SUA ALTEZA IMPERIAL NA VILA DE SÃO PATRÍCIO
DE ITAQUI (1)
Prof.º Paulo Santos
Os
assíduos frequentadores dos bares próximos ao Porto, dos transeuntes
abandonados pelas famílias entregues à adoração das “marias-moles”, os ribeirinhos
ali instalados, os chalaneiros, os pescadores de tarrafa, os de vara de
taquara, os “bolsoneros” que transportam caixas e caixas de cervejas
argentinas, os remediados moradores, os aristocráticos proprietários, nenhum
desses tipos que margeiam o entorno do Porto, do Mercado Público Municipal ou do
antigo Quartel dos Navais imagina que estão pisando no solo em que pisou Sua Alteza Imperial, o Imperador Dom Pedro
II, filho de D. Pedro I, que proclamou a Independência do Brasil e neto do
“levemente obeso” Rei Dom João VI( que comia frangos com torradas no café).
Pois ali, naquelas confluências, no dia 25 de setembro de 1865, estivera passeando o distinto Monarca,
chefe supremo da Monarquia instalada no Brasil. Dom Pedro II viera tomar pé da
situação em que se encontrava o Exército brasileiro frente à invasão paraguaia
no mesmo ano.
Com toda sua comitiva imperial, composta dos genros, o Marquês de Caxias (mais tarde, Duque),
saiu do Rio de Janeiro em 10 de julho de
1865, chegando ao Rio Grande do Sul seis dias após. Depois que os
paraguaios se renderam em Uruguaiana, com a presença de Sua Majestade no
comando do espetáculo, visto que já estava tudo pronto. Os comandantes-em-chefe
das forças da Tríplice Aliança já haviam encurralado os incautos guerreiros
paraguaios de Estigarríbia, não havia nenhuma possibilidade de resistência.
Então, cabia ao eminente chefe da nobreza brasileira o papel principal – o
protagonista do ato final. Prato cheio para os pintores e cronistas da época.
Encerrado esse ato, D. Pedro resolve observar os estragos provocados por essa invasão,
principalmente em São Borja
e Itaqui.
Partiu de Uruguaiana, no vapor Onze
de Junho, sob a custódia do barco-de-guerra Tramandaí. Eram 19 horas do
dia 25 de setembro, o barco com tão distinta tripulação ancorava no porto de
Itaqui, que, pelos relatos, ficava próximo à foz do arroio Cambai. Fazia frio e
caía uma chuva que enlameava o povoado. As ruas da Praia, do Valo, das
Pombas, das Missões eram, na verdade, arremedos de artérias, meros
atoleiros ou pedregais.
Dom Pedro II, vestindo um ponche bordado a ouro, presenteado por alguns
súditos dessa província, desembarcou, acompanhado do esposo de sua filha, Princesa Isabel, o Conde d´Eu, e o
outro genro, Duque de Saxe. Quem
sabe, esses gringos não estivessem torcendo o nariz, com medo de sujarem suas
vestes imperiais no terreno enlameado de uma vila nos arrabaldes do Rio Grande
do Sul. O Conde d”Eu, através de um diário de viagem deixa bem claro seu fastio
frente ao povo e as condições da província. A leitura desse documento deixa bem
claro sua antipatia. Percebe-se que estava a contragosto. Em Itaqui, com
certeza, naquele embarrado dia, devia estar também muito emburrado!
Chefiava a comissão de autoridades de Itaqui, o juiz Cunha Lima, acompanhado do vigário José Coriolano de Sousa Passos (o primeiro padre de Itaqui). Padre esse que deu origem à família
Passos deste município. Arranjaram-lhe um cavalo para percorrer o povoado.
Imaginem que o glorioso, que o “inóxio” D. Pedro II, da Casa dos Borbons,
iria sujar suas engraxadas botas imperiais!
Tomaram a direção da zona onde hoje está situada a Ponte Seca (uma
espécie de viaduto construído na Osvaldo Aranha, esquina da Luizinha Aranha).
Nesse local, os habitantes extraiam lajes para construção de calçadas, para
mesas e outras finalidades, dada a excelência do material. Conversou com os
moradores, deu sua monárquica mão para beijar, concedeu esmolas. Era
carismático o homem! Os cronistas de seu tempo o pintavam como um homem culto,
moderado e benquisto; para seus inimigos era apenas o representante do
colonizador, responsável pela execução do projeto de consolidação do domínio
luso nessa terra. Para os itaquienses daquele chuvoso dia 25 de setembro de
1865 nada disso interessava. Estavam diante de Sua Alteza Imperial. Tinham que
se ajoelhar e beijar sua mão por tão auspiciosa ventura! (Este texto faz parte
de nossa Agenda 150, 2008)
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