quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Dr.º Tito Corrêa Lopes

 

Dr.º Tito Corrêa Lopes – o cara!

Um gestor além do seu tempo

Prof.º Paulo Santos

Apropriando-me de uma expressão-clichê de base coloquial moderna, diríamos que Tito Corrêa Lopes era um homem além de seu tempo. Substanciando esse concepção, avanço um pouco mais. Na definição do dialeto contemporâneo jovem – Tito “era o cara!!”. Sua visão estratégica e ações administrativas comprovam isso. Sem dúvida, foi um dos mais iluminados gestores do município ao longo dos 162 anos de emancipação política.

Tito Corrêa Lopes nasceu em Itaqui, em 1876, casando em 1899, se as fontes estiverem corretas, com Antonieta Lara Palmeiro. O casal gerou uma numerosa prole formada por Iracema, Celso, Plínio, Antônia, Aécio, Heloísa, Cezar, Luiz, Zaida, Cloé, Clotilde e Tito Bruno.

Em 1853 concluiu o curso de Engenharia Civil na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Sendo um membro de destaque do Partido Republicano, ascendeu ao poder intendencial em 1904, com mandato até 1908. Foi guindado ao segundo período, como intendente de Itaqui até o ano de 1912. Primeiramente, seu vice era o Coronel Pedro Dinarte Pinto e, no segundo, o Coronel Euclides Egydio de Sousa Aranha.

Como chefe do Executivo municipal, o tino administrativo era impressionante. Estava, como foi dito, à frente de sua realidade. Pensava incluir Itaqui na era da modernidade. Suas concepções e atos assim o demonstram. Em 7 de setembro de 1909 inaugura o majestoso Mercado público, uma obra sem precedentes na época. Será que esse gigante suportaria a produção econômica de Itaqui? Parece que não! Foi, inclusive, criticado pelo Dr.º Hemetério José Velloso da Silveira.

Pórtico de entrada do Mercado Público - 1909
imagem itaquirs.com.br

Tito pensava no “rio de dinheiro” que brotaria com a instalação do Saladeiro São Felipe, dos ingleses Dickinson em 1910. O ilustre administrador pugnava: “esse estabelecimento de proporções sem igual no Estado, marcará uma nova era para nossos criadores até aqui sujeitos às especulações saladeristas.” E isso viria a se confirmar.

Antes do advento do Saladeiro, Itaqui possuía, em 1909, 300 mil cabeças de gado e mais de 80 mil ovelhas. Com a instalação desse megainvestimento, o abate de animais duplicou fazendo com que a maior parte dos fazendeiros locais vendesse a produção para o Saladeiro, ainda que numerosas tropas vindas de outras cidades e até países vizinhos aportassem para abate.

Itaqui vive o apogeu de seu desenvolvimento. Organiza-se uma linha da estação ferroviária para São Borja. A navegação no rio Uruguai e Ibicuí, subvencionada pelo governo federal fluía normalmente, dando o escoamento da produção primária do município. Objetivando organizar a estrutura do município para absorver tamanha demanda de serviços e infraestrutura, nesse período é criado o Cais do Porto, um dos mais organizados da fronteira naqueles tempos.

Com a receita em franca projeção, Tito Corrêa Lopes dá asas ao projeto de urbanização da cidade, construindo e delimitando calçadas, calçando algumas ruas e fomentando a construção de prédios suntuosos no centro da cidade que até hoje alguns estão de pé, atestando o poderio econômico, a sutileza artística dos proprietários e a qualidade dos construtores locais, com ênfase para o conceituado arquiteto Pascoal Minoggio.

Não contente com os ultrapassados lampiões a hidrocarbureto, Tito sonhava com a instalação da energia elétrica, gerando um progresso sem par para os munícipes. Ainda, mesmo tendo uma caixa d’água no Mercado Público, pensava alto – queria que esta fosse canalizada para a casa de alguns moradores. E mais, achava urgente a construção de uma rede de esgotos. E olhe, isso eram projeções de 1909 – um século atrás.

Itaqui estava saindo de um período de agitações políticas, de efervescências e contendas partidárias, num tempo de exacerbação dos ânimos, com mortes, rixas, emboscadas, crimes encomendados – resquícios da primeira República. Emoções serenadas, havia a necessidade de se construir uma nova unidade político-administrativa, Itaqui precisava disso. O intendente Tito Corrêa Lopes foi, a meu juízo, o artífice dessa mudança.

Grandes fazendeiros destacavam-se no cenário municipal, alguns sendo considerados, até mesmo, como dos mais expressivos do Estado, como por exemplo Ismael Floriano Machado Fagundes, com mais de três fazendas e  criador de mais de 30 mil reses. Nessa esteira, fervilhava o comércio fluvial através do intercâmbio comercial entre os países da Bacia do Prata. Via rio Uruguai, migravam para Cuba e Europa produtos da região. Do Velho Mundo vinham as novidades da moda das grandes metrópoles, enfeitando a casa das famílias abastadas da elite itaquiense. De outro lado, as camadas mais inferiorizadas socialmente tinham acesso a trabalho com as inúmeras formas de criação de empresas e serviços no município.

Atento a esse crescente progresso, o Dr..º Tito Corrêa Lopes pega carona no cavalo da história e apeia num contemporâneo tempo envolto em aura de modernidade.

