terça-feira, 1 de maio de 2018

Dr.º Otávio d' Avila


DR.º OTÁVIO D’ ÁVILA
Tempos de coronéis, imunidades, winchester carregadas e tocaia na estrada do Passo do Silvestre!
Prof.º Paulo Santos

Dr.º Otávio d' Ávila - Imagem Blog Sangue Palmeiro

Um dos mais emblemáticos episódios da história pregressa de Itaqui foi, sem sombra de dúvida, o assassinato do intendente Dr. Otávio d’ Ávila, em 22 de julho de 1920, em Itaqui.
Dr.º Otávio d’ Ávila, advogado, intendente, deputado provincial, filho do célebre senador do Império, Conselheiro Henrique Francisco d’ Ávila e de Maria Faustina Gonçalves Netto, era figura de destaque no cenário estadual. Descendia, por um lado da genealogia de Bento Gonçalves e Antonio de Sousa Netto, além do lado paterno pelos Ávila.
Casou com a itaquiense Onfale Palmeiro, em 1905, vindo a residir neste município. Aqui advogou e transitou na área jurídica, chegando a ser juiz da comarca, de 1904 a 1917.
Foi eleito intendente de Itaqui pelo período de 1916 a 1920, tendo como vice, o coronel Pedro Ourique de Lacerda.
Dois fatos notabilizam a passagem de Ávila pelo cenário itaquiense. O primeiro: assassinato do Dr.º Bolivar Lima Barbosa, no prédio da prefeitura municipal e o segundo: a morte do próprio intendente, em 1920.
Muitas dessas informações são oriundas da imprensa da época, principalmente os jornais, arquivados na Biblioteca Nacional, e disponibilizados através do recurso da Hemeroteca Digital, acessada através da internet. Portanto, todas elas são de domínio público. Acrescenta-se ainda os depoimentos orais dos descendentes.
Ainda que tenhamos um acervo muito grande de informações, evitaremos tocar em aspectos familiares e enfocar nomes muito específicos porque descendentes de ambos os lados existem em profusão.
É sabido que o Dr. Ávila teve problemas com membros das famílias Barbosa e Floriano. Motivado por desentendimentos, por exemplo, com Bolivar Pinto Barbosa por questões advocatícias, Ávila desferiu-lhe quatro tiros á queima roupa, na sala de audiências, que funcionava no prédio da atual Prefeitura Municipal de Itaqui. A morte foi instantânea. Bolivar era filho de Marciano Pinto Barbosa e Romalima Fernandes Lima, neto do Coronel Tristão Pinto Barbosa e Ephigenia Nunes Barbosa, sobrinho do famoso Dr.º Aureliano Pinto Barbosa. Era um destacado advogado, brilhante orador, poeta e de destacada atuação no cenário local.
Por ser deputado provincial e gozar de imunidade, Otávio d’ Ávila livrou-se do flagrante, mesmo que entre as testemunhas presentes ao fato fossem, por exemplo, um deputado estadual, um escrivão de Justiça e um oficial. Foi orientado a retirar-se em direção a sua casa que ficava na frente do atual prédio da família Mondadori, na rua independência. Casa esta que ficava ao lado direito da antiga lotérica do sr. Roquinho Degrazia. Ali, segundo fontes da época, teria vestido seu uniforme de oficial do Exército e protegido pela imunidade do cargo de deputado estadual (na época tratado como provincial também).
Pela repercussão do caso, o promotor de Itaqui pediu permissão à Assembleia Provincial para processar o dito representante. O caso rendeu “pano pra manga”! O assassinato deu-se em 8 de outubro de 1914.
Em 12 de agosto de 1915, Ávila foi julgado em Itaqui, mas não veio a condenação.
Bolivar Barbosa era amigo de Ismar Floriano, filho do estancieiro Ismael Floriano Machado Fagundes, um dos potentados de Itaqui, dono de três grandes estâncias, uma delas a atual Sociedade, vendida mais tarde para Jácomo Bonapace, no distrito dos Figueiredo. Pois Ismar era tido como arruaceiro e provocava badernas na cidade, afrontando a polícia de Ávila. Talvez resquícios ainda da morte de seu amigo Bolivar.
Ismar Floriano -  Foto acervo familiar e particular do Sr.º Bernardo Belmonte Schenini

