quarta-feira, 15 de agosto de 2018

La Cruz - intercâmbio; Festa Patronal e Encontro Tripartite.


LA CRUZ – Intercâmbio: Festa Patronal e Encontro Tripartite.
Pedras luminárias, fantasmas, túneis – mistérios do antigo Pueblo de la Cruz!
Prof.º Paulo Santos
Relógio solar de La Cruz - foto do autor

A cidade de La Cruz, província de Corrientes, Argentina, comemorou, dia 15/08, sua festa máxima – a Padroeira Nuestra Señora de la Assunción de Acaraguá y Mbororé.
Na oportunidade, o município aproveitou para sediar um Encontro Trinacional com autoridades dos 30 Povos Missioneiros.
Itaqui se fez representar pela Cia de Artes Sem Fronteira, através do belo trabalho sob o comando do professor Valtair Vasconcellos e seus bailarinos. Na oportunidade do dia 14/08, compareceram o professor Paulo Santos, pesquisador da história missioneira em Itaqui, professor Paulo Roberto da Silveira, Doutor em Ciências Humanas e coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Unipampa, professor Márcio Campos, da mesma Universidade, Campus Itaqui.
A Cia de Artes Sem Fronteiras produziu um extraordinário show sobre a temática missioneira misturando elementos da história jesuítico-guarani numa perspectiva moderna, culminando com a entrada triunfal da Virgem de Acaraguá y Mbororé, patrona da cidade, venerada de forma muito intensa pelo povo. Esta santa em madeira é egressa dos primeiros anos do povo cruzenho, sendo talhada a mando dos guaranis pela vitória dos mesmos contra os bandeirantes em 1641.
A arquiteta paraguaia Myriam Avila, num painel, explanou sobre “Un reencontro cultural para el desarrollo”, dentro do “3.º Encontro Trinacional de la Fe Missioneira”, enfatizando que era necessário que os povos dos países limítrofes missioneiros se envolvessem num ponto comum – a espiritualidade. Brasil, Argentina e Paraguai precisam formatar uma agenda de compromissos que caminhem no sentido de resgatar o ideal dos missioneiros: a vida em comunidade, a arte, o trabalho, a cultura e o espírito de fraternidade que unia esses povos. 
Prof.º Paulo Silveira, Prof.º Paulo Santos, arquiteta Myriam, integrante  do encontro, Rudi Alegre e  Valtair, da Cia.

Na mesma ocasião, o prof.º Paulo Santos falou do trabalho feito em Itaqui para resgatar a ideia de cidade missioneira, narrando o esforço do secretário Hamilton Berro, em 2008, junto com um abnegado grupo, do qual o professor participou, inaugurando no Parque Comendador Firmino Fernandes Lima uma escultura em pedra grês, tamanho natural, da cruz de Lorena. Pouco tempo depois, a mesma foi quebrada por vândalos, sendo substituída por outra em concreto com o mesmo formato.
Passar por La Cruz é passear pela história em movimento. Principalmente pela história do universo mítico-guarani-cristianizado. Um povo a qual nossa Itaqui estava subordinada enquanto território de criação de gado, o famoso Rincão da Cruz, antes do Tratado de Madri.
E para sacramentar esse ideário missioneiro houve a participação de Tope Manuel Cordolo, secretário de Turismo, verdadeira sumidade. Uma aula de história ao vivo em meio aos remanescentes do povo jesuítico de Nuestra Señora de Assunción de Acaraguá y Mbororé, a contemporânea La Cruz. A praça atual no mesmo local da primitiva redução, pedras talhadas com primor, colunas trabalhadas com requinte na pedra grês, pedras luminárias, fragmento da muralha da povoação.
Coluna de pedra da redução no local da atual praça da cidade
Estudiosos questionam a terminologia e uso das pedras luminárias, afirmando que elas não tinham o uso apregoado pela tradição popular. Tampouco há informação de que outros povos, de mesma raiz e modelo, usassem de sebo com a devida combustão, nestas pedras em formato de colunas, com o objetivo de iluminar as noites na praça das reduções.
Comitiva até da Alemanha costuma visitar frequentemente esta cidade histórica com pouco mais de 20 mil habitantes para ali sorver do conhecimento imaterial.
Instalados no centro histórico da cidade, micromuseus guardam a história dos antigos guaranis e dos seus preceptores missionários. 
Um pouco da estatuária missioneira preservada no museu local
Um pequeno sítio preserva o local onde estaria o forno que fabricava tijolos e telhas para o povo. Relatos de um túnel próximo a este sítio, descoberto quando funcionários cavavam para instalar a rede de esgoto cloacal da cidade.  Autoridades e arqueólogos foram chamados.
Olharam: - “ O furo era mais embaixo!”
Ou seja, parece que o túnel tinha uma extensão maior do que supunham. Aqui entram informações populares, críveis ou não, são informações populares, com o testemunho oral e a descrição sob o ponto de vista de quem  viu ou pensa que viu. Mandaram lacrar. Foi descoberta uma entrada para um espaço revestido de pedra abaixo do solo.
E o imaginário entra em campo. Populares dizem que os estudiosos mandaram lacrar porque ouviram sons muito estranhos vindos das profundezas daquele suposto túnel. E outros, mais afoitos, nos confidenciavam que este túnel sairia das imediações do forno da redução e iria até o rio Uruguai, atravessando este e entrando em Itaqui.
Só mesmo as obras e o universo atípico e atemporal do espaço jesuítico-guarani para permitir uma disgressão tão folclórica quanto esta. Temos muito ainda a aprender com nossos antepassados cruzenhos, dada nossa proximidade sentimental com este pueblo guarani.
Tomara que alguma carta de intenções seja idealizada por este Encontro Trinacional abençoado pela Virgem de Acaraguá y Mbororé.
Fragmento em madeira que fazia parte da porta de igreja da redução de La Cruz.