Ele mesmo previa: “O que está feito, porém, não basta.” Ele, de fato, encarou o futuro.

Tito construiu uma história de envolvimento na política rio-grandense, sendo importante divulgador da doutrina positivista. Em 1892 assina, junto com importantes lideranças, um manifesto do Clube Republicano. No ano seguinte eclodiria a famigerada Revolução Federalista.

Depois de concluído seu período como intendente, Tito assume a função de engenheiro e é chamado para outras funções. Em 1915 é nomeado para fiscalização do Porto do Rio de Janeiro, como engenheiro ajudante.

Em 1922 é designado como chefe do Porto de Santa Catarina. Nesse período, envolve-se numa polêmica. Um jornalista, de nome Crispin Mira, de Santa Catarina, denunciava possíveis irregularidades de Tito na administração da Comissão de Melhoramentos do Porto daquele estado. Ao saber das denúncias, Tito desafia o jornalista para um duelo. Este aceita, entretanto para “duelo à pena”. O jornalista é assassinado e Tito é acusado, tendo em vista que seu filho Aécio Lopes invade o jornal e luta com Crispin, disparando um tiro no mesmo, que faleceria dias após. Os jornais da época noticiam que houve processo e o mesmo teria sido absolvido. Tanto que Aécio Lopes, pouco tempo depois énomeado subinspetor dos portos e rios, em Santa Catarina e, em 1930, casa com a filha do governador de Santa Catarina.

Parece que Tito tinha bons relacionamentos politicos  e mantém-se no cargo, apenas passado um ano é designado para outra unidade da confederação.

Após o incidente, é deslocado para outras unidades. Sofre com sérios problemas de saúde, tanto que em 1929, na Câmara, Flores da Cunha discursava enfatizando que o governo mandou remover o engenheiro Tito Corrêa Lopes, do porto de Rio Grande para o de Ilhéus, quando este “estava entrevado, no fundo de uma cama, quase em extremis.”

Foi um dos propagandistas da República e fervoroso agente político, competente profissional da engenharia, prestando serviços importantes em várias localidades. Seu tempo findou no dia 15 de junho de 1931, no Rio de Janeiro. É lembrado na cidade de Itaqui através do nome de uma destacada escola estadual e uma importante rua na entrada da cidade. Talvez seja pouco para o muito que este intendente fez pela cidade.

Entretanto, o trem da história sempre consegue entrar nos trilhos de forma correta. No fim da linha haverá pessoas para saudar. Muito mais do que isso – reverenciar quem soube viajar pelo tempo com propriedade. Tito Corrêa Lopes, a meu ver, foi um exemplo clássico dessa competência. Foi “o cara!”.

 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Coronel Antonio Fernandes Lima

               História e genealogia do Coronel Antonio Fernandes Lima

“Um dos mais nobres e gloriosos chefes da impertérrita cavalaria rio-grandense

Prof.º Paulo Santos

 

A família Fernandes Lima, de Itaqui, RS, tem sua origem na pessoa do Coronel Antonio Fernandes Lima, uma das referências históricas da formação do município e figura importante na construção do espaço histórico do município, seja como líder militar destacado, seja como autoridade respeitada e sempre lembrada na linha do tempo do espaço histórico itaquiense.

Foto Coronel Antonio Fernandes Lima

Antonio Fernandes Lima era filho de Francisco Fernandes Lima, natural de Curitiba,(noutra fonte é citado como natural da Vila de Santo Antonio, SP) e de Isabel Francisca do Amor Divino, natural de Rio Pardo, RS, casados em 1790. Há informação de que em 22 de novembro de 1791, Francisco era homem de negócios estabelecido em São José do Norte, não se sabe se seria o mesmo.

Era neto paterno de Antonio Fernandes Lima e Maria Domingues, naturais de Curitiba, PR, e materno de Francisco Xavier de Godoi e Rita Maria, da cidade de São Paulo, SP.

Antonio nasceu em Cachoeira, Rio Grande do Sul, em 27 de julho de 1803 e foi batizado em 1804, no Oratório de Santa Maria da Boca do Monte. No registro da obra  “História do município de Santa Maria – 1797-1933, Livraria Selbach, Porto Alegre, 1933, de autoria de J. Belém, consta, na página 32, consta como padrinhos, os próprios pais Francisco e Izabel Francisca, o que não é comum.

Teve como irmãos:

1.    Fortunato Fernandes Lima – nascido em 20 de maio de 1799 e registrado no mesmo ano na Paróquia de Santa Maria da Boca do Monte, RS;

2.    Francisco Fernandes Lima, ambos falecidos antes de 1855;

3.    Jeronimo Fernandes Lima casado com Porfiria Antonia Paula  Fernandes, falecido em 1886. Teria nascido em 1809. Em 1859 aparece nos registros da Guarda Nacional de Itaqui;

4.    Gertrudes Francisca de Lima casada com Manoel Cardoso de Sousa. Batizada em Santa Maria da Boca do Monte, falecida em 1881. Francisca e Manoel tiveram 18 filhos, entre eles, o célebre Coronel José Fernandes de Sousa Docca.

