Hospital dos curandeiros
umbandistas em Porto Alegre – 1957!
Brizola nega, Sartori não aceita.
Vão se queixar para o bispo!
Prof.º
Paulo Santos
Passeando
pelos jornais antigos, ocorreu-me a curiosidade de saber o que acontecia no ano
de meu nascimento, no dia e mês de 15 de setembro de 1957. Pois bem, encontrei
na Hemeroteca Digital, um serviço da Biblioteca Nacional, on line, uma
riquíssima notícia. Tratava-se de um veto do prefeito Leonel Brizola, de Porto Alegre a uma doação concedida pelos
vereadores à União de Umbanda para a construção de um hospital.
A polêmica foi grande!
Até
um bispo entrou na jogada e enviou ofício ao nobre prefeito congratulando-se
com o veto e manifestando a insatisfação da Igreja Católica por tamanha desfaçatez.
Imaginem doar terreno para os macumbeiros?
Algo
impensável numa sociedade ainda marcada pela submissão ao domínio católico, uma
presença muito forte junto ao Estado, mesmo com todas as transformações.
Os
vereadores concederam a autorização para o que o município de Porto Alegre
fizesse a doação de um terreno na avenida Ipiranga com objetivo dos curandeiros
umbandistas construírem um hospital. O prefeito Brizola vetou, mas foi voto
vencido.
O
Bispo, Dom Luiz Victor Sartori, coadjutor
de Santa Maria, queixava-se de que houve espírito eleitoreiro por parte dos
vereadores, inclusive cobrando que vários eram católicos. E termina dizendo que
quando precisassem de votos que fossem pedir para os umbandistas, e não
procurassem os católicos, que, segundo ele, eram amantes do verdadeiro
progresso cultural, moral e espiritual.
Os
batuqueiros, coitados, estavam em baixa, como via de regra, sempre estiveram na
história religiosa desse país.
Leonel
Brizola deu entrevista à imprensa, explicando o veto, dizendo que tinha ideia de construir casas para os
servidores municipais naquele local, mas iria respeitar a lei. Inclusive destacou
que somente concederia a escrituração do terreno após ouvir todas as autoridades
competentes.
Cita
que ouviu de uma autoridade da área de que a construção de um hospital pelos
batuqueiros invocaria o perigo de práticas condenáveis e de uma formação
viciosa da função educativa. O preconceito contra essa doutrina era pesado.
O
terreno foi concedido, não se sabe o final dessa história.
E
como dizia o ditado – não gostou, vá se queixar ao bispo!
Nesse
caso, o Bispo teve que engolir o disparate dos curandeiros umbandistas serem
contemplados com um terreno para a construção de um hospital.
Será
que houve lobby dos batuqueiros dentro da Câmara de Vereadores ou será que boa
parte desses vereadores não eram lá muito católicos.
Coisas
do passado recente. Respingos de ressentimentos, preconceitos, maniqueísmos, formação de cartéis religiosos, sei lá...algo havia. Sempre houve!
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