SUA ALTEZA IMPERIAL NA VILA DE SÃO PATRÍCIO
DE ITAQUI – 2
Prof.º Paulo Santos
Dando sequência ao relato
da estadia de Dom Pedro II, em Itaqui, dia 26 de setembro de 1865, apraz-nos
conjeturar sobre algumas peculiaridades desse evento. Sim, porque isso era um
evento. A incipiente povoação ribeirinha, com pouca assistência do governo
provincial, distante dos centros de poder, isolada na pampa imensa, uma visita
dessa natureza era motivo para demoradas conversas à sombra frondosa das
figueiras, bebendo do chimarrão com erva vinda dos ervateiros do planalto
gaúcho.
Não há como negar – era um
acontecimento e tanto!
Após percorrer a região onde
ficavam as pedreiras, Sua Majestade se dirigiu à coxilha do lado do cemitério
novo.
Segundo dados recolhidos por pessoas
conhecedoras do assunto, seria a zona da atual Escola Estadual Aureliano
Barbosa. Parece que naquela quadra estava situado o referido cemitério, um dos
primeiros da povoação. Talvez essa coxilha principiasse desde o Castelinho da
Vila Alba indo até ao Aureliano. Dom Pedro, após essa recorrida, voltou em
direção à parte baixa da cidade, que se supõe da zona da Ponte Seca, Centro e
Umbu. Num desses locais estava situado o cemitério velho (não se conseguiu
localizar com precisão o local). Ali, o Monarca fez uma oração em honra ao
finado Coronel Manuel dos Santos Loureiro – Manduca Loureiro, esposo de dona
Antonia Loureiro, filha de Atanásio José Lopes. Esse foi um dos comandantes
legalistas que se bateu em luta a favor da monarquia brasileira, seja na Guerra
do Paraguai, ou, antes, na Revolução Farroupilha. Consta que na invasão
paraguaia, sua residência no interior no município foi preservada pelos
inimigos. Parece que o distinto Coronel havia mantido algumas relações
comerciais, ou amistosas, com o líder paraguaio, Solano Lopes.
Fontes orais citam que dom Pedro
deu uma parada e atado seu cavalo numa árvore que ficaria em terreno frente ao
atual Hotel Contursi.
Dom Pedro II atravessou a rua
principal, que originalmente era chamada de rua do Ipyranga (Hoje
Independência). Estava quase deserta a vila, as famílias haviam abandonado o
povoado diante da invasão e ainda não haviam regressado dessa emigração. Talvez
estivessem recolhidas nos matos, em propriedades rurais mais seguras. As
vidraças das casas estavam quase todas quebradas, portas e janelas abertas. Os
paraguaios roubaram o que puderam.
Imagina-se que a área urbana de
Itaqui devesse ficar circunscrita a 4 ou 5 ruas de sentido norte/sul e outras
tantas, de leste/oeste.
Segundo alguns relatos
históricos, os habitantes de Itaqui já sabendo dos efeitos da invasão a São
Borja, prontamente abandonaram o povoado, migrando para o interior, em locais
que propiciavam proteção melhor e distante do inimigo.
O interessante da narrativa do
cônego Gay é o fato de que não havia prédio público em Itaqui naquela data.
Havia apenas um prédio que servia como cadeia e sede da Guarda Nacional. Esta
casa devia ser uma espécie de sobrado, pois Sua Majestade nela subiu e teve uma
vista panorâmica de toda a Villa. Antes do meio-dia, o Monarca retornou ao
barco Onze de Junho para o real almoço com seus súditos. O Marquês, mais tarde,
célebre Duque de Caxias, não desembarcou, pois estava acometido de uma gripe
muito forte. O legendário militar tão afeito a sérias refregas, ali estava
entregue a uma corriqueira gripe. Coisas da história!
Poxa, que honra para Itaqui – Dom
Pedro II, autoridade máxima do regime imperial português no Brasil e o Marquês
de Caxias, considerado o maior herói militar de todos os tempos. Dois
protagonistas num úmido e desolado cenário interiorano. Que pena, diriam
outros!
Depois do almoço D. Pedro foi
apresentado pelo padre José Coriolano de Sousa Passos a uma índia guarani.
Ambos conversaram, o comandante galego interessou-se pela língua guarani e fez
à assustada indígena, inúmeras perguntas.
O padre José Coriolano de Sousa
Passos tinha um filho, Israel Sousa Passos, que originou a família desse
sobrenome em Itaqui. O padre em questão morava na esquina onde hoje funciona a
seita Jorei, Independência com João Dubal Goulart.
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Esta era a casa do padre José Coriolano de Sousa Passos, aqui aparecendo frente ao prédio da hoje Secretaria Municipal de Educação. Ela teria sido demolido por volta de 1960/1970 |
À tarde, Sua Majestade foi dar um
novo passeio pela Villa. Conversou com várias pessoas que vinham lhe beijar a
mão, indagando como tinham sido tratadas pelos paraguaios. Quando entardecia,
retornou ao barco do séquito imperial para repousar o sacrossanto corpo
monárquico de tão “estafante tarefa”.
Pelas 6 horas da manhã, o vapor
Onze de Junho zarpa com destino a São Borja. Lá chegaram às 15h30min, levando 7
horas e 30 minutos de viagem, via fluvial. Hoje, via rodoviária, é possível de
se cumprir esse trajeto em menos de uma hora. Coisas do progresso! Valeu a pena
essa visita?
Um ano depois (1866) é instalada
a Flotilha do Alto Uruguai, para guarnecer essa fronteira. Nela passaram
Prezewodowski e Saldanha da Gama, entre outros. Valeu a pena a plebe itaquiense
beijar mão de Dom Pedro II.
Como diria Fernando Pessoa: “Tudo
vale a pena se a alma não é pequena”.
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