sábado, 3 de agosto de 2019

Casilha do Porto - estabelecimento de água e sonhos!


CASILHA DO PORTO – ESTABELECIMENTO DE ÁGUA E SONHOS
Prof.º Paulo Santos

“Eu já não sei se a graça
É o rio que passa
Pra ver a casilha
Ou é o tempo que passou
E a casilha ficou
Pra ver o rio passar”.

Com essa estrofe da singularíssima canção de Rubinaldo Messina Kulmann (“Eu, a casilha e o rio”), um dos mais fecundos compositores de Itaqui, autor da melodia que considero quase que um hino da nossa identidade fronteiriça, pois com estes versos faço referência a um dos prédios mais conhecidos do nosso tempo pretérito – a Casilha do Porto.
Muito tem se tem falado, erradamente, sobre a Casilha. Certa feita, foi publicada uma reportagem sobre Itaqui, num dos jornais da capital, onde dizia que a Casilha foi uma espécie de guarita, um observatório, um fortim, tendo participação, inclusive, até na Revolução Farroupilha. Mentira ou desconhecimento histórico? Cada um que julgue como aprouver.
Visão interna das colunas, um maciço de pedras
A Casilha nunca serviu a tais fins. Ela tem “apenas” 129 anos de existência. Em 22 de janeiro de 1890, justamente às 12 horas, no Paço da Câmara Municipal, no prédio, provavelmente onde está situada a prefeitura, o senhor José Maria Garcia (parece que um imigrante uruguaio), viera propor um contrato com a Intendência Municipal, na época comandada pelo Coronel Felipe Nery de Aguiar. Esse contrato previa a construção de um estabelecimento, no Porto, com máquina hidráulica para fornecimento de água potável aos itaquienses.
Para tanto, o município concedeu um terreno no referido Porto, medindo 30 m por 60 m, tendo o contratante direito a usá-lo por no mínimo 20 anos, não podendo ser usado para nenhum outro fim. Estas instalações comportariam uma caixa de água com aparelhos, motor e encanamentos para conduzir a água encanada no centro do rio e sua posterior distribuição aos fregueses. O preço combinado não poderia exceder a 20 réis por balde de 15 litros d´água.
foto do autor 
Não se sabe em que condições a água chegaria nas edificações. Tratada de alguma forma ou apenas em retirada do meio do rio e canalizada?
Os trabalhos para a fundação do estabelecimento, que hoje se conhece como Casilha do Porto, começaram em abril de 1890, tendo término previsto até janeiro de 1893. Não se têm notícia de que a obra durou tanto tempo assim para ser construída. A base do referido prédio é portentosa, resistindo às constantes cheias do rio Uruguai. A estrutura continua a mesma, a parte superior foi restaurada, mantendo o mesmo modelo.
Dessa “hidráulica”, a água seria destinada à caixa de água, construída em ferro, localizada ao lado de um dos portões laterais do Mercado, na travessa Domingos Lacroix. Daí era transportada para algumas casas particulares, principalmente do centro da cidade. Esse, pelo que se entende, era um privilégio de poucos. Aliás, comparar o passado ao presente não é mera coincidência, embora boa parte da sociedade tem acesso aos serviços mínimos. Tal serviço durou até 1932, quando foi instalado um sistema mais moderno de abastecimento urbano de água.
Esta Casilha serve para alimentar o imaginário do Rincão da Cruz, evocar suas raízes, passear pelas reminiscências, evocar tempos românticos e suscitar um reencontro com o passado mítico e sentimental de nossa terra, com os pilares (desta mesma Casilha), entretanto, bem cravados no chão da contemporanedade.
Então, a pseudo pergunta do texto de Rubinaldo, nos remete à divagação: - será que o rio passa para ver a casilha ou a casilha ficou para ver o rio passar?

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