sábado, 26 de agosto de 2017

Sua Alteza Imperial na Vila de São Patrício de Itaqui (2)

SUA ALTEZA IMPERIAL NA VILA DE SÃO PATRÍCIO DE ITAQUI – 2
 
Dom Pedro II, com o pala presenteado pelos rio-grandenses.
Prof.º Paulo Santos

Dando sequência ao relato da estadia de Dom Pedro II, em Itaqui, dia 26 de setembro de 1865, apraz-nos conjeturar sobre algumas peculiaridades desse evento. Sim, porque isso era um evento. A incipiente povoação ribeirinha, com pouca assistência do governo provincial, distante dos centros de poder, isolada na pampa imensa, uma visita dessa natureza era motivo para demoradas conversas à sombra frondosa das figueiras, bebendo do chimarrão com erva vinda dos ervateiros do planalto gaúcho.
Não há como negar – era um acontecimento e tanto!
Após percorrer a região onde ficavam as pedreiras, Sua Majestade se dirigiu à coxilha do lado do cemitério novo.
Segundo dados recolhidos por pessoas conhecedoras do assunto, seria a zona da atual Escola Estadual Aureliano Barbosa. Parece que naquela quadra estava situado o referido cemitério, um dos primeiros da povoação. Talvez essa coxilha principiasse desde o Castelinho da Vila Alba indo até ao Aureliano. Dom Pedro, após essa recorrida, voltou em direção à parte baixa da cidade, que se supõe da zona da Ponte Seca, Centro e Umbu. Num desses locais estava situado o cemitério velho (não se conseguiu localizar com precisão o local). Ali, o Monarca fez uma oração em honra ao finado Coronel Manuel dos Santos Loureiro – Manduca Loureiro, esposo de dona Antonia Loureiro, filha de Atanásio José Lopes. Esse foi um dos comandantes legalistas que se bateu em luta a favor da monarquia brasileira, seja na Guerra do Paraguai, ou, antes, na Revolução Farroupilha. Consta que na invasão paraguaia, sua residência no interior no município foi preservada pelos inimigos. Parece que o distinto Coronel havia mantido algumas relações comerciais, ou amistosas, com o líder paraguaio, Solano Lopes.
Fontes orais citam que dom Pedro deu uma parada e atado seu cavalo numa árvore que ficaria em terreno frente ao atual Hotel Contursi.
Dom Pedro II atravessou a rua principal, que originalmente era chamada de rua do Ipyranga (Hoje Independência). Estava quase deserta a vila, as famílias haviam abandonado o povoado diante da invasão e ainda não haviam regressado dessa emigração. Talvez estivessem recolhidas nos matos, em propriedades rurais mais seguras. As vidraças das casas estavam quase todas quebradas, portas e janelas abertas. Os paraguaios roubaram o que puderam.
Imagina-se que a área urbana de Itaqui devesse ficar circunscrita a 4 ou 5 ruas de sentido norte/sul e outras tantas, de leste/oeste.
Segundo alguns relatos históricos, os habitantes de Itaqui já sabendo dos efeitos da invasão a São Borja, prontamente abandonaram o povoado, migrando para o interior, em locais que propiciavam proteção melhor e distante do inimigo.
O interessante da narrativa do cônego Gay é o fato de que não havia prédio público em Itaqui naquela data. Havia apenas um prédio que servia como cadeia e sede da Guarda Nacional. Esta casa devia ser uma espécie de sobrado, pois Sua Majestade nela subiu e teve uma vista panorâmica de toda a Villa. Antes do meio-dia, o Monarca retornou ao barco Onze de Junho para o real almoço com seus súditos. O Marquês, mais tarde, célebre Duque de Caxias, não desembarcou, pois estava acometido de uma gripe muito forte. O legendário militar tão afeito a sérias refregas, ali estava entregue a uma corriqueira gripe. Coisas da história!
Poxa, que honra para Itaqui – Dom Pedro II, autoridade máxima do regime imperial português no Brasil e o Marquês de Caxias, considerado o maior herói militar de todos os tempos. Dois protagonistas num úmido e desolado cenário interiorano. Que pena, diriam outros!
Depois do almoço D. Pedro foi apresentado pelo padre José Coriolano de Sousa Passos a uma índia guarani. Ambos conversaram, o comandante galego interessou-se pela língua guarani e fez à assustada indígena, inúmeras perguntas.
O padre José Coriolano de Sousa Passos tinha um filho, Israel Sousa Passos, que originou a família desse sobrenome em Itaqui. O padre em questão morava na esquina onde hoje funciona a seita Jorei, Independência com João Dubal Goulart.
Esta era a casa do padre José Coriolano de Sousa Passos,
 aqui aparecendo frente ao prédio da hoje
Secretaria Municipal de Educação. Ela teria sido demolido por volta de 1960/1970

À tarde, Sua Majestade foi dar um novo passeio pela Villa. Conversou com várias pessoas que vinham lhe beijar a mão, indagando como tinham sido tratadas pelos paraguaios. Quando entardecia, retornou ao barco do séquito imperial para repousar o sacrossanto corpo monárquico de tão “estafante tarefa”.
Pelas 6 horas da manhã, o vapor Onze de Junho zarpa com destino a São Borja. Lá chegaram às 15h30min, levando 7 horas e 30 minutos de viagem, via fluvial. Hoje, via rodoviária, é possível de se cumprir esse trajeto em menos de uma hora. Coisas do progresso! Valeu a pena essa visita?
Um ano depois (1866) é instalada a Flotilha do Alto Uruguai, para guarnecer essa fronteira. Nela passaram Prezewodowski e Saldanha da Gama, entre outros. Valeu a pena a plebe itaquiense beijar mão de Dom Pedro II.

Como diria Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

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