sábado, 19 de agosto de 2017

História da Santa Maria Madaglena no Itaó

HISTÓRIA DA SANTA MARIA MADAGLENA 

Uma evidência missioneira no centenário Itaó/Itaqui/RS?

Prof.º Paulo Santos




    Primeiramente, cabe relacionar alguns dados sobre a família a qual estava vinculado este evento. No caso específico: Maximiano Teixeira Coelho nasceu na Estância Velha de Itaó, no dia 20 de maio de 1844. Filho de Antonio Teixeira Coelho, juiz municipal interino da Vila de São Borja, no ano de 1835.

    Antonio Teixeira Coelho e sua esposa, Leocádia Antonia de Araújo Coelho, proprietários da Estância Velha do Itaó, com 3 léguas de sesmarias (150 quadras de sesmaria), tiveram 10 filhos.

    Maximiano Teixeira Coelho foi para a Guerra do Paraguai com 21 anos, e junto foi seu irmão, Francisco Mamedes Teixeira, em 1865. Francisco não retornou. Em um violento combate, o inimigo paraguaio, com uma espada amputou-lhe o braço esquerdo. Embarcado no navio de inválidos, mar à fora, foi levado e jamais a família soube notícias dele.

    Maximiano Teixeira Coelho destacou-se na Guerra do Paraguai por coragem e bravura junto aos comandados. À frente das tropas, enfrentava os violentos bombardeios dos navios inimigos. Com coragem e altivez defendia nosso chão. Durante os longos combates que travaram com os inimigos paraguaios, somente uma bala atingiu a aba do seu chapéu. Homem de bondade ímpar, para com todos tinha uma palavra de ânimo, de incentivo. Ajudava a todos que dele precisassem.

    Observação: Ele relato está na íntegra fiel à autora da fonte, uma descendente do mesmo.

No ano de 1876 foi Inspetor Interino do 1.º Quarteirão do 2.º Distrito de Itaqui. Há cópia, no Arquivo da Prefeitura Municipal, da Carta Patente de Maximiano Teixeira Coelho em que ele foi nomeado Tenente da 3.ª Companhia do Corpo de Cavalaria N.º 53, pelo presidente da Província, Dr.º Henrique da Silva, em 25 de agosto de 1880, da Guarda Nacional do Serviço Ativo da comarca de Itaqui, a qual foi assinada pelo comandante superior interino da Guarda Nacional, Coronel João Clemente Godinho.

    Fazia 9 anos que Maximiano havia chegado da Guerra do Paraguai e estava com 35 anos, quando casou no dia 19 de setembro de 1879, com Luciana Francisca Marques, filha de Antonio Maria Marques e de dona Rogéria Marques da Silva, sendo estes moradores e proprietários da sesmaria do Espinilho, no 3.º Distrito de Itaqui.

    Luciana e Maximiano faziam nove anos de casados e não tinham filhos, mas Maximiano era devoto de Santa Maria Madaglena e fez uma promessa: se Luciana ficasse grávida mandaria os jesuítas esculpirem em madeira uma imagem em porte médio e levaria para a Estância Velha de Itaó.

    A promessa foi atendida no dia 28 de junho de 1889, quando nasceu um casal de gêmeos, que se chamariam Litre Teixeira Coelho e Antonia Teixeira Coelho.

    No ano de 1918 ocorreu uma fatalidade na família de Maximiano. Seu filho, Litre Teixeira Coelho, com 28 anos de idade, perdeu a vida no dia 10 de maio. Quando campeirava, foi acometido de uma hemorragia cerebral, e o cavalo que montava o trouxe de volta, sem vida, para a Estância Velha de Itaó. Com a morte do filho, Maximiano caiu em profunda tristeza, vindo a falecer a 7 meses e 19 dias depois que o filho tinha falecido, quando estava com 74 anos de idade, no dia 27 de dezembro de 1918. (Relato recolhido por sua descendente, bisneta, Vera Mainardi, irmã da recentemente falecida, prof.ª Zulma Teixeira Mendes)

    Em 6 de março de 1893 foi criado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, o Corpo Provisório N.º 17, composto de 4 companhias, sendo cada uma com um capitão, um tenente e dois alferes. Foi nomeado pelo governo do Estado, em pleno fervor da Revolução Federalista, a “Revolta da Degola”, como comandante deste Corpo Provisório, o Tenente-Coronel Maximiano Teixeira Coelho.

    No Livro de Matrícula do Serviço Ativo da Guarda Nacional de Itaqui, do ano de 1869, aparecem as matrículas de: N.º 570, Marcelo Teixeira Coelho, 30 anos, nascido em 1839, solteiro; N.º 571, Maximiano Teixeira Coelho, 28 anos, nascido em 1841, solteiro; N.º 647, Marcelino Teixeira Coelho, 34 anos, nascido em 1835, solteiro, todos em serviço no Paraguai. Com certeza, eram filhos de Antonio Teixeira Coelho e Leocádia Antonia de Araújo Coelho.