5.    Francisca – batizada em 1805, em Santa Maria da Boca do Monte;

6.    Manoel – casado com Bárbara Maria da Silva. Pais de:

6.1.        Francisca – outra – batizada em 1800, casada com Claro José da Silva, em 27 de maio de 1816, em Santa Maria, RS;

6.2.        Luzia – batizada em 1805, em Santa Maria, RS, casada com Joaquim Rodrigues da Costa, em 01 de agosto de 1821, na mesma cidade;

6.3.        José – batizado em 1808;

6.4.        Alexandrina – casada com Inácio Rodrigues dos Santos, em 22 de janeiro de 1816, em Santa Maria, RS.

Não se tem muitos registros da existência de Antonio após o batizado de 1804 até o período seu no Rincão da Cruz – Itaqui, apenas informes de sua carreira militar.

Antonio, segundo obra do Cônego João Pedro Gay, comentada por Sousa Docca (1980, p.323-327), alistou-se em 1819 no Regimento de 2.ª Linha N.º 23, transferindo-se depois para o 24.º. Em 1831 passou a pertencer ao 4.º Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional, combatendo a favor da legalidade na Revolução Farroupilha.

Promoções: 1836 – alferes; 1837 – Tenente; 1838 – Capitão; 1842 – Major; 1844 – Tenente-coronel – 1858 – Coronel.

Há, por outro lado, informação de Antonio residindo em Itaqui em 1868, na Rua da União, atual Humberto Degrazia.

Nestas imediações funcionava o primeiro quartel de Itaqui, comandado pelo mesmo Coronel Antonio Fernandes Lima. Era de pedra e coberto de telhas, sabendo-se, pelas fontes, de que boa parte do material foi cedido pelo próprio comandante. Antes, em 1865, era citado como um dos comandantes em chefe das forças que lutaram contra a invasão paraguaia em Itaqui e São Borja. Era o comandante da Guarda Nacional nesta fronteira, uma autoridade importante e respeitada.

O Coronel Antonio Fernandes Lima foi execrado por uma parte da imprensa da época por não estar preparado e por não poder conter a invasão do inimigo em Itaqui e São Borja. Souza Docca, em obra específica desmancha esta visão.

No ano de 1866, Antonio teria uma casa de negócio na Rua da Boa Vista, no início de Itaqui e solicitava o respectivo alvará para continuar com a mesma. Esta casa seria um pedido da terceira esposa, Maria Eulalia, que gostaria de abrir um negócio na praça do porto, entrando com pedido em 30/07/1866.

Reinauguração busto Cel. Antonio Fernandes Lima, Praça Matriz Itaqui, 2015
Imagem Ascom-PMI

O Coronel Antonio Fernandes Lima pertencia às irmandades religiosas de Nossa Senhora da Conceição e Divino Espírito Santo, de Itaqui, e teria se comprometido a doar 500$000 para construção da nova igreja, registro que ficou em seu testamento de 1875.

Conforme as fontes consultadas, Antonio teria tido três relacionamentos bem documentados em termos de registro e reconhecendo em testamento mais dois filhos sem a referência da mãe.

Seria, pelas referências estudadas, a seguinte genealogia do Coronel Antonio Fernandes Lima:

1.ª esposa Anna Maria da Conceição, falecida em 1849, da qual teria os filhos:

1. BELISÁRIO FERNANDES LIMA – Tenente-coronel, nascido em 4 de dezembro de 1822 e falecido em 30 de agosto de 1894. Casado com Marfisa Jardim de Lima. Tiveram os seguintes filhos;

     1.1. Rosalima Fernandes Lima – nascida em 1854, falecida em 2 de dezembro de 1927. Casada com o tio Frutuoso Fernandes Lima (filho do Coronel Antonio Fernandes Lima e Leonidia de Oliveira);

      1.2. Audelima Fernandes Lima – nascida em 26 de março de 1856, falecida em 30 de julho de 1951, casada com o tio Antonio Fernandes Lima Filho (filho do Coronel Antonio Fernandes Lima);

       1.3. Praudelima (ou Brandelima) Fernandes Lima – nascida em 1859, casada com João José Victorino. Falecida em 15 de julho de 1943. Eram pais de Setembrino Fernandes Vitorino, assassinado pelo advogado Armando Porto Coelho, em crime passional, dia 26 de abril de 1914;

        1.4. Cylima Fernandes Lima – nascida em 1862, casada com Paulo Moura em 30 de julho de 1879;

         1.5. Avelima Fernandes Lima – casada com Manuel Nunes da Silva (este nome aparece como esposo de outra Fernandes Lima), em 30 de julho de 1879;

          1.6. Romalima Fernandes Lima - nascida em 21 de fevereiro de 1871, casada em 1888, com Marciano Pinto Barbosa, falecida em 26 de setembro de 1938;

         1.7. Izolima Fernandes Lima – nascida em 1872, casada com Olavo Velasco Molina Bergué;

         1.8. Narciso Fernandes Lima – nascido 1857, casado, em 20 de janeiro de 1878, com a tia Maria da Glória Fernandes Lima (filha do Coronel Antonio com Maria Eulalia Marques). Pais de:

