domingo, 5 de novembro de 2017

Rio Ytaqui/Cambaí

RIO YTAQUI/CAMBAÍ
A gênese de nossa história pregressa
Prof.º Paulo Santos 
Retomando: a história de Itaqui está sendo construída a cada dia. Os relatos que nos foram deixados não são suficientes. Boa parte do que conhecemos deve-se à obra do juiz pernambucano, Dr.º Hemetério José Veloso da Silveira. Há pouco tempo atrás, acadêmicos dos cursos de História da região, amparados por seus professores, encetaram, bons trabalhos de pesquisa bibliográfica sobre nossa história. Depois, isso não teve solução de continuidade.
Além disso, os “pesquisadores caseiros” da cidade também se esforçam e trazem a lume novas evidências, ou reconstroem algumas tidas como definitivas, num trabalho suplementar aos dados existentes.
Neste sentido, um dado novo soma-se ao esforço de revitalização do estudo histórico. Sabíamos, por exemplo, de forma quase didática, que Itaqui era uma toponímia indígena (de base guarani) que significa “pedra d água, macia, boa para amolar”, ainda que ocorram outros significados para tal palavra. Supõe-se que nome esteja atrelado à consistência do solo e à exuberância do elemento pedra no território itaquiense. Entretanto, ao se analisar mapas antigos, algumas referências vêm à tona.
Em 1737, em mapa de um jesuíta argentino, onde constava o espaço missioneiro, com reduções, capelas e estâncias, surge um rio fronteiro à La Cruz/Alvear (na época com outro nome) grafado como ITAQI. Esse, acredita-se,  seria o atual arroio Cambai.
Essa informação se encorpou com um novo dado. Recebi no ano de 2008, cópia de um mapa copiado do Arquivo Geral do Vaticano, em cuja descrição consta o período de 1690-1691. Nesse mapa surge, novamente, o rio YTAQUI. Por essa fonte, o nome de nossa cidade já existiria, pelo menos há mais de 300 anos. Essa preciosidade fora-me obsequiada pelo Sr. Fernando Corrêa Rodrigues, da Revista Armazém da Cultura, de São Borja, da qual  era um dos editores. Esta revista realizava belo trabalho na área editorial, com ótima qualidade de impressão, trazendo artigos ligados à história da região. Não sei se tal edição ainda persiste.
Mapa arquivado no Vaticano, data de 1690-1691.Revista Armazém da Cultura/São Borja

Com essa informação, podemos repensar a formatação de nossa história pregressa.
Por suposição, pode-se acreditar que a origem de Itaqui estaria ligada diretamente ao arroio (ou rio) Cambai, antes denominado Itaqi (ou ainda Itaki) ou Ytaqui. Pode-se ainda divagar que os índios guaranis, ambientados ou não ao espaço jesuítico-missioneiro, tivessem seus arranchamentos próximos ao rio em questão.
Por que será que o município tem esse nome? Que outras razões fundamentam esse batismo? Será que a excelência da pedra grês é que deu motivo para batizar o rio de Itaqui ou o rio serviu de motivo para justificar a exuberância desse material por aqui?
Encontramos um registro, em espanhol, referindo-se ao Pueblo de Itaquy, pelos anos de 1759. Esse Povo pertencia às doutrinas jesuíticas da Companhia de Jesus aqui instaladas.
Onde estaria esse Pueblo situado? Será que próximo ao rio Cambai/Ytaqui? Será que esse Povo não seria bem anterior a 1759? Qual a relação dele com o rio? Quando o acampamento de milicianos do Capitão Fabiano Pires de Almeida aqui se instalou, em 1821, foi na barra do Cambai? Quando Andresito Artigas invadiu Itaqui, em 1816, foi pelo rio Cambai. Quando a Flotilha do Alto Uruguai veio em 1866, foi pela área próxima ao Cambai. Então, tem alguma coisa mais naquela área. Não será por ali o começo de tudo? Historiadores e pesquisadores: pronunciem-se!
Aqui era um território eminentemente missioneiro. Por ignorância, ou desconhecimento histórico, algumas pessoas da cidade, com um certo grau de conhecimento, afirmam que Itaqui não é Missões. As evidências são muitas. Para não aceitar tal definição somente por teimosia ou sei lá que motivo. Itaqui é Missões, sim!
Nos registros das paróquias, quando se referiam a Itaqui, em óbitos, nascimentos ou casamentos muitas das pessoas ali envolvidas eram caracterizadas como “naturais das Missões”.
Para se ter uma ideia, um mapa primitivo de La Cruz, que faz parte do inventário daquela redução, com data de 1768, mostra que no interior da área correspondente a Itaqui havia aproximadamente 15 capelas devidamente nomeadas. Estavam localizadas nos campos destinados à estância de La Cruz. Por essa fonte, pode-se crer, então: Itaqui surge a partir de um rio.
Eu até me apropriaria de uns versos do Rubinaldo Kulmann, um dos mnais fecundos compositores de Itaqui, meu saudoso companheiro de enredos carnavalescos,  e me atreveria a dizer, parodiando:
“Eu já não sei se a graça
é rio que passa para ver Itaqui
 ou é o tempo que passou
 e o rio ficou para Itaqui passar”.
Parece que a origem de toda nossa formação está ali naquele pequeno curso d’água, para alguns denominado “rio dos negros”, para outros, sem evidência alguma. Entretanto, era o primitivo rio Itaquy – a gênese de nossa história pregressa.
(Este texto faz parte de nossa obra AGENDA 150, Itaqui/Novigraf, 2008)

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