recebeu 114 votos, concorrendo com militares mais
conhecidos da região, dentre eles o Coronel Antonio Fernandes Lima, que recebeu
121 votos, o mais votado.
O vigário Passos chegou a
ser indicado para concorrer para vereador da Villa (denominação pela qual
Itaqui era conhecida, pois somente passa à cidade em 1879). Numa dessas
eleições, ficou em segundo lugar, no entanto não foi nomeado, como pudemos
constatar.
Em pesquisa no Arquivo da
Câmara de Vereadores de Itaqui, encontramos a evidência de que o padre José
Coriolano de Sousa Passos tinha um filho. No Livro 1876, da Junta Eleitoral, que contém as atas de alistamento consta
o seguinte: “Israel Coriolano de Sousa
Passos, idade 35 anos, empregado público, filiação: José Coriolano de Sousa Passos. Já havia alguns relatos orais por
parte de alguns descendentes da família Passos que confirmavam essa
constatação.
Em busca no site de
pesquisa genealógica – familysearch.org – dos mórmons, há o seguinte registro: Israel Coriolano de Sousa Passos,
batizado em 7 de agosto de 1840, na
paróquia de Nossa Senhora de Assunção, São Paulo. Filho de Joze Coriolano de Sousa Passos e Maria Magdalena Machado Bueno.
Portanto, um ano antes de
ser ordenado padre, Coriolano tivera um relacionamento com Maria Bueno, vindo a
nascer Israel. Pelo que se entende, o padre trouxera esse filho para o Rio Grande.
Israel quando aqui chegou tinha 5 anos. Quem será que o cuidava?
As informações sobre
Israel são muitas em Itaqui. Israel Coriolano foi secretário interino da Câmara
de Vereadores, também chamada de Conselho Municipal, em janeiro de 1865, um
pouco antes da invasão paraguaia por parte das tropas de Solano Lopes,
comandadas pelo Coronel Estigarribia.
Esse Israel teria nascido
entre 1839/1843, conforme alguns registros da Guarda Nacional do qual foi por
durante certo tempo membro ativo. Em 25 de agosto de 1880 foi nomeado de
Tenente para Capitão, lotado na 3.ª Companhia, Batalhão de Infantaria N.º 5, do
serviço ativo da Guarda Nacional de Itaqui.
Itaqui ficou conhecida por
ambientar um famoso romance – o da jovem itaquiense Emília Josefina Coimbra de Mello com o Tenente, do Rio de Janeiro,
suposto descendente de Vasco da Gama, futuro Almirante da Marinha brasileira, Luís Felipe SALDANHA DA GAMA.
Eles vieram a casar em 28 de janeiro de 1867, em Itaqui,
ofício religioso esse celebrado pelo padre José Coriolano de Sousa Passos, na
segunda igreja de Itaqui, no beco de São Patrício. O enlace durou apenas oito
dias. O Tenente fora chamado para a Guerra do Paraguai, em pleno andamento. Mila, como era conhecida, ficou
sozinha, sem notícias do oficial, seu marido.
Nesse intervalo, conta a
tradição oral de que fora cortejada por alguns pretendentes da cidade. Entre
esses, destacava-se o jovem Israel de
Sousa Passos, na época com 27 anos. Entretanto, mais tarde, desiludida do
marido, que não retorna da Guerra e nem dá notícias, Mila casa-se com
estancieiro de São Tiago do Boqueirão, Antônio José Barcelos, bem mais velho do
que ela.
Após esse período, Israel
contrai matrimônio com Mercedes de Sousa
Passos, cujo nome de batismo era Mercês Luíza, ou ainda Maria das Mercês Gonçalves
Belmonte, que era natural de São Paulo. Era filha do Coronel Manoel Luiz de Souza e de Balbina Gonçalves. Entre os filhos que se tem notícia de Mercedes e
Israel constam:
1. Maria
da Conceição, nascida
em 8 de outubro de 1874;
2. Pedro
de Sousa Passos,
nascido em 1871, Major secretário do Estado Maior do 17.º Corpo Provisório de
Cavalaria sob o comando do Tenente-Coronel Maximiano Teixeira Coelho, na
Revolução de 1893, em Itaqui;
3. América
Barbosa, casada;
4. Astério
de Sousa Passos,
nascido em 3 de agosto de 1883, batizado pelo padre Nápoles Massa em 13 de
outubro de 1885 e falecido, com 52 anos, em 11 de agosto de 1936, em Itaqui.