              1.8.1. Alda Fernandes da Cunha – nascida em 1898, falecida em 25 de agosto de 1926, casada com Adeodato Canabarro Cunha;

               1.8.2. Amador Fernandes Lima – nascido em 1886, falecido em 3 de fevereiro de 1938;

               1.8.3. Autilio Fernandes Lima – nascido em 1880, falecido em 3 de agosto de 1933;

               1.8.4. Adelino Fernandes Lima – nascido em 19 de abril de 1889, falecido em 15 de março de 1971;

               1.8.5. Narciso Fernandes Lima – nascido em 8 de junho de 1903;

               1.8.6. Aurélio Fernandes Lima – nascido em 27 de janeiro de 1879;

         1.9. Eduardo Fernandes Lima – nascido em 1860, casado em primeiras núpcias com Maria da Conceição Fontoura e, em segundas, com Emilia de Brito. Bacharel. Foi o primeiro presidente do conselho municipal que dirigiu Itaqui após a proclamação da República;

          1.10. Firmino Fernandes Lima – nascido em 1871, casado com a tia Maria Estefania Fernandes Lima (filha do Coronel Antonio e Maria Eulalia Marques), casaram por volta de 1890. Firmino faleceu em 26 de junho de 1942. Pais de:

                1.10.1. Clóvis Fernandes Lima -

          1.11. José Fernandes Lima – falecido em 9 de julho de 1878. Sem mais dados.

O Coronel Belisário Fernandes Lima decidiu que suas filhas não perderiam jamais o nome LIMA. Dessa forma, batizou todas elas tendo no primeiro, a sílaba final LIMA. Assim, estaria sacralizada a manutenção de tão simbólico sobrenome.

Observa-se também que uma estratégia familiar era o casamento entre parentes, como forma de manter a unidade e manter o patrimônio em casa.

2. ANGÉLICA FERNANDES LIMA – nascida em 1829, casada com o Tenente-coronel Feliciano de Oliveira Prestes, falecida em 21 de fevereiro de 1903, em Itaqui. Tiveram uma única filha, falecida precocemente com 3 anos. Feliciano tinha um filho com outra mulher, de nome Veridiano de Oliveira Prestes;

3. FIRMINO FERNANDES LIMA – casado com Belitarda de Almeida Lima. Teve a seguinte filiação:

          3.1. Maria Angélica Fernandes Lima – nascida em 1864 e falecida, solteira, em 24 de julho de 1881, em Itaqui;

          3.2. Rudezinda Fernandes Lima – nascida em 01 de março de 1883, batizada em 14 de abril de 1886, Itaqui, casada com Manuel Nunes da Silva (este nome aparece como esposo de uma descendente citada no item 1.5);

          3.3. Cândida Rosa Fernandes Lima – nascida em 25 de maio de 1874, batizada em 7 de agosto de 1874, Itaqui;

          3.4. Egydio Fernandes Lima – nascido em 15 de janeiro de 1878, batizado em 10 de janeiro de 1879, Itaqui;

           3.5. João Fernandes Lima – nascido em 19 de novembro de 1871, falecido em 01 de julho de 1874;

           3.6. Balbina Fernandes Lima – nascida em 1880, falecida em 1882;

           3.7. Adriana Fernandes Lima – nascida em 1866, falecida em 05 de maio de 1943;

           3.8. Antonio Fernandes Lima – nascido em 1863, falecido em 16 de março de 1934;

            3.9. Honório Fernandes Lima – nascido em 18 de janeiro de 1873, batizado em 13 de setembro de 1876;

            3.10. Hermes Fernandes Lima – nascido em 28 de agosto de 1876;

2.ª esposa – Leonídia de Almeida Oliveira falecida em 1858. Filiação:

4. FRUCTUOSO FERNANDES LIMA – nascido 16 de abril de 1851, falecido em 6 de junho de 1932. Casado com a sobrinha  Rosalima Fernandes Lima. Pais de:

           4.1. Belisário Fernandes Lima – nascido em 1875, falecido em Itaqui, em 01 de dezembro de 1944;

           4.2. Eduardo Fernandes Lima – nascido em 1879;

5. ROSALINA FERNANDES LIMA – nascida em 1855, falecida em 1881, em Itaqui;

6. GABRIEL FERNANDES LIMA – nascido em 1856, casado em 1877 com Antonia Paz de Almeida. Falecido em 28 de novembro de 1901, em Itaqui.

7. ISRAEL FERNANDES LIMA – (não consta no testamento de Antonio/Leonidia, mas é citado como filho dos dois). Nascido entre 1856/57, casado com Maria Candida Guterres Fernandes. Pais de;

          7.1. Edivirges Fernandes Lima casada com Vitalino Rodrigues Cabral, no Uruguai:

          7.2. Honório Fernandes Lima casado com Idalina Nunes Cabral, em 4 de janeiro de 1880;

3.ª esposa – Maria Eulália de Limaque era 42 anos mais nova que ele e que casaria, após a viuvez, em 16 de junho de 1877, com Balbino Marques da Silva. Com Maria Eulália, Antonio é pai dos filhos;

8. MARIA DA GLÓRIA FERNANDES LIMA – nascida em 1863, com 15 anos casa, dia 20 de janeiro de 1878, com o sobrinho Narciso Fernandes Lima (filho de Belisário Fernandes Lima e Marfisa Jardim de Lima)

9. MARIA ISABEL FERNANDES LIMA – nasceu entre 1863 e 1868, casada em 19 de junho de 1880, com Rodolfo José Lacroix, falecida em 30 de junho de 1888, em Itaqui;