    Dia 10 de junho de 2011, junto com a secretária de Educação da época, mais equipe da Supervisão da SME, visitei a capela de Itaó, tomando contato com a imagem da Santa denominada de Santa Maria Madaglena. Observei que sua pintura externa está descaracterizada, fora dos padrões de composição estética das obras jesuíticas. Precisaria ser totalmente restaurada para poder ser restituída sua autenticidade. Entretanto, pelo que pude observar, parece que tem todos os traços e peculiaridades das obras missioneiras. Não tenho convicção plena, mas parece.

Com uma fita métrica, fiz a medição da estátua, que é esculpida numa madeira de qualidade extremada, pois não se observa nenhum dano por cupim ou outros invasores, nem partes apodrecidas. A professora Ieda, cuja mãe é uma das responsáveis pela preservação e guarda desta imagem ao longo das gerações da família, disse-nos que no restauro foi enxertada uma parte da mão e dedos mutilados, bem como a parte traseira, que teria sido profanada por ladrões, talvez em busca de compartimentos onde pudessem encontrar alguma jóia ou moedas de ouro. Observei que de altura, a santa tem 1,28 m.

    Professora Ieda relatou que a imagem, em determinado período fora roubada, sendo recuperada pela Polícia e entregue a mãe desta, sr.ª Therezinha Delaci Teixeira da Silva, em 19 de julho de 1991, pelo delegado Celso Silva Silveira e escrivão, Felipe Gonzalez da Silva, conforme consta em documento guardado pela mesma, assim como fotos da entrega onde aparece a santa com as cores originais. A família doou a santa para a capela.

    A tradição oral reza que a santa é milagrosa. Muitos mistérios a cercam. Há relatos de que sob o altar, no local onde primitivamente estava, na sede da Estância Velha do Itaó, foi feita uma escavação visando encontrar algum tesouro. Comentam que alguém teria encontrado o misterioso tesouro.

    Acho muito temerário ter esta imagem, que parece mesmo ser missioneira, naquele local, pois é grande o assédio de colecionadores a esse tipo de obra, sendo muito comum roubos dessa espécie para posterior venda no mercado negro de artes.

    O valor dessa imagem historicamente é muito grande, tanto para provar que Itaqui estava efetivamente ligado ao universo missioneiro, assim como resgata a história de uma família e de seu lugar. Ela deveria estar num lugar mais seguro, devidamente identificada, e estar disponível para visitação pública e de estudiosos, pois sua história é riquíssima.

    Creio ser oportunas algumas considerações sobre os relatos aqui expostos:

    v A imagem parece ser missioneira sim, entretanto o relato tem algumas falhas, por exemplo:

    v Maximiano podia ser devoto de Santa Madaglena, porém pedir para os jesuítas esculpirem-na parece improvável, pois a Companhia de Jesus, de Santo Ignácio de Loyola, foi prescrita da América a partir de 1768;

    v Quando Maximiano casou em 1879, não havia mais os jesuítas em Itaqui;

    v O que poderia acontecer, e era comum, seria a compra ou doação de alguma obra missioneira do tempo dos Sete Povos Missioneiros e das reduções do lado argentino, como La Cruz, Yapeju ou outras;

    v É provável que Maximiano tenha conseguido essa imagem de alguma capela jesuítica espalhada pela nossa região, pois a produção estatutária missioneira foi bastante expressiva;

    v Assim, essa escultura devia ser anterior a 1760, pois a partir dessa data não mais confeccionaram obras com esse formato, pois as reduções tiveram outros administradores mudando também as ordens religiosas que as coordenavam;

    v Eu acredito que a imagem em questão tem os traços das obras missioneiras, devendo ter mais de 250 anos de existência, porém ainda tenho algumas reservas como alguns traços que não são característicos da estatuária missioneira-guarani;

    v Deve ter sofrido ao longo dos anos algumas alterações, principalmente na pintura;

    v Com relação à escavação no local onde estava instalada se deve por desconhecimento: nenhuma obra jesuítica tinha em seu interior ou entorno qualquer relação com tesouros;

    v Se alguém encontrou algum tesouro, isso fica por conta do imaginário coletivo e da crendice das pessoas;

    v Por outro lado, respeito o relato da família. Como me debruço exaustivamente a estudar esse assunto, alguma coisa aprendi.












2 comentários:

  1. Prezado Prof. Paulo fico muito grato pelas informações acerca de meu antepassado Hemetério José Velloso da Silveira, minha avó paterna Edda Velloso da Silveira Batalha era sua bisneta. Apesar de eu ser historiador, nunca me ocupei de minha história familiar. Parabéns pelo trabalho.
    Saudações,
    Claudio Henrique de Moraes Batalha

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    1. Caro, Cláudio, fico feliz em contatar descendentes desta personalidade histórica. Contate meu email , pois tenho um estudo mais aprofundado de teu antepassado. ok?

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