terça-feira, 29 de agosto de 2017

Flotilha do Alto Uruguai


FLOTILHA DO ALTO URUGUAI
Vigilância da fronteira e tempo de  efervescência sócio- cultural
Ilustração do artista Gracco Bonetti - frontaria das ruínas de parte do prédio da Flotilha do Alto Uruguai, mais tarde usado pela empresa Construtora com uma unidade usina elétrica.
Prof.º Paulo Santos

Em 1866, Itaqui recebeu a preferência do Governo Imperial do Brasil para tornar-se sede de uma flotilha da Marinha de Guerra. Como essa era uma área de fronteira, estrategicamente situada em pontos de conflitos, com invasões castelhanas e paraguaias, resolveu o Governo Imperial guarnecer esses limites como forma de defender o território brasileiro de forma mais eficaz.
A Flotilha do Alto Uruguai foi constituída inicialmente dos navios Tramandaí, Taquari, e Uruguai .Logo depois vieram os encouraçados Rio Grande e Alagoas, assim como a canhoneira Greenhalg. A partir do estabelecimento da Flotilha do Alto Uruguai, em 1866, na fronteira de Itaqui, próxima à barra do Cambaí, teve incremento o progresso desse povoado.
Alguns anos depois (1882) já se constrói um prédio específico para o paço municipal (prefeitura), seguido do Teatro Prezewodowski (1886), contribuindo decisivamente para o fomento cultural. Várias companhias teatrais europeias demandavam ao teatro, via rio da Prata e Uruguai. Além disso, produtos e modismos do Velho Mundo, assim como do centro da Corte imperial brasileira chegavam às casas dos itaquienses.
   As moças “casadoiras deitavam os olhos”para os jovens navais.
Nessa Flotilha serviu um dos heróis da Marinha, o Almirante Saldanha da Gama, casado com uma itaquiense em 1867, Emília Josefina Coimbra de Mello. Casamento de 8 dias, apenas! A simples presença de Saldanha da Gama nesse insípido povoado já é “pano para muitas mangas”!
Entre 1872/1874 comandou a Flotilha, o Capitão -Tenente Estanislau Prezewodowsk,  destaque na Vila de São Patrício de Itaqui, ficando célebre pelo inusitado Incidente de Alvear, “mandando bala e bala” nos irmãos correntinos de Alvear. Os itaquienses gostaram! A Corte, não!
Nessa Flotilha existiu o Arsenal de Marinha, considerado na época muito superior ao de Porto Alegre e Rio Grande. Esse Arsenal tinha 26 metros de frente com uma grande porta e seis janelas de cada lado. Havia compartimentos para o diretor, secretaria, médicos, receituários, farmácia, enfermaria. Também, uma sala de armas bem provida de espingardas, revólveres, espadas, cartuchos e projetis para canhões. Oficinas a vapor para ferreiros e carpinteiro. Ao lado deste edifício ficava a casa do comandante da Flotilha. Ao fundo, duas guaritas na margem do rio Uruguai com um canhão e uma metralhadora.
As informações transitam num momento com a denominação arsenal, noutra flotilha, em algumas, forte.
No ancoradouro do arroio Cambaí postavam-se os barcos pequenos para o serviço do Arsenal e as embarcações citadas. Não restam mais nenhum desses edifícios, tampouco nada sobrou das embarcações, armamentos e instalações afins. Tem-se informação que a casa do comandante da Flotilha ainda existe, na referida quadra onde ficava esta instituição militar. As ruínas do prédio à margem do Uruguai são reminiscências pós-Flotilha. Sobre a casa do comandante cabe uma ressalva. A casa ora existente fica no lado esquerdo da rua Osvaldo Aranha, que desce sentido ao centro da cidade. As informações primitivas indicam que a casa do comandante ficava colada aos edifícios do arsenal, portanto no lado direito da rua, sentido arsenal/porto. Talvez essa casa fosse disponibilizada para outros comandantes fora do período inicial do estabelecimento.

Essas ruínas missioneiras(?) ficariam nos fundos da Flotilha.

 Em 26 de novembro de 1906 a Flotilha do Alto Uruguai foi dissolvida, os navios de guerra foram para Rio de Janeiro e o estabelecimento entregue ao Ministério de Guerra. Em seu lugar foi instalado um batalhão de infantaria, do Exército.
O Jornal A Federação, de Porto Alegre, instrumento do Partido Republicano, noticiava que em fevereiro de 1907, chegaram na capital dois grandes canhões de bronze que pertenceram ao Encouraçado Alagoas, inclusive utilizados na guerra do Paraguai, pesando 980 kilos, mais três chapas de couraça da torre do referido barco, pesando todas, 1.700 kilos e, mais ainda, cinco caixões contendo o arquivo da extinta Flotilha do Alto Uruguai. O interessante das chapas é que elas estavam com os sinais das balas inimigas. Tudo isso foi enviado para o Museu Naval do Rio de Janeiro. Algum itaquiense residindo na Cidade Maravilhosa pode, um dia acessar essas relíquias e comprovar se, de fato, estão lá.
Cheguei, em determinada oportunidade, a conhecer um canhão e algumas chapas de barcos e outros ferros encontrados quando a prefeitura da cidade fazia uma limpeza nos fundos do terreno do arsenal. Foi noticiado pela imprensa e parece que o canhão teria ido para o 1.º RC Mec. Tinha, inclusive, observação minha, o brasão da monarquia brasileira em seu dorso.
Em 1883 havia um forte esquema de segurança de nossa fronteira fluvial, especificamente na Flotilha do Alto Uruguai. Quase duas décadas depois de instalada a Flotilha, foi o governo imperial encorpando-a. Havia dois redutos de pedra maciça considerados fortes. Um, na beira do rio, com quatro metros de altura, inaugurado em 1881, chamado de Dois de Dezembro, em forma cônica. Em sua plataforma achava-se um canhão girando em todas as direções, calibre 120, marca Withworth.
Um outro forte, mais ao centro do destacamento, chamado de Onze de Junho, com cinco metros de altura, forma octogonal, tendo na base dois canhões, um calibre 30 e outro, inglês, calibre 32, fazendo fogo para todas as direções.
Observe, no lado esquerdo, o prédio branco, pois atrás dele, aquela construção poderia ser o Forte Onze de Junho, nomeado na reportagem  de 1883.
Além disso, havia dois canhões de bronze, de grande alcance, montados em plataformas móveis.
E mais, cinco canhões montados em carretilhas de campanha, sistema Withworth e La Hitte e outros de obuses de montanha. Somavam todos: dez canhões. Para nossa região isso era uma fortificação e tanto.
 Tem muita história ainda sobre esse sentimental e importante destacamento da marinha de guerra  brasileira nessas terras. Hoje: ruínas, mato, pedra e causos! Só!


2 comentários:

  1. A riqueza de detalhes embasa de maneira consistente esse detalhado trabalho de pesquisa. É de se lamentar que mais não possa ter ficado para que se desvendem mais detalhes daquela época, mas o fato de estar compartilhado na grande rede este relato histórico é algo a ser e muito comemorado e acima de tudo aproveitado pela geração atual que tem o dever de conhecer e preservar a nossa memória.

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  2. Desenvolvi uma pesquisa muito aguçada sobre este tema, visto que as referências que existiam eram poucas e confusas. como era? Quando começou? Por que não durou muito? coisas que me levaram a aprofundar a pesquisa. ainda continuo pesquisando e muito ainda tenho a acrescentar sobre tal assunto.

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