domingo, 29 de outubro de 2017

Dorval Peres

DORVAL PERES
Um combatente à margem dos memoriais
Prof.º Paulo Santos

É próprio dos historiadores reverenciarem personagens ligadas aos grandes fatos, revestidos de postos, lauréis e glórias.
Os humildes.....há!...esses ficam relegados ao esquecimento e à revelia, poucas vezes sobrevivem na memória alimentada pela tradição oral. Neste espaço pretendemos resgatar para a historiografia itaquiense, a memória de um combatente, simples, humilde, porém investido de uma riqueza existencial de fazer inveja a muito ser bem dotado intelectualmente.
Este texto-depoimento eu o fiz há muito tempo atrás, quando preparava material ao livro do artista itaquiense, Jorge Vômero. Resolvi entrevistar, então, a DORVAL PERES. De acordo com sua memória, privilegiada, teria 99 anos, na época – algo extraordinário! Fomos visitá-lo e tentaremos transcrever informações que foram possíveis coletar. Após algum tempo, nosso entrevistado faleceu.
Dorval Peres nasceu na Bela Uníón. Seus pais eram Joana Manvaira Peres e Manoel Peres. Nunca frequentou escola alguma, entretanto, era dotado de um conhecimento de vida muito aguçado. Seu pai foi um veterano da Revolução de 1893, a Federalista. O sobrenome Peres é de procedência uruguaia, pois seu avô, Mariano Peres, teria vindo da República Oriental do Uruguai, fixando-se nessa região.
Dorval contava que participou de combates em revoluções no período de 1923, 1924 e 1936, questões relativas à troca de governos e o consequente enfrentamento das diferentes forças.
Percebia-se no referido combatente uma fidelidade ferrenha aos ideais por que lutava. Continuava sendo um chimango; mantinha, na ocasião, guardados, como relíquias, dois lenços brancos – símbolo dos chimangos. Em 1923 foi para a revolução no lugar de seu pai, e daí em diante sempre esteve atrelado a combates e refregas.
Algumas informações transitavam em sua mente um pouco difusas, no entanto ainda guardavam um pouco de nexo. Salientava que a atuação guerreira esteve situada à fronteira, visto que sua brigada sediava-se em Livramento.
Lembrava muito bem de Osvaldo Aranha que provavelmente teria sido um de seus comandantes quando das brigas de fronteira, dado ao seu caráter de legalista. Conheceu e lutou ao lado do famoso General Flores da Cunha, que por sinal, devotava fidelidade.
Contou-nos uma passagem altamente curiosa e sentimental ocorrida com Flores da Cunha quando este era presidente do Estado. Uma senhora foi procurá-lo para que intecerdesse, por ela, numa questão relativa à prisão de seu filho. Essa senhora solicitava que Flores da Cunha providenciasse a libertação do moço. O referido General perguntou se a humilde mãe não teria um esposo que lutasse por essa causa. Rápido teve a resposta:
“- Quando o terneiro está atado, General, quem berra é a vaca!”, respondeu a intrépida mãe.
Flores da Cunha admirou-se da resposta franca e fulminante e, em vista disso, atendeu ao pedido. Nunca uma mulher tinha lhe dado uma resposta tão firme, franca e profunda. Mandou soltar o filho da mesma e contava a todos a “gauchada da senhora”, fato esse recolhido por Dorval.
Falava dos combates que participou. Em Ibirapuitan (Alegrete), muita gente morreu porque as forças contrárias entrincheiraram-se numa mangueira de pedra. No combate de Vista Alegre, também no mesmo município, na divisa com Rosário, perderam-se muitos chimangos, pois os revolucionários situaram-se atrás de um serro.
Lembra de uma frase do Drº. Roque Degrazia quando do sítio de Itaqui, em 1923: “– Faz cinco dias que estamos sitiados. Estamos comendo as vacas dos leiteiros. O que vamos fazer?”
Sua memória guarda uma décima de 1924, na Revolta do Prestes:
“No dia 24 de julho
foi uma noite amargurada
gritaram: viva a revolta!
às quatro da madrugada”.
Pouco tempo depois, viria a falecer. Ficou, infelizmente, à margem dos memoriais.


Nota do autor: Seus descendentes poderiam ajudar-nos com mais informações e fotos do mesmo. ok?

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