O estopim do Incidente de Alvear –
1874.
Uma comissão que era uma farsa e um
comandante arretado!
Prof.º Paulo Santos
Foto do Teatro que homenageia o Incidente de Alvear através de seu comandante - Estanislau Prezewodowski |
No mês
de junho do ano de 1874 chega em Itaqui uma comissão de médicos procedente da
Itália. Diziam que andavam a serviço do governo italiano. Uns dos que comandava
o grupo era o suposto doutor Benat. Apresentaram-se às autoridades locais no
intuito de poder clinicar na cidade.
O delegado
do povoado, Dr.º Egydio Barbosa Oliveira Itaquy, desconfiou da turma em questão
e proibiu que eles exercessem suas funções. Argumentou que no governo imperial,
eles tinham que fazer exame de suficiência para poderem atuar como médicos.
Dr.º Egydio Barbosa de Oliveira Itaquy (reprodução ronaldofotografia.blogspot.com.br) |
Parece
que tal comissão não aceitou bem a determinação. Dessa forma, a título de protesto,
os mesmos colocaram cartazes nas ruas contra a decisão, dizendo que iriam para
as barrancas para dar consultas, no horário das 7 às 9h, alegando que ali
estariam em território estrangeiro. As barrancas em questão seriam as do lado
argentino, em Alvear.
Em 19
de julho de 1874, o médico da Flotilha do Alto Uruguai, 1.º Tenente Pamphilo
Manoel Freire de Andrade, ao atender alguns pacientes no povoado de Alvear, o
que era corriqueiro na época, devido à ausência
de profissionais gabaritados na pequena povoação fronteiriça do outro lado,
pois este médico fora agredido por duas pessoas.
De retorno
à unidade militar, deu ciência do ocorrido ao comandante do arsenal de Guerra
da Marinha, Capitão Tenente Estanislau Przewodowski.
E deu
bochincho! E dos grandes!
O caso
virou um incidente internacional – os barcos da Flotilha, sob ordem de seu
comandante, um baiano arretado, bombardearam por três vezes seguidas o povo de
Alvear.
E a coisa
enfeiou para Przewodowski! Foi destituído do cargo e mandado a Conselho de Guerra.
Imagina bombardear um país amigo, uma localidade pequena, indefesa, por buques
de guerra! Inconcebível!
E o
estopim?
Estava
no início deste texto, que o leitor poderia achar sem graça uma comissão de
médicos aportar no distante Itaqui de 1874.
Pois,
naquela comissão estavam os charlatões Guido Benat e Vicente Logatto. Não deixaram
eles trabalhar no Brasil, então trataram de se vingar no médico da Flotilha. Foram
os mesmos que o agrediram na beira do rio Uruguai, no porto de Alvear, sem a
interferência da guarda local.
Pesquisas
ulteriores sobre esse grupo trouxeram-nos revelações inusitadas. Era uma
mistura de curandeiros e artistas. Andavam em grupos, faziam espetáculos com
bichos e feras, professavam a medicina e
desafiavam as leis brasileiras.
Dr.º
Itaquy, um dos ancestrais da família Barbosa, de Itaqui, percebeu que de
médicos os ditos não tinham nada. O fato gerou uma crise entre os dois países
repercutindo nos debates do Senado e na troca de correspondências dos referidos
consulados.
Talvez
poucos soubessem deste detalhe – por que agrediram ao médico da Marinha? Quem eram?
O que faziam por aqui? Depois...bem....depois a coisa ficou feia para o lado do
Capitão Tenente, futuro e promissor engenheiro, Przewodowski. Itaqui resgatou
seu nome num belo teatro, entretanto Przewodowski nunca mais foi o mesmo..
desiludido com os rumos do incidente e com as decisões das autoridades
brasileiras, resolveu nunca mais tocar no assunto. Coisas do passado!
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