Prof.º Paulo Santos
Muitos de
nossos pesquisadores idolatram a figura de Sepé Tiaraju, o corregedor
missioneiro de São Miguel, um dos líderes da revolta indígena contra o Tratado
de Madrid, no qual os índios cristianizados se insurgiram com a entrega dos
Sete Povos das Missões para os portugueses. Outros autores, nem tanto, pelo
contrário, torcem o nariz, argumentando que Sepé estaria a serviço da coroa
espanhola. E uma parcela significativa acredita que o Tiaraju teria sido um mito
construído pelos defensores da Companhia de Jesus, com o propósito de se
rebelar contra a extinção da referida ordem religiosa naquela nominada
“República Guarani” na América.
No entanto, há
outro expoente, adormecido no olvido da memória, renegado pela historiografia
oficial – o cacique guarani – DOM ANDRES GUACURARI, um tape, de estatura baixa,
corpo manchado de varíola, que lia e falava fluentemente o guarani, espanhol e
português, e que se consagrou como um dos ícones da resistência indígena contra
o elemento colonizador.
Sua história,
assim como a de Sepé, está envolta num misto de misticismo e credulidade,
cercada de heroísmos, intrigas, paixões e mistério. Temperos essenciais para
quem gosta de história.
Para uns,
Andresito, como era chamado, nasceu em São Borja , por volta de 1783; para outros, em Santo Tomé , Argentina,
país onde é tido como herói. Conforme alguns dados bibliográficos dos hermanos
que afirmam: “gracias a Andresito somos argentinos.” Inclusive, uma comissão de
estudiosos argentinos requisitou ao Brasil os restos daquele caudilho. Não se
tem notícia do sucesso dessa empreitada.
Pois
Andresito, órfão de pai, foi criado com o chefe político uruguaio José Artigas,
no auge do federalismo que se estendia pela Banda Oriental (Uruguai), Misiones,
Entre Rios, Corrientes, Santa Fé e Córdoba, povos esses que formavam a Liga dos
Povos Livres, que posicionava contra o poder central de Buenos Aires.
Andresito
Guacurari Artigas tornou-se Capitão de Blandengues, chegou a ser governador de
Misiones e Corrientes, na Argentina, assumindo o Comando Geral de Misiones,
aonde chegou a governar os 15 povos das Missões entre os rios Uruguai e Paraná.
Algumas campanhas são destacadas na carreira do peleador Andrés: a campanha do
rio Uruguai contra a invasão luso-brasileira.
Quando suas
forças cruzam o Uruguai e atacam o furriel Atanásio José Lopes, no acampamento
da barra do Cambai, em Itaqui, em 1816; a campanha de Corrientes em
defesa do federalismo (1818-1819), e a segunda campanha do rio Uruguai contra
novamente os luso-brasileiros, em 1819, que culminou na sua captura e posterior
envio para a prisão da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Nessa cidade,
possivelmente teria falecido. Sua história chega até esse ponto.
Destacou-se
por defender seu povo e provocar a liberdade de todos os cativos guaranis nas
mãos dos colonizadores.
Guacurari era
um líder diferenciado no agir. Quando decidia invadir um povo, após os
preparativos, realizava um curioso ritual. Apeava do cavalo uma légua antes e
entrava a pé, no meio de suas tropas enfeitadas por bandeiras artiguistas. Isso
humilhava os derrotados e o engrandecia.
O mesmo
comandante, defensor de seus irmãos de raça e enérgico para com os inimigos
portugueses.
O mesmo
Guacurari, que num momento se afogueava de amores com a índia guarani Melchora
Caburu, noutro momento lhe dava uma “sova de pau” porque a fogosa nativa
gostava de dançar nos bailes sem a sua companhia. Coisas da história. Coisas de
Andresito, uma espécie de Sepé melhorado. E essa “figura” andou por aqui!
(texto de
nossa obra AGENDA 150. Um passeio pelos carrilhões do tempo pretérito
itaquiense, Novigraf Gráfica e Editora, Itaqui, RS, 2008.)
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