AS
HISTORIETAS FAMILIARES DO PASSADO ITAQUIENSE
Lenço
maragato como mortalha!
Prof.º Paulo Santos
O passado
nos traz tantas pequenas histórias, engraçadas, singulares e únicas, que servem
para entender outros tempos e realidades e, juntamente, compreender o
comportamento de nossas genealogias. São os instantâneos pretéritos.
Minha
bisavó paterna, Ernestina Silveira dos Santos, esposa de Higino Francisco dos
Santos, tinha um gênio difícil de se lidar: intempestiva, nervosa e furiosa, às
vezes. Tinha o apelido, por isso, de “Bugia”. Vivia sozinha, isolada, quando
tinha suas crises, tocava o marido de casa, conforme registros dos parentes.
Vendia
as tropas de boi e guardava o dinheiro num armário, colocando-o embaixo dos
pratos. Isso tudo são depoimentos dos descendentes.
Quando
se sentiu mal, prestes a morrer, chamou meu avô materno, Thimoteo Floriano
Corrêa, com que se simpatizava muito e pediu que mandassem comprar em Maçambará
um pedaço de pano vermelho para lhe servir de mortalha em seu caixão. Era uma
maragata.
Thimoteo
Floriano Corrêa relatou o pedido à família, dizendo também onde ela escondia o
dinheiro. Os filhos não aceitaram e colocaram um pano preto quando ela faleceu
poucos momentos depois.
Dias
após, segundos os relatos das pessoas que viveram aquela situação, Ernestina
apareceu na forma de espírito, em sonho, para minha avó materna, Isabel Mello
Corrêa, esposa de Thimoteo, queixando-se de terem colocado aquele lenço preto,
sentindo-se sufocada. Tinham renegado suas convicções de maragata.
Ficou
sabendo-se que, inicialmente, a família procurara o pano vermelho, que ela
guardava num antigo baú. Encontraram-no extremamente puído, sem condições de
colocar como mortalha.
Ernestina
casara com Higino, gerando os seguintes filhos: Ariobaldo, Vilebaldo, Ifibaldo
e Osvaldo( meu avô, pai de Waldemar Corrêa dos Santos, já falecido, meu pai.).
Guardo
com muito carinho esses instantâneos do nosso pretérito itaquiense e familiar.
Mandem para nós suas histórias familiares, isso é legal e resgata o passado de
uma forma tão descontraída e terna – e sigamos vivendo o presente, dentro de
nossa sociedade plural, cheia de ações e vivências que farão parte do futuro do
presente.
Se
forem críveis ou não, isso fica no plano do imponderável e do possível. Acreditar
é um direito insofismável. Da mesma forma, a discordância é prima-irmã da
verdade. Ambas são o retrato da dubiedade humana.
Afinal,
o passado é uma mistura de racionalismo com excessos de doses épicas, elogios mirabolantes,
lendas, misticismos e fantasias. O imaginário familiar soma-se ao imaginário
coletivo, tornando-se tudo bem possível!
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Líderes maragatos, alguns tiveram em Itaqui em 1893, na Federalista. |
Quer dizer que o Professor Paulo, conhecido torcedor tricolor de nossa cidade, tinha bisavó Maragata? E que voltou do lado do Divino para reclamar que não colocaram o manto Colorado em sua mortalha? Pode isso Professor?
ResponderExcluirPois é. O passado tem dessas. Era minha bisavó materno-paterno. Esse colorado fica mais para o plano da predileção político-partidária de então. Esses instantâneos do passado são interessantes para se repensar o presente.
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