domingo, 12 de julho de 2020

E dê-lhe bala no Passo da Cachoeira!




CRÔNICAS HISTÓRICO-FAMILIARES:

                                                         E dê-lhe bala no Passo da Cachoeira!


                                                                               Por Paulo Corrêa dos Santos

Ainda sob os rescaldos do fim da Revolução Federalista, cujo fervor deu-se em 1893, a fazenda de Augusto Silveira Dutra fora atacada por “uma partida de salteadores”, no local denominado Passo da Cachoeira. Corria o ano de 1897.
Augusto, meu trisavô paterno, fez parte da Guarda Nacional de Itaqui, um pequeno estancieiro, eleitor republicano, primo-irmão do Coronel Felipe Nery de Aguiar, intendente de Itaqui de 1892 a 1900.


Era comum o mandatário do município mandar um soldado da guarda municipal para fazer a vigilância da fazenda de Augusto, no Rincão (outra denominação para o local) da Cachoeira, naqueles períodos de conturbação.
                    Foto Passo da Cachoeira, com sua balsa de travessia. Crédito: Rádio Liberdade
Coisas de parentes! Troca de favores! Concessões político-eleitoreiras? Coisas e tais....Pois no dia do ataque, Marcino de Aguiar, filho de João Pinto de Aguiar e Maria Joaquina de Medeiros, neto de Ignacio Pinto de Aguiar (meu tetravô paterno, tio do Coronel Felipe de Aguiar), mais um menino de apelido “Bilica” estavam no mato cortando lenha, quando uma sobrinha de Augusto foi avisá-los de que bandidos estavam atacando a estância.
Nos relatos documentais ora aparece estância, ora fazenda, termos comuns na época. A presença de bandos armados e consequentes invasões e roubos eram frequentes naqueles tempos bélicos pós-revolução, herança da selvageria do período federalista. Ao chegarem à sede da estância, encontraram o velho Augusto tentando reagir ao ataque, junto com alguns familiares, e gritando energicamente: “- não se entreguemo pra bandido! – Não se entreguemo pra bandido!”
E, assim, ia incentivando aos outros a reagirem à invasão.
E foi bala e bala! Augusto foi ferido e, mesmo assim, sentado a uma cadeira, pedia que as mulheres municiassem as armas com que disparava contra o bando. Bando esse formado por 12 elementos com “ a cara pintada de preto e encarnado”.
Que cena! As mulheres ferviam água para jogar nos invasores. Deus do céu!
Além de Augusto, sua esposa Clarinda Bertulina de Medeiros também foi ferida. O fazendeiro, junto com sua turma, conseguiu acertar a um dos bandoleiros. Este, ferido, foi degolado por seus companheiros, para que, se preso, não os delatassem. Cenas de “faroeste puro”! Existe, inclusive, um relato policial, em livro específico, nos arquivos públicos do Município, sobre esse episódio.
Augusto Silveira Dutra ficou manco de uma perna devido a um disparo recebido. Tempo de mistérios e curiosidades no Rincão da Cachoeira. Nesse lugar, a esposa de Augusto, dona Clarinda, costumava contar que havia um grande “enterro” perto da casa onde moravam, próximo de umas figueiras. Balas, degolas, “enterros”, belo enredo para um romance de época – “dos brabos”!



Foto: da esquerda para direita: meu bisavô Higino Francisco dos Santos, avô Osvaldo e pai, Waldemar Corrêa dos Santos.

Augusto Silveira Dutra nasceu em 1845, em Santa Maria, e faleceu em Itaqui, por volta de 1920.Teve apenas duas filhas: Ernestina e Ercília. Minha genealogia provém de Ernestina Silveira dos Santos, nascida em 8 de outubro de 1879 e falecida em 01 de setembro de 1880, casada com Higino Francisco dos Santos, meus trisavós paternos. Ernestina e Higino eram pais de Osvaldo Silveira dos Santos, meu avô paterno.




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