RIO YTAQUI/CAMBAÍ
A gênese de nossa história pregressa
Prof.º Paulo Santos
Retomando: a história de
Itaqui está sendo construída a cada dia. Os relatos que nos foram deixados não
são suficientes. Boa parte do que conhecemos deve-se à obra do juiz
pernambucano, Dr.º Hemetério José Veloso da Silveira. Há pouco tempo atrás,
acadêmicos dos cursos de História da região, amparados por seus professores, encetaram,
bons trabalhos de pesquisa bibliográfica sobre nossa história. Depois, isso não
teve solução de continuidade.
Além disso, os
“pesquisadores caseiros” da cidade também se esforçam e trazem a lume novas
evidências, ou reconstroem algumas tidas como definitivas, num trabalho
suplementar aos dados existentes.
Neste sentido, um dado
novo soma-se ao esforço de revitalização do estudo histórico. Sabíamos, por
exemplo, de forma quase didática, que Itaqui era uma toponímia indígena (de base
guarani) que significa “pedra d água, macia, boa para amolar”, ainda que
ocorram outros significados para tal palavra. Supõe-se que nome esteja atrelado
à consistência do solo e à exuberância do elemento pedra no território
itaquiense. Entretanto, ao se analisar mapas antigos, algumas referências vêm à
tona.
Em 1737, em mapa de um
jesuíta argentino, onde constava o espaço missioneiro, com reduções, capelas e
estâncias, surge um rio fronteiro à La
Cruz /Alvear (na época com outro nome) grafado como ITAQI.
Esse, acredita-se, seria o atual arroio
Cambai.
Essa informação se encorpou
com um novo dado. Recebi no ano de 2008, cópia de um mapa copiado do Arquivo
Geral do Vaticano, em cuja descrição consta o período de 1690-1691. Nesse mapa
surge, novamente, o rio YTAQUI. Por essa fonte, o nome de nossa cidade já
existiria, pelo menos há mais de 300 anos. Essa preciosidade fora-me obsequiada
pelo Sr. Fernando Corrêa Rodrigues, da Revista Armazém da Cultura, de São
Borja, da qual era um dos editores. Esta
revista realizava belo trabalho na área editorial, com ótima qualidade de
impressão, trazendo artigos ligados à história da região. Não sei se tal edição
ainda persiste.
Mapa arquivado no Vaticano, data de 1690-1691.Revista Armazém da Cultura/São Borja |
Com essa informação,
podemos repensar a formatação de nossa história pregressa.
Por suposição, pode-se
acreditar que a origem de Itaqui estaria ligada diretamente ao arroio (ou rio)
Cambai, antes denominado Itaqi (ou ainda Itaki) ou Ytaqui. Pode-se ainda
divagar que os índios guaranis, ambientados ou não ao espaço
jesuítico-missioneiro, tivessem seus arranchamentos próximos ao rio em questão.
Por que será que o
município tem esse nome? Que outras razões fundamentam esse batismo? Será que a
excelência da pedra grês é que deu motivo para batizar o rio de Itaqui ou o rio
serviu de motivo para justificar a exuberância desse material por aqui?
Encontramos um registro,
em espanhol, referindo-se ao Pueblo de
Itaquy, pelos anos de 1759. Esse Povo pertencia às doutrinas jesuíticas da
Companhia de Jesus aqui instaladas.
Onde estaria esse Pueblo situado? Será que próximo ao rio
Cambai/Ytaqui? Será que esse Povo não seria bem anterior a 1759? Qual a relação
dele com o rio? Quando o acampamento de milicianos do Capitão Fabiano Pires de
Almeida aqui se instalou, em 1821, foi na barra do Cambai? Quando Andresito
Artigas invadiu Itaqui, em 1816, foi pelo rio Cambai. Quando a Flotilha do Alto
Uruguai veio em 1866, foi pela área próxima ao Cambai. Então, tem alguma coisa
mais naquela área. Não será por ali o começo de tudo? Historiadores e
pesquisadores: pronunciem-se!
Aqui era um território
eminentemente missioneiro. Por ignorância, ou desconhecimento histórico,
algumas pessoas da cidade, com um certo grau de conhecimento, afirmam que
Itaqui não é Missões. As evidências são muitas. Para não aceitar tal definição
somente por teimosia ou sei lá que motivo. Itaqui é Missões, sim!
Nos registros das
paróquias, quando se referiam a Itaqui, em óbitos, nascimentos ou casamentos
muitas das pessoas ali envolvidas eram caracterizadas como “naturais das
Missões”.
Para se ter uma ideia, um
mapa primitivo de La Cruz ,
que faz parte do inventário daquela redução, com data de 1768, mostra que no
interior da área correspondente a Itaqui havia aproximadamente 15 capelas
devidamente nomeadas. Estavam localizadas nos campos destinados à estância de La
Cruz. Por essa fonte, pode-se crer, então:
Itaqui surge a partir de um rio.
Eu até me apropriaria de
uns versos do Rubinaldo Kulmann, um dos mnais fecundos compositores de Itaqui,
meu saudoso companheiro de enredos carnavalescos, e me atreveria a dizer, parodiando:
“Eu já não sei se a graça
é rio que passa para ver
Itaqui
ou é o tempo que passou
e o rio ficou para Itaqui passar”.
Parece que a origem de
toda nossa formação está ali naquele pequeno curso d’água, para alguns
denominado “rio dos negros”, para outros, sem evidência alguma. Entretanto, era
o primitivo rio Itaquy – a gênese de nossa história pregressa.
(Este texto faz parte de
nossa obra AGENDA 150, Itaqui/Novigraf, 2008)
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