ITAQUI APOIA EREÇÃO DE MONUMENTO
A SEPÉ TIARAJU – 1956
Prof.º
Paulo Santos
No
ano de 1956, nossa cidade era notícia no cenário estadual através da edição n.º
2908, página 2, do Jornal do Dia, com a sugestiva manchete ”Itaqui Cultural
apoia a construção do monumento ao índio Sepé Tiaraju”.
Transcorriam-se
dois séculos da morte de Sepé Tiaraju, na região que hoje leva seu nome,
precisamente a 7 de fevereiro de 1756, dias antes da Batalha de Caiboaté onde o
exército coligado da Espanha-Portugal aniquilou com as forças revolucionárias
de Nicolau Nhenguiru que se insurgiam contra as decisões do Tratado de Madrid.
O capitão de milícias missioneiras, Sepé
Tiaraju, era um dos lugares-tenentes da insurreição, um dos líderes mais
emblemáticos. Sua morte é cercada de detalhes sensacionalistas, dando a
entender que foi morto por um militar espanhol e por um luso. Junto, carregou uma
aura mística e lendária. Resplandeceu nas Missões a épica denominação do “lunar
de Sepé”.
Pois
nesse período, algumas lideranças culturais do estado propuseram ao governador
que fosse edificado um monumento ao destacado líder missioneiro Sepé Tiaraju. Para
tanto, foi encaminhada uma solicitação ao Instituto Histórico do Rio Grande do
Sul, solicitando um parecer.
Formou-se
uma comissão cujos componentes eram o professor Afonso Guerreiro Lima,
professor Othelo Rosa e Dr.º Moysés Vellinho, todos doutos conhecedores da
cultura e história rio-grandense. Esta comissão reconheceu os atos de valentia
de Sepé, entretanto negava a qualidade dele ser brasileiro, posto que defendia
as ideias da Espanha. Diziam que ele era um súdito espanhol, que combatia em
armas a incorporação ao Brasil do território que a mesma Espanha cedera pelo
Tratado de Madrid em troca da Colônia de Sacramento.
Esse
combate é tratado pelos pesquisadores como uma hecatombe – mais de mil índios
missioneiros foram mortos pelo exército luso-espanhol, umas das maiores
chacinas da história pregressa brasileira nesses confins. Os cálculos diferem
entre os pesquisadores, mas ultrapassam a 1.300 missioneiros mortos por um
exército composto por 3.700 soldados com armas avançadas para a época.
Esse
tratado foi anulado em 1761 e tudo voltou a ser o que era. A morte de milhares
de índios fora em vão. O território missioneiro somente passa ao domínio
brasileiro a partir de 1801 com as correrias de Santos Pedroso e Borges do Canto.
Aqui no Rio Grande tudo se resolvia a
pata de cavalo, arma branca e bala e bala!
Pois,
então, formou-se no estado uma corrente fortíssima a favor de tal homenagem. Várias
lideranças culturais, entidades e representações enviam mensagens ao líder do
governo para aprovação do monumento. A ideia era construir um monumento em São
Gabriel. A discussão no meio intelectual foi intensa.
E
Itaqui insere-se neste contexto. Ano de 1956. Três entidades unem-se e mandam a
Manoelito de Ornellas (célebre escritor gaúcho, nascido em Itaqui), um dos
líderes de tal proposição, uma comunicação dizendo da intenção de apoiar o
movimento
Assinam
o documento: Reynaldo Mendes da Fonseca, presidente do Centro de Tradições
Bento Gonçalves; Dr.º Olimplio Tabajara, presidente da Associação Teatral José de
Alencar e Dr.º Ludgero Marenco Pinto, presidente da Biblioteca Pública de
Itaqui.
Não
se sabe como ficou essa celeuma. Um monumento ao líder missioneiro foi
construído em São Luís Gonzaga. Entretanto, destaca-se a atuação das forças
vivas itaquienses de então em defesa da cultura, da história e da memória
rio-grandense.
Que
pena que atos dessa natureza não mais ocorram em nossa centenária cidade!
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