Astério era casado com Maria da Glória
Rosa Passos, que teriam os filhos: um de nome Israel da Rosa Passos, nascido em 1916 e casado com Fany Nunes
Ramos, em 2 de janeiro de 199; outro de nome Manoel Bráulio da Rosa Passos, nascido em 1921, casado em 6 de
outubro de 1950, com Erci Nunes Ramos – dois irmãos passos com duas irmãs
Ramos; Hectelindo e Astério Filho, são outros filhos, além
de Irma Passos, nascida em 1918 e
falecida em 20 de dezembro de 1933, com 15 anos;
5. Maria
Magdalena, nascida em
27 de maio de 1882 e batizada em 16 de fevereiro de 1883;
6. Maria
Balbina, nascida em
23 de junho de 1885 e batizada em 13 de outubro de 1885, casada na capital
federal, Rio de Janeiro, com o Contra-Almirante Agenor Vidal, em 29 de janeiro
de 1901;
7. Alípio, nascido em 1860 e falecido em 11 de
junho de 1880.
O Coronel Manoel Luiz de
Souza e Balbina Gonçalves, além de Mercedes, eram pais de:
1.
Balbina Gonçalves de Sousa (Biquinha),
falecida em 14 de fevereiro de 1966, em Itaqui, casou em 29 de junho de 1896,
com Luiz Acilino Palmeiro ( nascido em 17 de julho de 1872 e
falecido em 26 de outubro de 1962, filho de Amâncio Palmeiro e Lara Palmeiro,
bisneto de Floriano Machado Fagundes,
o tronco basilar da família Floriano, na fronteira oeste).
2.
América Gonçalves de Sousa,
esposa do Dr.º Aureliano Barbosa, intendente de Itaqui e deputado estadual.
Com relação a Israel, os
documentos da Guarda Nacional indicam que em 1860, com a idade citada de 20
anos, solteiro, padecia de completa
surdez. Com 30 anos de idade era Alferes Honorário da GN de Itaqui. Parece
que um descendente contemporâneo da família, falecido, sofria do mesmo
problema, com dificuldade na audição.
Em 11 de maio de 1872,
Israel aparece como testemunha de casamento em Itaqui, quando era pároco
interino, Antonio Guido. O interessante é que Israel é citado como testemunha
em registros de batismos anteriores, onde José Coriolano, seu pai, era o padre
oficiante.
Em 1880, Israel de Sousa
Passos era o 3.º suplente de Juiz Municipal de Órfãos de Itaqui. No mesmo ano,
18 de fevereiro, era nomeado 3.º suplente de vereador. No ano de 1882 detinha o
posto de delegado de Polícia da cidade. Novamente, em 3 de julho de 1889, sendo
presidente da Câmara de Vereadores, o Dr.º Eduardo Fernandes Lima, foi nomeado
para comandar, pelo governo do Estado, a força policial de Itaqui.
A esposa de Israel,
Mercedes de Sousa Passos, teve seu falecimento publicado pelo Jornal de Itaqui, edição de 30 de maio
de 1928, com idade bem avançada. Em algumas fontes, Israel surge como natural
de São Paulo (Arquivo da Cúria Diocesana de Uruguaiana, Livro (-B, p.3v, 1885).
Em anotações do Cartório de Registros de Imóveis e Especiais, de Arlindo
Siqueira Dias, consta que Manoel Luiz de Souza, sendo nesta data (1889), era morador
da província de Entre-Rios, na Argentina.
Quanto ao vigário José
Coriolano de Sousa Passos sabe-se que o casamento do Tenente Saldanha d Gama
com a itaquiense é um de seus últimos registros, conhecidos, como padre.
Conforme o historiador Jesus Pahim, o padre Passos teve destacada atuação em
Itaqui, pois “O seu envolvimento com a comunidade foi muito grande. Por
iniciativa sua, construiu-se a primeira igrejinha de Itaqui. Foi edificada em
pedra, com cobertura de capim Santa-Fé.” Seu nome foi importante também no
processo de emancipação do município.
Em 17 de abril de 1873, o Bispo do Rio Grande do Sul recebe uma
comunicação de Itaqui sobre o falecimento do vigário Passos. O passamento se
deu em 14 de outubro do mesmo ano. A
correspondência se dirigia desta forma:
BISPADO DE SÃO PEDRO DO
RIO GRANDE DO SUL
Palácio Episcopal em Porto
Alegre
16
de maio de 1873.
Ilmo. Sr.
Acusando a recepção do
officio de VV.SS. com data de 17 do mês
findo, em que me dão a infausta notícia do passamento do R.do Vigário dessa
Villa p.º José Coriolano de Sousa Passos; cumpre-me declarar-lhes que a
brevidade possível será Ella provida de Parocho confirmando entretanto na sua
administração o respectivo coadjutor enquanto aí não se apresente o novo
Parocho.
Deus guarde a VV.SS.ªs.
(assinatura) Bispo do Rio
Grande
AOS PRESIDENTE E DEMAIS
MEMBROS DA CÂMARA MUNICIPAL DA VILLA DE ITAQUY
Os relatos desse período
são fragmentados, não pudemos conseguir mais dados sobre seu falecimento, pois
os arquivos da Prefeitura, Câmara, Paróquia e Bispado nada indicam sobre esse
fato.