Depois de alguns confrontos e desatinos de Ismar, aconteceu seu assassinato em 12 de maio de 1920. Segundo informações orais de pessoas que viveram aquele tempo, a morte de Ismar Floriano fora ordenada pelo intendente Otávio de Ávila. É claro, isso são relatos orais factíveis de crença.
Os descendentes dos Floriano contam que Ismar, um jovem ainda, costumava juntar três ou quatro parceiros e saiam pela madrugada a fazer bagunças no centro da cidade. Com o carro de sua propriedade, ligavam o gramofone no mais alto volume e provocavam a polícia da época. Policiamento este feito a cavalo e as armas eram revólveres e espadas. Contam que a sede da polícia era numa casa próxima à quadra da Escola Estadual Aureliano Barbosa. Havia  em parte da rua uma proteção, uma placa, ou algo assim. Ismar, de propósito, passava de carro e derrubava esta placa, irritando os policiais que saíam no seu encalço.
Por mais de uma oportunidade, Ismar e sua turma tirotearam com os policiais ferindo-os ou sendo ferido. Na última rodada, em determinado local da rua Borges de Medeiros, Ismar Floriano fora ferido mortalmente por um cabo da policia local, vindo a falecer alguns dias após. Os familiares e amigos atribuíram a morte a mando de Àvila.
Mais tarde, um fato vem a corroborar estas evidências – uma tocaia feita a Àvila pôs fim à sua vida.
No dia 22 de julho de 1920 foi organizado um passeio campestre pelo sr.º Clóvis Fernandes Lima a uma estância, quatro léguas da cidade, pertencente a Firmino Fernandes Lima. Participaram quatro carros totalizando 20 pessoas.
O carro de Ávila era o terceiro. Em determinada localização da estrada do Silvestre, perto da estância velha da Lagoa, próximo a uma mangueira de pedra, foi a comitiva atacada por um grupo de 7 homens que teriam, segundo as fontes jornalísticas, a chefia de Ismail Floriano, irmão de Ismar. Esse grupo visava tão e somente ao intendente Ávila. Ele recebeu diversos tiros na cabeça, disparados por revólveres e winchester, de grosso calibre. Não houve tempo para reação. Houve uns dois feridos, sem muita gravidade.
O relato da ocorrência destaca que Avila ficou no mesmo local onde estava sentado, sendo que foi notada a falta de dois revólveres e uma winchester que o dito intendente costumava carregar em suas andanças.
A ordem era para disparar contra o Dr.º Otávio d’ Àvila, o resto da comitiva foi preservado. Não restava nenhuma dúvida de que era um ato de vingança.
As autoridades locais procederam as diligências iniciais, mas nenhum infrator foi preso, pois boa parte do grupo escondeu-se nos matos da costa do rio Uruguai e depois fugou para a Argentina. Somente em 1923, um dos componentes do grupo foi preso em Alvear, ARG, e repatriado para o Brasil. Aqui, confessou tudo dizendo que outros capangas foram contratados para assassinar ao Dr. Ávila. Um dos mandantes, talvez o principal, Ismail Floriano, chegou a ficar preso em Porto Alegre, foi julgado e absolvido.
A mãe de Ávila, dona Faustina teria contratado os melhores advogados para fazer justiça pela morte do filho. Inclusive, entre esses advogados estava o famoso Dr.º Getúlio Dorneles Vargas. Eram pessoas influentes e de posses. Os Floriano também.
Após esse incidente, pouco depois falece o patriarca da família, Ismael Floriano. Os demais filhos saem de Itaqui. A fortuna da família começa a ser dilapidada.
Ódios, rancores e ressentimentos povoavam aquele ambiente histórico. As primeiras décadas da República, em Itaqui, foram marcadas por intensos conflitos. Vinganças, confrontos, assassinatos encomendados, caudilhos ditando comportamentos e os problemas sendo resolvidos a bala.
Esse foi um dos casos. Se olharmos para os romances do norte/nordeste, dos caudilhos e coronéis que mandavam e desmandavam, onde as terras eram sem leis, aqui não ficou para trás. Neste cenário de faroeste caboclo muitas famílias desmantelaram-se mercê da discórdia e do autoritarismo.
A história está para nos ensinar.
Parece, pelo cenário moderno, que não aprendemos muita coisa.....

