Itaqui – um cego, barras de ouro e os
rigores da lei!
Um flash curioso do passado.
Esta igreja compunha o cenário desta curiosa notícia. |
Prof.º
Paulo Santos
Corria
o ano de 1899.
No
entrevero das guerras e revoluções, Itaqui respirava um ar de calmaria.
Cigarras
bordejavam pelos frondosos ipês em seu uníssono concerto, trilha sonora para um
cenário de modorra e inércia. Uma paz exagerada.
Seis
anos passados e a Federalista comia solta. Picapaus e maragatos batiam adagas
num combate desigual. Três décadas antes, os paraguaios davam serviço a essa
gente.
Do
extertor da Monarquia para o estabelecimento da República, muitos debates,
intrigas, atentados, mortes encomendadas de parte a parte, prisões,
perseguições, ódios e ressentimentos.
Água
na ebulição máxima do caldeirão!
Agora
– 1899. Ânimos refreados. Beatas com seus véus escuros e terço nas mãos cruzam
a rua da Igreja. Contritos senhores embigodados atravessam o centro
empertigados na condução de suas jardineiras. Um bando de guris de calças
curtas e pés no chão espreitam numa esquina.
Um
tempo terno e plácido.
Um
fato curioso vem quebrar esse monótono ambiente.
Eis
que um cego aparece pela cidade, acompanhado de um guia que o ajudava a pedir
pelas ruas.
A
polícia local desconfiou daquela cegueira e chamou o distinto aos conformes. Interpelado,
o dito cujo foi encaminhado para a casa de saúde do povo (creio que o antigo
Hospital na área próxima ao bairro Cerrinho).
O
delegado, louco de vivo, mandou examiná-lo, dizendo que estava num hospital e
que iria ser operado para restituir a visão. Para tanto, foi avisado que seria
necessário uma anestesia.
O
finório “abriu o olho”! Medo, desespero, pavor, não sei que sensações dele se
apossou.
Respondeu:
- “ Não, doutor, não há necessidade, estou bem. Vejo perfeitamente, muito
obrigado!”
Milagre!
Milagre, pensaram. Mas os homens da lei não eram bobos. Os policiais
detiveram-no e fizeram uma revista. Nos bolsos e pertences do “pobre pedinte”
encontraram regular quantidade de ouro e papel, além de algumas armas. O mesmo
ocorreu com o seu companheiro.
Que
barbaridade! Enquadrado nos costumes de então, o pseudocego teve a carreira
frustrada. Sem querer, alguém, não se sabe como, abriu-lhe os olhos!
Como
diria um folclórico técnico de futebol com suas tiradas hilárias:
“O pior cego é aquele que não vê!”
Verdade.
E pensar que nesses tempos modernos é que grassam os espertalhões. Olho vivo
sempre existiu.
Muito bom, professor!
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