Em 1873 foi aberto o
Inventário do Vigário Passos, hoje no Arquivo Público do Rio Grande do Sul
(Autos: 222, Maço: 7, Estante: 114, Cartório de Itaqui- Órfãos e Ausentes –
Inventários, Ano: 1873).
Conforme a descrição do
referido documento, somente um único herdeiro havia – seu filho Israel
Coriolano de Sousa Passos. Consta que não foi feito testamento. Os bens
deixados pelo reverendo eram os seguintes, conforme descrição textual do
documento pesquisado:
Ø
“Uma
morada de casa situada na praça da
Matriz desta Villa fasendo esquina com a rua da Igreja, frente ao Oeste com a mesma praça, frente ao Norte
com a rua da Igreja, limitando-se pelo Sul com o terrenos do mesmo Inventariado
e pelo leste com terrenos de D. Leonarda Canepa, e Evaristo Teixeira do Amaral,
tem na frente de Oeste cem palmos,
com cinco janellas todas envidraçadas,
e um grande portão de ferro; e na frente de Norte cento e cincoenta palmos, trez
janellas todas envidraçadas, um
grande portão, um grade telheiro todo repartido junto e contíguo a mesma caza,
cosinha, e posso de balde, toda a caza é construída de pedra e cal, e um
quintal todo cercado de muro de pedra: o que tudo sendo conhecido dos
avaliadores. Declararão valor: vinte e seis mi contos de réis, que sai
26:000:000.
Ø
Um
terreno contíguo a mesma caza com trezentos e oitenta palmos de frente a Oeste,
e trezentos e cincoenta palmos de
frente a Leste, limitando-se com a rua
do Ipiranga, pelo Norte com a caza ocupada pelo inventariante, todo
plantado e lagiado todas as veredas, todo cercado com um muro de pedra de nove
palmos de altura que os avaliadores declararão valor: quatro contos de réis,
que sai 4:000:000.
Ø
Uma
marqueza em bom estado que os avaliadores declararão valor vinte mil reis, que
sai 20:000.
Ø
Um
sofá de palhinha que os avaliadores declararão valor cincoenta mil réis, que
sai a margem 50:000.
Ø
Quatro
aparadores (acento de mármore) que os avaliadores declararão valor a
cincoenta e dois mil cada um e todos por
dusentos e trinta e dois mil réis, que sai a marge: 232:000.
Ø
Quatro
cadeiras de braço, de jacarandá, a vinte mil réis, oitenta mil réis, que sai
para – 80:000.
Ø
Dose
cadeiras acento de palhinha, madeira de jacarandá novas, por cento e vinte mil
réis. 120:000.
Declara
o inventariante não ter mais bens a descrever; e com o Medico, Botica, funeral
e Missa de sétimo dia despendeu a quantia de um conto e dusentos mil réis.
1:200:000.”
Pela
leitura do texto do Inventário, entende-se que a casa do Vigário José Coriolano
de Sousa Passos é a mesma que na década de 70 ainda existia, passando mais
tarde para a família Palmeiro, sendo seu proprietário o sr. Amâncio Palmeiro,
filho de Maria Leopoldina Floriano e João José Fontoura Palmeiro (que fazia
parte da primeira Câmara de São Borja e um dos líderes militares da região).
Uma
cunhada de Israel Coriolano, Balbina, casou um Palmeiro (Luiz Acilino e tiveram
11 filhos. Possivelmente, é através dessa ligação que se explica a antiga casa
do Padre José Coriolano de Sousa Passos pertencer mais tarde a Amâncio Palmeiro.
Casa de Luiz Acilino Palmeiro, casado com uma cunhada do padre Coriolano. Esta casa ainda existe. |
O local
da localização da mesma e do terreno é o seguinte: Hoje corresponde a todo o
terreno da sede da seita Jorhei, que seria a parte da casa, indo até a esquina
dos Correios, que corresponderia à parte dos terrenos. Portanto, toda a parte
da frente da quadra da Independência, no lado esquerdo, frente à Praça Matriz,
pertencia na época ao Padre Passos. Não deixou campos, gado, nem ouro e prata.
Os bens relacionados eram singelos. Com certeza, a casa e os terrenos deviam
ser concessões que a própria Igreja permitia aos reverendos no exercício do
cargo.
Em seu lugar viria o
também conhecidíssimo José de Noronha Nápoles
Massa. Sobre José Coriolano foi possível reunir um bom conjunto de
informações, antes não havidas na cidade: algumas até inéditas.
A comunidade precisava
conhecer um pouco mais sobre esse que foi o primeiro padre de Itaqui, sua
inserção no processo da identidade civil e religiosa do Rincão da Cruz.
Observação: Por envolver, nomes, datas e fatos antigos, pode ser que alguma
informação não proceda. Isso é possível. Acréscimos são bem vindos!
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