PADRE
JOSÉ DE NORONHA NÁPOLES MASSA – PARTE 1
As
dubiedades de uma conduta: entre o sacro e o profano!
Prof.º
Paulo Santos
Uma
das personalidades mais emblemáticas da historiografia itaquiense é o Padre JOSÉ DE NORONHA NÁPOLES MASSA. Ainda que
sua trajetória no espaço que compreendeu a efervescência da Monarquia e o
alvorecer da República seja relevante, a maior parte de nossos habitantes
desconhece qualquer nuance informativa sobre o mesmo.
Por
ser uma figura assaz interessante do ponto de vista da pesquisa histórica,
debruçamo-nos, anos a fio, na busca de dados para formatar o arcabouço de uma
pretensa tentativa de biografia.
Reproduzimos
informações conhecidas e descobrimos outras. Com isso, entendemos que algumas
dúvidas antes havidas agora começam a serem dissipadas.
José
de Noronha Nápoles Massa é tido como originário da Bahia, onde teria nascido em
27 de agosto de 1824, segundo algumas fontes na cidade de Sacramento de
Itaparica; noutras, Nazaré. Seus pais eram João Pereira Rebello e Maria Rosa
Nápoles Massa. No seu estado natal, estudou e formou-se padre, sendo ordenado
em 30 de novembro de 1845, pelo Bispo D. Romualdo de Seixas, atuando logo em
seguida como capelão militar.
Há
referência de que quando o Bispo D. Sebastião Laranjeiras assumiu o Bispado do
Rio Grande de São Pedro teria trazido uma leva de padres baianos para assumir
no clero rio-grandense. Fontes indicam que ele trouxe da Bahia o padre Nápoles
Massa. Entretanto, tem-se que o padre em questão já estava por aqui.
De
início, no Rio Grande, Nápoles Massa foi designado para a freguesia de
Piratinim, em 18 de outubro de 1849, como padre daquela localidade. A
repercussão de sua chegada foi expressiva, recebendo inúmeros elogios.
Já,
a partir de 1852, ocorrem alguns senões de parte da comunidade relativos ao
pároco Massa. Citam que ele começa a se envolver em movimentos eleitorais,
tendência essa que se manifestará mais tarde em sua carreira pública.
Uma
notícia de 10 de janeiro do ano de 1850 dizia que:
(...)...em
tão poucos dias que aqui tem adquirido muito e muito, tudo pelas provas que já
tem dado ao povo de suas virtudes e apreciáveis qualidades, sendo incansável no
asseio e bom arranjo da igreja, fazendo sempre suas praticas convidando o povo
para que frequentemente busque a casa de Deus. (Jornal O Rio Grandense, RS,
edição 561, p. 3).
E
o mesmo jornal complementa, ressaltando seu caráter de benfeitor e entusiasta
da doutrina:
(...)...offerecendo-se
para ensinar a doutrina christã tanto aos meninos, com os mais fâmulos, -e poucos
dias um parochiano falando-lhe para hir fazer um casamento no distrito da
freguesia, dando-lhe cinco onças de ouro, elle negou-se a recebel-as dizendo
que as cinco onças oferecidas a elle, os empregasse em o que mais fosse preciso
para a noiva, a fim de vir á igreja, e que o casamento lhe pagarião, se
pudessem. Isto ainda aqui nenhum outro praticou.
Observa-se
o quanto sua chegada contagiou os paroquianos e as forças vivas do lugar, tanto
que remetem correspondência para jornais enfatizando isso.
Contudo,
o ano de 1854 lhe traria profundos dissabores. Uma representação da Câmara de
Vereadores de Piratinim foi enviada à Assembleia Provincial denunciando
atitudes e comportamentos impróprios desse padre. A imprensa da época foi
pródiga na exposição do assunto.
O
Jornal do Commercio, RJ, edição 145, p. 2, de 27 de maio de 1855, trazia
importante denúncia:
O
vigário José de Noronha Nápoles Massa põe em escandalosa contribuição os bolsos
de seus
fregueses, que bem caro pagão o seu zelo de cristãos.
A
representação cita que o reverendo cobrava além do que exigia a Igreja e de
acordo com “os teres” dos contratantes. Fato que contraria o período de sua
chegada.