16 comentários:

  1. Algum descendente dos nomes citados nesta postagem, se quiserem manifestar-se com relação a informações que possam acrescentar, corrigir, perguntar - fiquem á vontade! Será um prazer interagir com as pessoas que podem fazer a história ficar viva.

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    1. Newton Herculano29 de agosto de 2018 20:27
      Caro Professor Paulo.
      A cada artigo ou comentario postado por ti e de grande valia pois trazes a luz fatos verdadeiros e históricos que fazem parte da historia Itaquiense . Professor com a sua permiçao fica aqui um comentário. A estancia Sociedade pertenceu ao meu bisavo Ismael Floriano Machado Fagundes e posteriormente ao meu avo Cel Antônio Carneiro Pinto casado com uma das filhas do Ismael. Esta fazenda foi arrendada para Dona Ephigenia Nunes Barbosa viúva do Cel.Tristao Pinto Barbosa e mais tarde esta estancia passou para o controle de Jácomo Bonapace,filho de Paulo Bonapace.
      Ab.
      Herculano
      Bisneto de Ismael

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    2. O advogado Octávio de Ávila ,advogou para meu trisavô Thomaz Lazaro Servente e representou minha trisavó no Testamento de Thomaz em 1907.
      Falta em Itaqui um Museu e um Arquivo Municipal onde ficariam guardadas estas relíquias da história do Município.

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    3. Você poderia trazer mais detalhes deste processo? Dr.º Otávio d' Avila foi uma personalidade muito relevante em Itaqui, no início do século XX.

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  2. Na história de tragédias e mortes por assassinatos dos descendentes da Família Pinto/Barboza também registrasse o de OscarJosé Pinto (nascido em 1914 e falecido em 25/07/1932, filho adotivo da Bisa Olivia Pinto de Aguiar e filho legítimo de Pantaleão José Pinto e de Rufina José Pinto.

    Conforme relatos dos meus antepassados, no período da morte do Tio Oscar a família residia na esquina do Colégio Santa Tereza de Jesus em Itaqui, antigo Hotel Central. Conforme os fatos, a Bisa Olivia estava com a Vovó Nayr vendendo doces na frente de um Circo que tinha vindo para se apresentar em Itaqui Grande Do Sul. Diz que nessa noite chegou Tio Oscar todo arrumado e tão logo se aproximou da bisa e da vovó uma "China" (esse era o modo como se referiam a moça), se avançou nele e para se defender dela ele deu uns empurrões, logo vovó Nayr chamou sua atenção e disse:
    _ Mas que escândalo é esse Oscar, que barbaridade, que falta de respeito!
    Vovó Nayr e a bisa Olivia comentavam sempre em família, que a tal "China" estava acompanhada de um amante e que foi o maior "forrobodó" na frente do Circo. Logo todos foram para casa, porque a noite acabou pros três. Ao chegarem na casa da bisa, tio Oscar tirou um revólver da cintura e colocou em cima da máquina de costura que ficava no quarto, pois nesse momento ele foi dar atenção e brincar com o tio Adão (nessa época ele tinha mais ou menos um ano e pouco de idade). A bisa Olivia não queria que Tio Oscar fosse para sua casa, pois ele morava na chácara, no Serro, a primeira casa de madeira a qual foi alugada para Florinda Serpa da Silva (vulga Cambota).
    Tio Oscar sem medo resolveu ir para sua casa, mas nem bem tinha se afastado quando a bisa Olivia escutou dois tiros, diz que logo ela saiu pra ver o que estava acontecendo, foi quando encontrou o filho a poucos metros de casa assassinado. Seu corpo estava estendido em frente a antiga Casa Mafiz, o assassino atiroupelascostas do tio Oscar. Os relatos em família revelam que o assassino, saiu da cidade a cavalo, para pegar o trem na Charqueada pois esse o levaria para a cidade de Uruguaiana. Na viagem ao cruzar pela ponte do RioIbicuí jogou a arma no rio. Chegando em Uruguaiana arranjou emprego como capataz nos campos de um Embaixador que era do Uruguai. Lamentavelmente a história se repete em nossa sociedade, ontem ou hoje a polícia não dá conta e os bandidos continuam impunes e soltos pelas ruas de nossas cidades.
    Conforme vemos no Brasil, crimes bárbaros continuam assolando as familias e a impunudimp é uma constante em nosso país, ora por ser falha da justiça ou por dar proteção a criminosos, permitindo assim que fiquem impunes e livres. Independente de ser um criminoso com direito a foro privilegiado ou não, a justiça no #Brasil parece estar impactada com os altos índices de violências e assassinatos no país, com isso abre brecha para o que muitos cidadãos, em sua ignorância, apliquem a "lei de talião olho por olho, dente por dente" ou seja fazem a retalhação com as próprias mãos!

