sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Sua alteza Imperial na Vila de São Patrício de Itaqui (1)

SUA ALTEZA IMPERIAL NA VILA DE SÃO PATRÍCIO DE ITAQUI (1)


Prof.º Paulo Santos

         Os assíduos frequentadores dos bares próximos ao Porto, dos transeuntes abandonados pelas famílias entregues à adoração das “marias-moles”, os ribeirinhos ali instalados, os chalaneiros, os pescadores de tarrafa, os de vara de taquara, os “bolsoneros” que transportam caixas e caixas de cervejas argentinas, os remediados moradores, os aristocráticos proprietários, nenhum desses tipos que margeiam o entorno do Porto, do Mercado Público Municipal ou do antigo Quartel dos Navais imagina que estão pisando no solo em que pisou Sua Alteza Imperial, o Imperador Dom Pedro II, filho de D. Pedro I, que proclamou a Independência do Brasil e neto do “levemente obeso” Rei Dom João VI( que comia frangos com torradas no café).
Pois ali, naquelas confluências, no dia 25 de setembro de 1865, estivera passeando o distinto Monarca, chefe supremo da Monarquia instalada no Brasil. Dom Pedro II viera tomar pé da situação em que se encontrava o Exército brasileiro frente à invasão paraguaia no mesmo ano.
Com toda sua comitiva imperial, composta dos genros, o Marquês de Caxias (mais tarde, Duque), saiu do Rio de Janeiro em 10 de julho de 1865, chegando ao Rio Grande do Sul seis dias após. Depois que os paraguaios se renderam em Uruguaiana, com a presença de Sua Majestade no comando do espetáculo, visto que já estava tudo pronto. Os comandantes-em-chefe das forças da Tríplice Aliança já haviam encurralado os incautos guerreiros paraguaios de Estigarríbia, não havia nenhuma possibilidade de resistência. Então, cabia ao eminente chefe da nobreza brasileira o papel principal – o protagonista do ato final. Prato cheio para os pintores e cronistas da época. Encerrado esse ato, D. Pedro resolve observar os estragos provocados por essa invasão, principalmente em São Borja e Itaqui.
Partiu de Uruguaiana, no vapor Onze de Junho, sob a custódia do barco-de-guerra Tramandaí. Eram 19 horas do dia 25 de setembro, o barco com tão distinta tripulação ancorava no porto de Itaqui, que, pelos relatos, ficava próximo à foz do arroio Cambai. Fazia frio e caía uma chuva que enlameava o povoado. As ruas da Praia, do Valo, das Pombas, das Missões eram, na verdade, arremedos de artérias, meros atoleiros ou pedregais.
Dom Pedro II, vestindo um ponche bordado a ouro, presenteado por alguns súditos dessa província, desembarcou, acompanhado do esposo de sua filha, Princesa Isabel, o Conde d´Eu, e o outro genro, Duque de Saxe. Quem sabe, esses gringos não estivessem torcendo o nariz, com medo de sujarem suas vestes imperiais no terreno enlameado de uma vila nos arrabaldes do Rio Grande do Sul. O Conde d”Eu, através de um diário de viagem deixa bem claro seu fastio frente ao povo e as condições da província. A leitura desse documento deixa bem claro sua antipatia. Percebe-se que estava a contragosto. Em Itaqui, com certeza, naquele embarrado dia, devia estar também muito emburrado!
Chefiava a comissão de autoridades de Itaqui, o juiz Cunha Lima, acompanhado do vigário José Coriolano de Sousa Passos (o primeiro padre de Itaqui). Padre esse que deu origem à família Passos deste município. Arranjaram-lhe um cavalo para percorrer o povoado.

Imaginem que o glorioso, que o “inóxio” D. Pedro II, da Casa dos Borbons, iria sujar suas engraxadas botas imperiais!  Tomaram a direção da zona onde hoje está situada a Ponte Seca (uma espécie de viaduto construído na Osvaldo Aranha, esquina da Luizinha Aranha). Nesse local, os habitantes extraiam lajes para construção de calçadas, para mesas e outras finalidades, dada a excelência do material. Conversou com os moradores, deu sua monárquica mão para beijar, concedeu esmolas. Era carismático o homem! Os cronistas de seu tempo o pintavam como um homem culto, moderado e benquisto; para seus inimigos era apenas o representante do colonizador, responsável pela execução do projeto de consolidação do domínio luso nessa terra. Para os itaquienses daquele chuvoso dia 25 de setembro de 1865 nada disso interessava. Estavam diante de Sua Alteza Imperial. Tinham que se ajoelhar e beijar sua mão por tão auspiciosa ventura! (Este texto faz parte de nossa Agenda 150, 2008)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Minhocão de Itaqui

                        O Minhocão de Itaqui:   o limite entre o real e o imaginário ! Prof.º Paulo Santos O limite entre o real e o ima...