10. MARIA DA CONCEIÇÃO FERNANDES LIMA – nascida em 1867,

11. PEDRO FERNANDES LIMA – nasceu em 22 de fevereiro de 1872, batizado em setembro de 1872, Itaqui, sendo que tal registro foi feito em 11 de novembro de 1874;

12. MARIA ESTEFANIA FERNANDES LIMA – nascida em 7 de janeiro de 1874, casada com o sobrinho Firmino Fernandes Lima (filho de Belisário Fernandes Lima e Marfisa Jardim de Lima). Falecida em 22 de julho de 1934;

Antônio, em testamento, reconhece ainda, dois filhos:

13. ANTONIO FERNANDES LIMA FILHO – nascido em 1854. Tenente da 19ª Cia do Batalhão da Guarda Nacional, entretanto em registro de passaporte, Antonio teria nascido em 25 de março de 1844. Casado com a sobrinha Audelima Fernandes Lima (filha de Belisário e Marfiza). Pais de:

        13.1. Romalimo – nascido em 1880;

         13.2. Saul – nascido em 1893, falecido em Itaqui, em 10 de janeiro de 1946;

14. ANNA FERNANDES casada com Luís José Gomes.

Em 1873, o Coronel Antonio Fernandes Lima requereu que lhe concedessem as honras de brigadeiro honorário. O processo arrastou-se e não tinha sido julgado quando faleceu. Após, o Conselho Militar teria se pronunciado a favor de tal pedido, ainda que não fosse oficializada a patente. 

Em 1892, a estância Boa Vista, do Coronel Fernandes Lima fora invadida pelas forças federalistas da Revolução de 1893, sendo muitos objetos roubados, animais furtados e os demais destruídos.

Em Itaqui sua lembrança está eternizada no bronze, em busto da Praça Marechal Deodoro, frente ao Teatro Prezewodowski. Resumindo a biografia do ilustre militar, no livro ‘Invasão Paraguaia”, o Major Sousa Docca vaticina:

“(...) O Coronel Antonio Fernandes Lima, um dos mais nobres e dos mais gloriosos chefes da impertérrita cavalaria rio-grandense”.

               

Observação: Pode ser que algum nome, sobrenome, datas, ascendente ou descendente possa conter alguma imprecisão. Correções serão bem vindas e acréscimos, idem.

FONTES DE PESQUISA:

Arquivos da Prefeitura Municipal de Itaqui, Câmara Municipal de Vereadores, Igreja Matriz de São Patrício, Cúria Diocesana de Uruguaiana, Arquivo Público do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Obras: Invasão paraguaia na fronteira brasileira do Uruguai. Major Sousa Docca/Padre João Pedro Gay, 1980

História do município de Santa Maria, J.Belém, 1933

Familysearch.org

Hemeroteca digital brasileira

Sites e blogs de genealogia diversos.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

As primeiras décadas do século XX no Itaqui Grande do Sul!

 

PRIMEIRAS DÉCADAS DE UM CONVULSIVO INÍCIO DE SÉCULO NO RINCÃO DA CRUZ -  ITAQUI GRANDE DO SUL!

Prof.º Paulo Santos

Mal inicia o século XX e grassavam acontecimentos das mais diversas tonalidades no Itaqui que ensaiava tímidos passos rumo à modernidade.

Concretizada a República, os caciques povoeiros arregimentam forças e vão polarizando as ações coletivas e sociais. No ano de 1900, falecia o Coronel Felipe Nery de Aguiar, primeiro intendente, nomeado, do município de Itaqui. O reduto republicano sente a perda deste importante líder político e militar.

Coronel Felipe Nery de Aguiar - 1.º intendente de Itaqui

No período de 1904 a 1908 assume o comando dos republicanos, como intendente, o célebre Dr.º Tito Corrêa Lopes, um dublê de administrador, arquiteto e político. Observa-se, muito claramente, que Tito elencou um projeto de modernização da cidade bastante ambicioso para o período. Contrata Pascual Minoggio, um dos mais destacados arquitetos e tocador de obras do Itaqui, dando-lhe devidos poderes e desanda em projetos. Calça ruas, urbaniza adequadamente a cidade, incentiva a construção de casas suntuosas no centro. Pensa Itaqui diferente dos povoados esquecidos neste longínquo rincão.

Idealiza e constrói o Mercado Público de Itaqui, cuja fundação deu-se em 7 de setembro de 1909 – um megainvestimento, digamos. Objetivava transacionar todo comércio  da cidade e, junto, atrair a movimentação de barcos que faziam o intercâmbio de mercadorias via rio Uruguai, juntamente com o advento do Saladeiro São Felipe, dos ingleses. A ideia era trazer a movimentação desta empresa e explorá-la no novo mercado. De boas intenções, o céu estava cheio! Não deu muito certo! O antigo magistrado Dr.º Hemetério José Velloso da Silveira o critica, insinuando que mesmo que Itaqui comercializasse tudo o que ela produzia, mesmo assim, não ocuparia nem a metade dele. Visão de empreender, investimento de risco, tudo conspirava a favor em dado momento, e contra, noutro.

O Saladeiro dos Dickinson surge em 1910 e permanece até por volta de 1927 com movimentação de compra de gado e abate elevadíssima, exportando para fora do país, inclusive. Tinha embarcações próprias e um pequeno porto. A produção saía direto da sede e não passava pelo mercado.

