terça-feira, 7 de agosto de 2018

Hospital dos curandeiros umbandistas em Porto Alegre - 1957!


Hospital dos curandeiros umbandistas em Porto Alegre – 1957!
Brizola nega, Sartori não aceita. Vão se queixar para o bispo!
Prof.º Paulo Santos
Passeando pelos jornais antigos, ocorreu-me a curiosidade de saber o que acontecia no ano de meu nascimento, no dia e mês de 15 de setembro de 1957. Pois bem, encontrei na Hemeroteca Digital, um serviço da Biblioteca Nacional, on line, uma riquíssima notícia. Tratava-se de um veto do prefeito Leonel Brizola, de Porto Alegre a uma doação concedida pelos vereadores à União de Umbanda para a construção de um hospital.
 A polêmica foi grande!
Até um bispo entrou na jogada e enviou ofício ao nobre prefeito congratulando-se com o veto e manifestando a insatisfação da Igreja Católica por tamanha desfaçatez. Imaginem doar terreno para os macumbeiros?
Algo impensável numa sociedade ainda marcada pela submissão ao domínio católico, uma presença muito forte junto ao Estado, mesmo com todas as transformações.
Os vereadores concederam a autorização para o que o município de Porto Alegre fizesse a doação de um terreno na avenida Ipiranga com objetivo dos curandeiros umbandistas construírem um hospital. O prefeito Brizola vetou, mas foi voto vencido.
O Bispo, Dom Luiz Victor Sartori, coadjutor de Santa Maria, queixava-se de que houve espírito eleitoreiro por parte dos vereadores, inclusive cobrando que vários eram católicos. E termina dizendo que quando precisassem de votos que fossem pedir para os umbandistas, e não procurassem os católicos, que, segundo ele, eram amantes do verdadeiro progresso cultural, moral e espiritual.
Os batuqueiros, coitados, estavam em baixa, como via de regra, sempre estiveram na história religiosa desse país.
Leonel Brizola deu entrevista à imprensa, explicando o veto, dizendo que  tinha ideia de construir casas para os servidores municipais naquele local, mas iria respeitar a lei. Inclusive destacou que somente concederia a escrituração do terreno após ouvir todas as autoridades competentes.
Cita que ouviu de uma autoridade da área de que a construção de um hospital pelos batuqueiros invocaria o perigo de práticas condenáveis e de uma formação viciosa da função educativa. O preconceito contra essa doutrina era pesado.
O terreno foi concedido, não se sabe o final dessa história.
E como dizia o ditado – não gostou, vá se queixar ao bispo!
Nesse caso, o Bispo teve que engolir o disparate dos curandeiros umbandistas serem contemplados com um terreno para a construção de um hospital.
Será que houve lobby dos batuqueiros dentro da Câmara de Vereadores ou será que boa parte desses vereadores não eram lá muito católicos.
Coisas do passado recente. Respingos de ressentimentos, preconceitos, maniqueísmos, formação de cartéis religiosos, sei lá...algo havia. Sempre houve!

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