Entretanto,
isso não era tudo:
Desencaminhou
uma jovem que estava a cargo de seus parentes, e vive com ella como se fora
casado, apresentando-a na sala ás pessoas que tem de falar-lhe, fazendo alarde
dessa imoralidade
e ofendendo assim aos bons costumes dos Piratinienses. (p.2, 1855)
Esse
documento encaminhado ao Bispo Diocesano, Dom Feliciano José Rodrigues Prates,
continha graves denúncias.
O
padre organiza a defesa e reúne aliados na cidade, que julgam tudo aquilo uma
fraude e uma infâmia. Nápoles Massa era novo ainda, tinha apenas 26 anos.
Na
Assembleia Provincial, em sessão de maio de de 1855, o deputado Sayão Lobato
bradava que: “(...) Existia na Villa de Pirantinim como parocho um sacerdote
nas condições mais deploráveis”. Isso parecia muito grave.
No
dia 8 de dezembro de 1854, o padre Massa, à meia-noite, retira-se da cidade,
desgostoso pela acusação lhe imposta e temendo um vexame maior.
Em
7 de março de 1855, alguns amigos tentam lhe dar guarida. Eles recebem
documentos que tentam inocentá-lo, mas a análise dos mesmos parecia uma tênue
defesa, que não mudaria o quadro. Os defensores do padre publicam matéria no
Jornal O Grito Nacional, do Rio de Janeiro, de 27 de junho de 1855, onde
argumentavam:
O
comercio sente, o povo maldiz os cinco vereadores (...)...acusarão ao referido
vigário, que, com quanto pela devassa instaurada desmentisse, e levasse por
terra essa vil e insignificante denuncia infamante, todavia desgostoso assim
por esse tão chavasco procedimento da ilustríssima.
Observa-se
que seus amigos vão até o Rio de Janeiro publicar algo em sua defesa, no
entanto, ele não estava mais na Villa de Piratinim.
Transcorrido
algum período, em 1862 envereda para a política, sendo eleito deputado
provincial por dois mandatos, convivendo com Silveira Martins. Henrique Ávilla
e outros proeminentes políticos de escol. No mesmo ano, em 23 de outubro é
apresentado como cônego da Catedral, em Porto Alegre. Passados alguns anos, de
31 de agosto de 1865, outro contratempo surge na vida desse religioso: - foi
suspenso do exercício de cônego por tempo indeterminado, junto com dois padres.
O Bispo argumenta, na decisão:
Motivos
de maior gravidade me impeliram a tomar esta medida (...) Devo informar a
V.Excia que repetidas vezes, e de há muito tempo, tendo admoestado os ditos
eclesiásticos a não saírem do caminho de seus deveres, com escândalos dos fieis
e grave quebramento da disciplina da Igreja. (Correio do Povo, Edição do dia
07/10/1973, Caderno de Sábado, p.I a IV).
Esse
documento fora encaminhado à Assembleia Provincial, isto antes dele se eleger
deputado. Não se sabe que tipos de condutas inadequadas praticou. Massa e seus colegas punidos ficam
sem os cargos e a remuneração, solicitando à Assembleia, após, a restituição de
seus direitos, o que não ocorreu. Em 1871 renuncia ao cargo de cônego da
Catedral da Sé, em Porto Alegre.
Em
1864 foi designado para Cruz Alta.
Em
4 de junho de 1873 foi nomeado pároco encomendado para Itaqui. Não se observa
estabilidade nas designações desse padre. Envolvia-se em reiteradas atividades
concomitantemente. Em 1877-1878 há registro de sua passagem por São Borja.
Quando
veio para Itaqui, há informação de que recebera um menino índio, órfão, para
criar. O padre o reconheceu como filho, dando-lhe o nome de José Soares de
Noronha, nascido em 1874. Quando foi adotado, o menino tinha 4 anos.
O
padre Nápoles Massa morava em casa situada nos fundos do prédio hoje da antiga
Farmácia Universal, na esquina da Praça Marechal Deodoro, quase lindeiro ao
terreno da Igreja Matriz.
Com
ele, moravam um empregado de nome Dorotheo Fernandes, nascido em 1858, um
estrangeiro chamado Constantino Borchetti e sua esposa, um padre argentino
durante um tempo e ainda, o filho adotivo, José.
Pois
esse filho iria assassiná-lo em 14 de novembro de 1890. O crime teve
repercussão, inclusive, fora do estado.
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