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    1. Pantaleao José Pinto era meu bisavô,pai de Atila José Pinto meu avô estes descendentes de Lino José Pinto. Pena que não soubemos muito das suas histórias...

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  3. ‘ Itaqui RS há 100 anos
    Emblemático episodio da historia Itaquiense ocorrido em 1920.
    Não iriei fazer qualquer contestação ou sugerir qualquer alteração ao relato muito bem elaborado pelo Professor Paulo Santos e publicado no Almanet o mentor deste Blog uma ferramenta de grande valia.
    Vou me fixar genealogicamente em alguns nomes suas relações genealógicas comigo meus familiares antepassados a cidade do Itaqui e de certa forma com a historia do nosso estado e do pais.
    OTAVIO D´AVILA .
    Foi casada com Onfale Lara Palmeiro minha 2ª prima em terceiro grau filha de Amâncio Machado Palmeiro meu primo 1º em terceiro grau. Filho de Maria Leopoldina da encarnação irmã do pai de Ismael meu bis avo
    PEDRO OURIQUES DE LACERDA;
    Pai de Emília Lacerda casada com Ismail Floriano Machado Fagundes meu tio avo irmão de minha avo Otília Floriano Machado Fagundes filhos de Ismael Floriano Machado Fagundes meu bis avo.
    A foto de Ismar Floriano Machado Fagundes publicada e do acervo familiar e particular do meu primo Bernardo Belmonte Schenini filho de Euny Floriano Schenini filho de Isabel Floriano irmã de minha avo Otilla Floriano filhas de Ismael Floriano Machado Fagundes Bernardo gentilmente cedeu à foto de Ismail Floriano Machado Fagundes meu tio avo, irmão de Ismar meu tio avo Isabel minha tia avo e Otilla minha avo todos filhos de Ismael.
    Procurei fazer uma breve relação genealógica comigo de alguns nomes citados no episodio emblemático de 1920.
    Poa 02 de Janeiro de 2020
    Newton Herculano Carneiro Pinto
    Bis neto de Ismael Floriano Machado Fagundes.
    Minha arvore Genealógica conta hoje com 835 indivíduos todos cadastrados registrados documentados com registros históricos e fotos.

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    1. O pai de Emília Lacerda (esposa de Ismail) era filha de xxx Ourique de Lacerda, que era vice-intendente, em parceria com Otávio Ávila. O caso deve ter impactado muito a política local.

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    2. Olá, Valéria, vamos voltar a ter contato com suas informações.

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    3. Sim, Paulo!!! O blog esta muito bom, parabens!

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    4. Valéria, vamos trocar informações sobre os Floriano pelo meu email: paulo-itaqui57@hotmail.com Tenho muitas informações novas. ok?

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  4. BOA NOITE.
    Olhem so o Almanet cumprimdo sua funçao social.
    Em primeiro lugar vejo a postagem feita pela minha prima Valeria, fico bastante feliz por isto. Abraçao Paulo e prima Valeria. Vamos falando.

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  5. Prima Valeria.
    O pai de Emilia Lacerda esposa do Ismail teu avo irmao da minha vo Ottilia
    era Pedro Ourique de Lacerda.

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