CASILHA
DO PORTO – ESTABELECIMENTO DE ÁGUA E SONHOS
Prof.º
Paulo Santos
“Eu já não sei se a graça
É o rio que passa
Pra ver a casilha
Ou é o tempo que passou
E a casilha ficou
Pra ver o rio passar”.
Com essa estrofe da
singularíssima canção de Rubinaldo Messina Kulmann (“Eu, a casilha e o rio”),
um dos mais fecundos compositores de Itaqui, autor da melodia que considero
quase que um hino da nossa identidade fronteiriça, pois com estes versos faço
referência a um dos prédios mais conhecidos do nosso tempo pretérito – a Casilha do Porto.
Muito tem se tem falado,
erradamente, sobre a Casilha. Certa feita, foi publicada uma reportagem sobre
Itaqui, num dos jornais da capital, onde dizia que a Casilha foi uma espécie de
guarita, um observatório, um fortim, tendo participação, inclusive, até na
Revolução Farroupilha. Mentira ou desconhecimento histórico? Cada um que julgue
como aprouver.
Visão interna das colunas, um maciço de pedras |
A Casilha nunca serviu a
tais fins. Ela tem “apenas” 129 anos de existência. Em 22 de janeiro de 1890, justamente às 12 horas, no Paço da Câmara
Municipal, no prédio, provavelmente onde está situada a prefeitura, o senhor
José Maria Garcia (parece que um imigrante uruguaio), viera propor um contrato
com a Intendência Municipal, na época comandada pelo Coronel Felipe Nery de Aguiar. Esse contrato previa a construção de
um estabelecimento, no Porto, com máquina hidráulica para fornecimento de água
potável aos itaquienses.
Para tanto, o município
concedeu um terreno no referido Porto, medindo 30 m por 60 m , tendo o contratante
direito a usá-lo por no mínimo 20 anos, não podendo ser usado para nenhum outro
fim. Estas instalações comportariam uma caixa de água com aparelhos, motor e
encanamentos para conduzir a água encanada no centro do rio e sua posterior
distribuição aos fregueses. O preço combinado não poderia exceder a 20 réis por
balde de 15 litros
d´água.
foto do autor |
Os trabalhos para a
fundação do estabelecimento, que hoje se conhece como Casilha do Porto,
começaram em abril de 1890, tendo
término previsto até janeiro de 1893.
Não se têm notícia de que a obra durou tanto tempo assim para ser construída. A
base do referido prédio é portentosa, resistindo às constantes cheias do rio
Uruguai. A estrutura continua a mesma, a parte superior foi restaurada,
mantendo o mesmo modelo.
Dessa “hidráulica”, a água
seria destinada à caixa de água, construída em ferro, localizada ao lado de um
dos portões laterais do Mercado, na travessa Domingos Lacroix. Daí era
transportada para algumas casas particulares, principalmente do centro da
cidade. Esse, pelo que se entende, era um privilégio de poucos. Aliás, comparar
o passado ao presente não é mera coincidência, embora boa parte da sociedade
tem acesso aos serviços mínimos. Tal serviço durou até 1932, quando foi instalado um sistema mais moderno de abastecimento
urbano de água.
Esta Casilha serve para
alimentar o imaginário do Rincão da Cruz, evocar suas raízes, passear pelas
reminiscências, evocar tempos românticos e suscitar um reencontro com o passado
mítico e sentimental de nossa terra, com os pilares (desta mesma Casilha),
entretanto, bem cravados no chão da contemporanedade.
Então, a pseudo pergunta
do texto de Rubinaldo, nos remete à divagação: - será que o rio passa para ver
a casilha ou a casilha ficou para ver o rio passar?
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