Em 1900, no advento daquele século, Itaqui contava com cerca de dez mil habitantes, um terço aproximado da população de hoje.

Em 1902 até um duelo aconteceu na florescente povoação. Um marinheiro da Flotilha, desconfiado que sua saliente amada andava de amores com outro, desafia-o para um duelo. Um oficial consentiu e serviu de mediador. Os contendores batem-se num duelo desigual. Espadas em riste, pouca técnica, nenhum resultado satisfatório, apenas ferimentos ocasionais culminou o inusitado duelo no alvorecer do século XX. O inusitado à luz dos novos tempos!

No final de 1904, o Dr.º Aureliano Pinto Barbosa, uma das figuras mais representativas da história itaquiense teve seu mandato cassado. Primeiro, pela instância municipal, depois referendado pelo Supremo Tribunal. Humores da política da época. Era republicano, depois virou federalista.

1904 – tensões à flor da pele! Dia 18 de agosto, alguns homens armados de espingardas invadem o jornal O Farol, de José dos Santos Loureiro e o empastelam. Destruíram o que puderam e deixaram claro, a mando de alguém, queriam, por certo, silenciar certas posições políticas do lugar.

Documento da Marinha brasileira, em data de 26 de novembro de 1906, extingue a fluorescente Flotilha do Alto Uruguai, fina flor da cultura naval brasileira na costa do Uruguai, embicada próxima à foz do arroio Cambaí. Três décadas encerravam um ciclo. Itaqui perdia luminosidade no cenário estratégico fronteiriço. 40 anos de uma unidade da Marinha de Guerra nestas plagas. Unidade onde serviram um Saldanha da Gama, um Francisco Duarte da Costa Vidal, Estanislau Przewodowski entre outros.

Coisas estranhas aconteciam no Itaqui  - debutando no século XX – dia 11 de fevereiro de 1908, pasmem, o “minhocão” surge nas águas revoltas do rio Uruguai próximo ao cais do porto, em início de construção. Um estranho animal perto de dez metros com corpo mais grosso que um touro, cabeça em formato de cobra, cauda semelhante a de um cavalo. Pelo relato do jornal A Ordem de Itaqui, havia mais de 40 pessoas que assistiram este misterioso fenômeno. Ilustração de Gracco Bonetti, a nosso pedido, sobre a aparição do referido monstro no cais do porto de Itaqui.


Alaridos, conversas obtusas, projetos de busca de dinamite para matar o monstro! Coisas estranhas no alvorecer do século. Folclore? Que nada! Reportagem de jornal e tal!

Depois, mortes violentas de personalidades locais, ingerências políticas, clãs poderosas, retaliações...enfim...

Em 8 de outubro de 1914, o advogado Bolivar Pinto Barbosa é assassinado pelo Dr.º Otávio de Ávila, na intendência, hoje Prefeitura, por questões de trabalhos advocatícios. Era intendente, o Coronel Euclides Aranha, pai do famoso Dr.º Osvaldo Aranha. Bolivar e Àvila eram advogados e defendiam causas entre clientes conhecidos na comunidade. A repercussão foi estrondosa. O governo do Estado providenciou no inquérito e investigação de forma muito contenciosa, pois Ávila era filho de um falecido ministro, presidente de província e senador do Império, e por ser deputado provincial e ter algum destaque econômico no cenário local também.

No mesmo ano, dia 26 de abril, outro advogado, amigo íntimo do futuro presidente da República, Getúlio Vargas, de nome Armando Porto Coelho, assassinou a Setembrino Vitorino, moço ainda. O crime, confessadamente, foi passional. Porto Coelho troca intensa correspondência com Getúlio Vargas, então um célebre advogado, confessando os motivos.

1918 – ano da gripe espanhola. Mais de 1.400 pessoas morrem em Itaqui. Dr.º Roque Degrazia é nomeado Diretor de Higiene, ficando na linha de frente de enfrentamento da pandemia e seus reflexos na cidade. Entre as vítimas, a esposa do fazendeiro Ismael Floriano Machado Fagundes, senhora Laudelima Figueiredo Floriano Machado. No mesmo ano, o Major Antonio Duarte da Costa Vidal compra o Chalé dos Barbosa, cuja planta é atribuída a Pascual Minoggio,  e grande parte de campos na Fazenda Santa Maria, na costa do Ibicuí. Segmentos da elite negociam patrimônios, outros são elevados a holofotes mais vibrantes na ascensão social.

Dia 15 de maio de 1920 é assassinado Ismar Floriano Machado, filho, jovem ainda, do fazendeiro Ismael Floriano. As más línguas atribuíam a Ávila a ordem para tal execução, visto que o dito cujo envolvera-se em diversos enfrentamentos com a polícia local, provocando e fazendo badernas públicas.

Ismar Assis Machado Floriano - filho de Ismael Floriano, morto pela polícia de Ávila

22 de julho de 1920, uma emboscada a mando de membro da família Floriano pôs fim à vida do intendente Otávio de Ávila. Vingança pela morte do filho Ismar, vingança pela morte de Bolivar Barbosa, amigo da família. Cobranças. Tudo feito à bala! No velho estilo caudilhesco.