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terça-feira, 7 de agosto de 2018

Hospital dos curandeiros umbandistas em Porto Alegre - 1957!


Hospital dos curandeiros umbandistas em Porto Alegre – 1957!
Brizola nega, Sartori não aceita. Vão se queixar para o bispo!
Prof.º Paulo Santos
Passeando pelos jornais antigos, ocorreu-me a curiosidade de saber o que acontecia no ano de meu nascimento, no dia e mês de 15 de setembro de 1957. Pois bem, encontrei na Hemeroteca Digital, um serviço da Biblioteca Nacional, on line, uma riquíssima notícia. Tratava-se de um veto do prefeito Leonel Brizola, de Porto Alegre a uma doação concedida pelos vereadores à União de Umbanda para a construção de um hospital.
 A polêmica foi grande!
Até um bispo entrou na jogada e enviou ofício ao nobre prefeito congratulando-se com o veto e manifestando a insatisfação da Igreja Católica por tamanha desfaçatez. Imaginem doar terreno para os macumbeiros?
Algo impensável numa sociedade ainda marcada pela submissão ao domínio católico, uma presença muito forte junto ao Estado, mesmo com todas as transformações.
Os vereadores concederam a autorização para o que o município de Porto Alegre fizesse a doação de um terreno na avenida Ipiranga com objetivo dos curandeiros umbandistas construírem um hospital. O prefeito Brizola vetou, mas foi voto vencido.
O Bispo, Dom Luiz Victor Sartori, coadjutor de Santa Maria, queixava-se de que houve espírito eleitoreiro por parte dos vereadores, inclusive cobrando que vários eram católicos. E termina dizendo que quando precisassem de votos que fossem pedir para os umbandistas, e não procurassem os católicos, que, segundo ele, eram amantes do verdadeiro progresso cultural, moral e espiritual.
Os batuqueiros, coitados, estavam em baixa, como via de regra, sempre estiveram na história religiosa desse país.
Leonel Brizola deu entrevista à imprensa, explicando o veto, dizendo que  tinha ideia de construir casas para os servidores municipais naquele local, mas iria respeitar a lei. Inclusive destacou que somente concederia a escrituração do terreno após ouvir todas as autoridades competentes.
Cita que ouviu de uma autoridade da área de que a construção de um hospital pelos batuqueiros invocaria o perigo de práticas condenáveis e de uma formação viciosa da função educativa. O preconceito contra essa doutrina era pesado.
O terreno foi concedido, não se sabe o final dessa história.
E como dizia o ditado – não gostou, vá se queixar ao bispo!
Nesse caso, o Bispo teve que engolir o disparate dos curandeiros umbandistas serem contemplados com um terreno para a construção de um hospital.
Será que houve lobby dos batuqueiros dentro da Câmara de Vereadores ou será que boa parte desses vereadores não eram lá muito católicos.
Coisas do passado recente. Respingos de ressentimentos, preconceitos, maniqueísmos, formação de cartéis religiosos, sei lá...algo havia. Sempre houve!

O Minhocão de Itaqui

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