domingo, 29 de outubro de 2017

Atanásio José Lopes

ATANÁSIO JOSÉ LOPES
Um furriel de milícias na defesa dos domínios portugueses frente à tentativa de reconquista dos guaranis de Andresito
Prof.º Paulo Santos

Muita gente passa pela rua Atanásio José Lopes, ou talvez até nela more, sem saber quem era a pessoa que recebeu tal homenagem. Pois nome de rua é homenagem. Só o recebe quem prestou algum serviço de relevância ou teve uma vida envolta em atos de bravura, benfeitoria ou desprendimento.
Vejamos então!
Atanásio Lopes nasceu em Santo Antonio da Patrulha, sendo batizado no dia 15 de maio de 1780, filho do Capitão Antonio José Lopes, natural de Évora, Portugal e de dona Helena Eufrásia Pereira (nascida em 3 de junho de 1754, em Rio Grande, RS), da freguesia de Santo Antonio da Patrulha, filha de Manoel Antonio e Mariana de Bittencourt. Seu pai veio de Portugal, fixando-se no Rio Grande e aqui contraindo núpcias. Manoel Antonio de Bittencourt nasceu em 1724, na Ilha Graciosa, Açores, Portugal, filho de Manuel Pereira Bittencourt e Catarina Espíndola.  Mariana de Bittencourt nasceu na mesma Ilha, Açores, filha de Manuel Machado Ribeiro e Teresa de Ataíde de Bittencourt. Os avós paternos eram Antonio Lopes e Mariana de Jesus.
A genealogia de Atanásio José Lopes cruza, em determinado momento, com a minha, segundo os estudos até agora.
Atanásio José Lopes viria a casar com Ana Joaquina da Silveira, filha de Francisco Silveira Peixoto e Ana Maria de Jesus. O pai, natural de Faiol, Açores, Portugal, filho de José Silveira Peixoto e Maria da Conceição. A mãe, natural do mesmo lugar, filha de Antonio Silveira Goulart e Maria Dutra, falecida em 28 de agosto de 1703, em Santo Antonio da Patrulha, Rio Grande do Sul.
Houve desse casal quatro filhos: Atanásio, José, Mariana e Antonia.
Atanásio era um furriel de milícias, cargo intermediário entre cabo e sargento, e comandava uma guarda na barra do Cambai, o lendário rio Itaquy, em 1826. Essa guarda foi colocada no local onde estivera o acampamento dos 150 soldados milicianos comandados pelo Capitão Fabiano Pires de Almeida ali instalada em 1821. Após o registro desse regimento, nenhuma outra informação se tem. Fala-se que após uma grande enchente teriam os soldados migrados para região onde hoje é o centro da cidade. Eu imagino que essa força não ficou muito tempo por aqui. O grosso da tropa voltou para suas bases, deixando uma pequena guarda no seu lugar. Essa era função de Atanásio como comandante dessa guarnição, composta por 12 ou 13 milicianos: fazer a vigilância da fronteira.
Essa guarda, na foz do arroio Cambaí, foi atacada de surpresa por uma força de mais de 2000 combatentes comandados pelo cacique guarani, filho adotivo do General uruguaio José Artigas, o famoso Andresito Guacurari Artigas, justamente no dia 12 de setembro de 1826. Andresito tinha o propósito de reconquistar essas terras para o domínio espanhol e reintegrá-las ao contexto guarani.
Ilustração: cacique Andresito Artigas, cuja tropa aniquilou  a guarda de Atanásio José Lopes

A guarda de Atanásio, diante da superioridade numérica do inimigo bateu-se em retirada, dirigindo-se à estância São João, propriedade da família, distante uns 30 quilômetros. Foram perseguidos pelos invasores e em vez de se entregarem, resolveram resistir, ficando entrincheirados na casa de moradia.
Todo aquele corpo foi dizimado, além de Atanásio e sua esposa, Ana Joaquina. Na hora do combate, segundo relatos, Atanásio trazia no colo uma das filhas, Antônia, que também fora ferida gravemente num dos braços tentando defender o pai. Esta e mais três irmãos sobreviveram, sendo recolhidos pelos índios guaranis e levados para o outro lado do rio Uruguai, sendo acolhidos por eles, não se sabe bem se em Alvear ou La Cruz, vivendo em condições subumanas. Um ano após foram recuperados e trazidos de volta para Itaqui aos cuidados de outros familiares.
O Cônego João Pedro Gay em sua monumental obra sobre as Missões informava sobre Antonia Lopes Loureiro "a qual era muito menina e estava abraçada com seu pai quando a gente de Adnresito o mataram. Ela mesma foi ferida em um braço". (p.827, Revista do Arquivo Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, volume 26).
Todos cresceram e se tornaram pessoas conhecidas na comunidade. Antônia Lopes da Silva, nascida em 14 de maio de 1824, em Santo Antonio da Patrulha, viria a casar-se com Manoel dos Santos Loureiro, o conhecido Coronel Manduca Loureiro, nascido em 1803 na mesma cidade, filho do Cel. Joaquim dos Santos Loureiro e Maria Eufrásia Lopes, tios do casal.

Atanásio José Lopes, Antonia Lopes Loureiro e Manduca Loureiro viraram nomes de ruas. O sacrifício do bravo furriel é reverenciado pela memória itaquiense.
Coronel Manduca Loureiro - foto do blog loureirogenea - esposo da filha de Atanásio José Lopes

Um comentário:

  1. Professor Paulo, se é como dizes, temos em algum ponto do passado, os mesmos ancestrais.

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