Dr.º Otávio de Avila - intendente assassinado de emboscada em 1920

Um ano após, 1921, o patriarca Ismael Floriano Machado Fagundes falece e a família começa a esfacelar-se. Ressentimentos. Vinganças. Justiça tentando encontrar culpados e ou inocentes. Gente poderosa a serviço de um ou de outro. Flores da Cunha, Getúlio Vargas entre outros notáveis defenderam esse povo.

Observem, então, somente nestas duas décadas dos primórdios do século quanta efervescência no caldeirão político-social de Itaqui.

Questões de honra, cobranças, padrões comportamentais de então. Curiosidades inusitadas. Posturas éticas compatíveis à elite pastoril, vínculos rompidos, alianças preservadas. Continuidades. Preservação do status quo da sociedade fronteiriça naqueles distantes anos quando começavam a germinar sementes progressistas.

A pacata cidadezinha missioneira, de pouco mais de 10 mil pacatos habitantes, vê-se entre o espanto e o terror. Intrigas políticas resolvidas no fio da navalha e no estrondo da winchester. Homens de casaca e fraque, mulheres vestidas ao rigor da moda vitoriana, recatadas e sóbrias, moleques calças-curtas correndo nas poeirentas ruas do povoado.

Tudo...tudo...tudo combinando com um cenário típico de uma distante cidade fronteiriça, longe das capitais, entretanto contrastando com o rigor realístico de um enredo pós-moderno: muitas vidas ceifadas, famílias destruídas, histórias encurtadas. Enfim, 20 anos bem vividos. Belo material para roteiristas e historiadores, agora ofertados aos contemporâneos habitantes do “Portal do Rio Grande”, nossa querida Itaqui!

 

 

 

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

O Passo do Silvestre!

 

A lenda, ou não, do Passo do Silvestre!

Versões e fatos, datas controversas e muito, mas muito pano para romance!

Prof.º Paulo Santos

 

                                Foto do Passo do Silvestre - Crédito: Guia Macamp

Um tema que atrai, sobremaneira, nossa atenção é o Passo do Silvestre – origem do nome e o entorno simbólico que o cerca. Não são muitos os autores que tratam com objetividade este assunto. Observa-se a presença acentuada do elemento folclórico e o sobrenatural contrapondo-se ao rigor histórico.

Destaco aqui dois autores que tratam do episódio do Passo do Silvestre sob a ótica da mistura do lendário com o factual. Primeiramente, Jesus Pahim, escritor, historiador, há muito radicado em Itaqui e uma das referências da pesquisa histórica na região, através de sua obra Lendas de Itaqui. Coleção Mitos e Lendas de Itaqui. 1.º Volume, composto pela Novigraf, 2005.

 

                                       Capa do livro de Jesus Pahim

O outro, do grande autor uruguaianense, Colmar Duarte, poeta e ficcionista, um dos grandes artífices da Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, com sua obra O Fantasma do Passo do Silvestre, editada pela Movimento, Porto Alegre, 2016. E a qual tenho um volume autografado pelo autor, recebido através do prof.º Milton Pinto Ribeiro.

Capa do livro de Colmar Duarte, Editora Movimento

Pahim  (p.23/26) trabalha com a fundamentação da lenda mesclando com dados históricos.  Primeiramente, atribui ao personagem principal, o nome de Facundo Silvestre, que seria proprietário de uma grande estância de criação de gado próxima a cinco léguas com perto de quinze mil cabeças de gado, nas imediações do passo que levaria, mais tarde, o seu nome, através do rio Ibicuí, divisa de Itaqui com Alegrete. Teria cinco filhos.

O autor enfatiza que Silvestre amealhou boa fortuna, sendo motivo de intrigas por parte de inimigos por suas posições políticas. Nesse ponto, Jesus Pahim situa o espaço histórico-temporal – a Revolução de 1893, a famosa Federalista, da degola.

Cita que neste período sua casa fora cercada por uma força castilhista, tomando conta da estância, matando várias reses para consumo da tropa, atacando a família de Facundo Silvestre. Os familiares teriam sido aprisionados e fortemente amarrados. O dono da estância consegue escapar, tentando elaborar um plano para salvar a família. Pahim, neste momento não descreve que os familiares de Silvestre foram agredidos ou assassinados por esta força inimiga.

Seguindo a narrativa, a revolução terminara e, somente aqui, as notícias correram no sentido de que sua família fora degolada e os corpos deixados insepultos no campo. A figura de Silvestre surge no imaginário popular. Alguns chefes e inimigos castilhistas começam a morrer misteriosamente. Nos galpões surgem prosas eivadas de mistérios – um gaúcho todo de preto, montado num cavalo negro e um revólver calibre “45”. Era o Silvestre eliminando, um a um, os matadores de sua família.

Jesus Pahim enfatiza que “com o passar dos anos, a tradição deu o nome de “Silvestre ao passo daquele rio”.

Já Colmar Duarte usa o mote do Passo do Silvestre para escrever um romance onde mistura personagens reais, discutindo a ocupação da terra, das sesmarias, a briga entre os agricultores serranos ávidos por comprarem ou arrendarem campos para lavouras e os antigos estancieiros pouco convictos de abandonar a lida. Num capítulo, “O chamado do Genaro” (p.68/73) aborda especificamente o tema.

