O Castelo do Vidal!
Matizes medievais e opulências aristocráticas
num povoado fronteiriço.
Prof.º
Paulo Santos
Um
dos mais emblemáticos prédios da história itaquiense é, sem dúvida, o Castelo (ou Castelinho) do Vidal, na
rua Osvaldo Aranha esquina com a Rodrigues Lima, margeando o rio Uruguai. Popularmente,
tem esta conotação!
Entretanto,
a construção tem origem na Família Barbosa, quando o patriarca, Coronel Tristão Pinto Barbosa encomenda
a planta deste casarão, na época denominado Chalet dos Barbosa. Em 02 de fevereiro de 1910, o arquiteto Pascual Minoggio entrega o desenho do
projeto que, segundo consta nos depoimentos de familiares, fora encomendado a um
arquiteto de Buenos Aires.
O
material veio boa parte da Argentina, via rio Uruguai, nas barcaças que também
trouxeram portas, portalados, janelas, enlouçados, vidros, azulejos e móveis. Alguns
desses elementos vieram da Espanha e da França. Não se sabe bem ao certo quais
dos filhos de Tristão moraram neste local. Parece que a advogada Joaquina Pinto Barbosa teria residido
um tempo antes de ir para Porto Alegre, assim como Manoel Pinto Barbosa. Em 1911, com as obras concluídas, podemos ver
um magnífico postal do vistoso prédio e seus moradores.
Postal de 1911, O Chalet no esplendor de sua forma |
A
planta previa mais de uma sala, galeria, vestíbulos, banheiros, alguns
dormitórios, despensa, porão, escritório e uma peça denominada Usina (talvez
fosse para instalação dos comandos da rede elétrica), além de sacadas e um
arremedo de torre. Na verdade, não era um castelo, apenas uma distante imitação
ao formato de um chalet.
O
grande caudilho político Assis Brasil,
no auge de sua campanha para o governo estadual, hospeda-se neste chalet. Com o
tempo, o povo foi chamando de Castelinho, denominação que perdura até hoje,
apenas com o acréscimo do novo dono: Vidal!
Em
1918, o Castelinho fora comprado pelo Major
Antônio Duarte Costa Vidal, juntamente
com 73 quadras de sesmaria em campos da fazenda Santa Maria, no 1.º distrito de Itaqui, na costa do Ibicuí, e mais quatro mil reses.
O
Major Antônio Duarte da Costa Vidal era filho do Capitão de Mar e Guerra, Francisco Duarte da Costa Vidal, um dos
primeiros comandantes da Flotilha do
Alto Uruguai (1867) e de dona Manoela
Dubal Vidal. Nasceu, conforme registro do padre José Coriolano de Sousa Passos, em 14 de outubro de 1867,
embora algumas fontes tragam como 1872.
foto Major Antonio Vidal. (site de genealogia Geni) |
Parece
que teria vivido próximo dos noventa anos. Destacou-se na Campanha de Canudos, Pernambuco, em 1897, quando as tropas
governistas aniquilaram com os rebeldes de Antônio Conselheiro, um visionário
líder nordestino. Euclides da Cunha,
com o seu magistral “Os Sertões”, disseca,
com maestria, esse movimento, tratando da luta, do espaço territorial dos
nordestinos em luta e a têmpera e a identidade do povo daquele lugar. Verdade seja
dita – não foi apenas o sufocamento de uma insurreição. Foi um massacre, um
verdadeiro massacre! Mas os heróis estão aí para serem sacralizados e os vencidos
jazem sem voz!
Com
o novo proprietário, o Castelinho passa
a ser chamado de Castelo ou Chalet do
Vidal.
Referente
aos dados pessoais e familiares do Major, não há muito rigor e clareza, por isso
evito de expô-los, embora seja pacífico afirmar que passara por três
casamentos.
Por
volta de 1930, abandona Itaqui, indo residir em Pelotas. Lá, adquire um terreno
em 1931 e manda construir um prédio com formato de castelo. Baseado em modelos
de arquitetos uruguaios, desenha a planta e entrega a um construtor. A obra
teria término em 1936, conhecida como o Castelinho
da Quinze, situado na confluência da rua Quinze de Novembro com a Conde de Porto
Alegre.
Castelinho da Quinze, em Pelotas (disponível em pu3yka.com.br) |
Tinha
8 peças, garagens, salas de jogos e dependências para empregados nos porões,
uma escada cilíndrica que levava até a torre. Teria sido habitado até próximo
de 1964. Encontrava-se, há muitos anos, em adiantado estado de decomposição. Hoje,
sinceramente, não sabemos de sua situação.
Quando
morador de Pelotas, o Major Vidal era proprietário da Vila Matilde, estabelecimento pastoril no Uruguai, da Fazenda Santana, em Alegrete e do
estabelecimento Santa Maria, na
costa do Ibicuí, em Itaqui.
O
Castelinho da Quinze viveu dias de glória, com recepções, recitais, cantores
líricos apresentavam-se para a fina flor da sociedade pelotense.
Assim
como o castelo de Itaqui, o Castelinho da Quinze recebeu e abrigou grandes
autoridades da política regional e federal e outras personalidades sociais
importantes da época. Ali pululam histórias fantasmagóricas e ou difusas.
Segundo
informações orais de Pelotas, disponíveis num endereço eletrônico, consta que
houve um crime no Castelinho. Um mordomo teria sido assassinado numa banheira. O
medo começava a rondar as escuras repartições do casarão abandonado.
Mistérios!
Silêncios! Culpas! Carmas! Carmas?? Não,
por ora, calma! Não entremos neste terreno nebuloso pois não nos cabe
competência para tal.
E
o Castelo do Vidal, em Itaqui, não
foge à regra. Depoimentos orais também indicam que houve morte nos seus
recintos. Morte estranha, omitida, relatos velados. Conteúdos da oralidade.
Depois,
o abandono. Ruínas! Escuridão!
O Castelo do Vidal hoje em ruínas (disponível em www.itaquirs.com.br) |
Almas
penadas começam a habitar na escuridão do prédio!
Antes,
a opulência e o poderio das clãs majoritárias da oligarquia local dominando
aquele flamejante edifício. Durante um tempo, famílias em situação de
vulnerabilidade e excluídas socialmente habitaram precariamente o Castelo. Agora,
seres metamorfoseados em imagens são os inquilinos do local.
Destruição
e penumbra!
Conversando
com alunos de uma escola ao lado do Castelo, alguns me confidenciaram que
várias vezes viram um senhor na janela dos fundos. Também visualizaram a forma
de uma mulher nas janelas da frente e na sacada.
Do
Castelo Vidal não restou quase nada.
Paredes colossais em ruínas, telhado desabando, o mato tomando conta do
terreno.
Lembranças.
Ocasos!
No
contorno medieval ficaram musgos e mofos. Das arcadas da frontaria, buracos e
fendas.
E
o Major Vidal, quem sabe, anda pelas
janelas, agora sem a vaidade e o garbo dos flegmáticos tempos, procurando
algo.....quem sabe....