Parece que Colmar teve informações de algum descendente de Silvestre. O nome muda um pouco em relação a Pahim – é Silvestre Gomes, dono de terras entre o Ibirocaí e o Ibicuí. Silvestre, conhecedor do lugar, e até mesmo interessado em facilitar o acesso a possíveis compradores de suas terras, abriu picadas e fez passagens para os campos missioneiros do outro lado do Ibicuí. Não fica muito claro, entre os dois autores, se a propriedade de Silvestre ficava no lado itaquiense ou de Alegrete.

E Colmar também delineia que o estancieiro era maragato, inimigo mortal dos republicanos castilhistas. Estes, teriam atacado sua estância, na Revolução de 1893, amarrando-o junto a seus familiares, espancando e violentando a mulher e filha moça. Ato seguinte, levaram-no até o passo para degolá-lo. Silvestre, reage e consegue fugir dos invasores. Fica um tempo escondido e volta para casa, encontrando ainda filha e esposa vivas, entretanto, pelos sofrimentos e abalos mentais, elas não sobrevivem.

Colmar reforça a tese de Pahim de que Silvestre ficara revoltado e jura vingança. Terminada a revolução, todos voltam à normalidade. Silvestre Gomes começa a rondar todos os inimigos que destruíram sua família e os vai matando, um a um. Primeiramente, atira no peito de cada adversário encontrado e o degola posteriormente. Após atirar com seu Colt 45, avisava: “eu sou o Silvestre Gomes!

E os relatos davam conta de que havia um fantasma por ali, segundo Colmar, o “Fantasma do Passo do Silvestre”. O imaginário popular pulula de boca em boca e até hoje alimenta as rodas de charla nos galpões costeiros. Dizem, segundo o texto de Colmar Duarte: “que ele é visto rondando as coxilhas, E que, quando algo errado está acontecendo, fica por perto, como uma mau presságio, à espera da reparação e do justo castigo”.

De acordo com as fontes de Colmar, bem mais tarde, Silvestre volta a casar com uma índia charrua, deixando descendentes, dos quais coletou depoimentos para seu livro.

Nas duas abordagens algo fica muito claro – o fato deu-se na Revolução de 1893.

O Passo do Silvestre, entretanto, já teria este nome bem anterior data em questão. Como coletamos informações as mais diferentes possíveis de nossa história, fomos encontrar referências que comprovam que este nome não se refere a 1893.

No Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, edição n.º 233, página 3, de 23 de agosto de 1874 informava que “achavão-se em Ibicuhy, passo do Silvestre, o Coronel Conrado e o major Cunha Mattos, engenheiros da Commissão de fortificação da província, que alli forão escolher o local para o ocampamento do exercito de observação, que vai ser criado naquella fronteira”.  Optamos pela transcrição textual como forma de substanciar a fonte. Ou seja – em 1874 havia o passo com este nome.

Retroagindo um pouco mais, em 11 de abril de 1867, o Correio Mercantil, RJ, edição n.º 101, página 1, noticiava: “O exercito a mando do sr. Barão do Herval seguirá, no dia 1 de março de 1867 em numero de dous mil homens para o Passo do Silvestre onde reunir-se-ão os diversos contingentes do general Canabarro e marcharão para São Borja.” Estaríamos portanto, na Guerra do Paraguai.  Ano – 1867.

E para sacramentar a tese de que o nome do Passo do Silvestre não se refere à Revolução Federalista de 1893, temos a informação do Jornal do Commercio, RJ, edição n.º 68, página 1, dia 3 de novembro de 1858. O texto diz: “O corpo do exercito de observação que consta de 8.000 mil praças, se acha acampado na margem esquerda do ibicuhi, no passo do Silvestre, desde o dia 6 de fevereiro”. Esta força era responsável para cuidar da movimentação da Banda Oriental. Vejamos, ano de 1858, quando Itaqui emancipa-se de São Borja, o passo do Ibicui, entre Itaqui e Alegrete, já tinha o nome de passo do Silvestre.

E agora, o fantasma assusta mais ainda! A lenda vem de remotos tempos. As fontes deixadas não foram muito exatas. Quem sabe os relatos orais passados de geração a geração tiveram como parâmetro o ano de 1893. Contudo, as fontes anteriores deixam bem claro que o nome já existia, no mínimo, desde 1858.

Pesquisadores e historiadores são gente que gosta de dados, números, datas, fontes e comprovações. É um pessoal rabugento! Duvidam de tudo, querem provas. “Fuxicam” em tudo! Gentinha bem danada essa!

Vamos deixar que o folclore alimente as rodas de conversas ao pé do fogo dos galpões, nas chimarreadas, nas campereadas.

O homem simples não se apega a fontes. Pelo contrário, ele bebe das fontes do imaginário telúrico.

Indiferente se o nome era Facundo Silvestre ou Silvestre Gomes, se existiu ou não. O fato é que a lenda perpetuou-se na memória popular e hoje ela faz parte de nossa história. Se existiu ou não, a verdade é uma só – todos que passarem naquela travessia do Ibicuí em noites de pura treva lembrar-se-ão que ali há um fantasma – “o Fantasma do Passo do Silvestre”! E arregalarão os olhos! E tremerão nas bases! Afinal, com essas coisas não se brinca!

E quem duvidar, que arranje outra versão.

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