Flashes da história primitiva de Itaqui
Olhares atentos. Ouvidos hirtos. Um
misto de credulidade e de graça!
Prof.º Paulo Santos
É
incrível o quanto o passado nos surpreende com suas peculiaridades. Ao longo da
trajetória histórica e temporal do universo itaquiense, deparamo-nos com preciosidades reverenciais inusitadas,
atípicas e anacrônicas sob o olhar contemporâneo. Algumas como:
·
No ano de 1760, na efervescência da República
Comunista-Cristã (se tal terminologia fosse aceita), índios de ITAQUI foram até
a redução de São Nicolau ( a 1.ª querência rio-grandense) recepcionar um Bispo
da Companhia de Jesus, vindo de Buenos Aires, em visita às reduções
missioneiras orientais. O curioso dessa recepção é que os caciques dos povos
fizeram dupla procissão, constando de guaranis cristianizados e animais
domesticados. O estranho cortejo tinha feras enjauladas como onças, tigres,
além de lontras, cotias, macacos, nutrias, perdizes e perdigões. Se foram
índios de Itaqui a este evento era porque os mesmos estavam ambientados ao
processo comunitário-cristão da época. Com certeza, não era um povo jesuítico,
mas representações das capelas do Rincão da Cruz que lá compareceram.
·
Mais distante ainda, ano de 1710, uma
informação “pra lá de estranha”! Um
antigo pesquisador missioneiro, Pedro Marques dos Santos, numa publicação de
1985, informava que foi criada a
primeira fábrica de sabão do Rio Grande do Sul. Conta que dois portugueses
teriam montado uma indústria cuja matéria prima era a carne abandonada nos
campos que, reunida, era transformada em sabão. Diz mais ainda – que tal
fábrica estaria situada na região do Serro
de ITAQUI, ou seja, a parte mais alta, pedregosa e árida. Com todo crédito
que se possa dar à fonte em questão, esta notícia pende mais para o lado
folclórico e do imaginário.
·
Chegando perto do ITAQUI português,
encontramos um informe de 1858. Trata-se de um relatório do governo provincial
indicando a necessidade da construção de uma pequena casa de detenção. O inusitado
transita no sentido de que os criminosos eram conservados num rancho de capim
e, pasmem!, sem portas. Mais de um
vez, os prisioneiros fugiram acompanhados das sentinelas. Que maravilha!
·
Julho de 1865, os paraguaios invadem ITAQUI,
saqueando propriedades e prédios públicos. A igreja matriz teve suas alfaias
(paramentos e objetos litúrgicos) roubados. Em 1866, o padre José Coriolano de Sousa Passos
solicitou ao governo provincial a compra de novos objetos sacros. Eles foram
adquiridos e, no mesmo ano, o governo monárquico de Dom Pedro Segundo autoriza
que estas alfaias e ornamentos fossem benzidos. Coisas do passado! O Imperador
mandou. Deus salve o rei!
Nem
sempre os relatos históricos estão eivados de heroísmos e fatos grandiosos. Às
vezes eles estão assim – simples, curiosos, inusitados e, na maior parte,
engraçados. E isso é história! Serve de munição para a formatação das estórias
à beira dos fogões, dos causos inauditos, da configuração das lendas, do
endeusamento de personagens. Matronas sisudas recontavam causos para a piazada;
empertigados centauros platinos, sonoramente, reverberavam esses relatos. E o
povo era alimentado dessas gostosas informações de um passado sentimental e
folclórico. Denso, por um lado, mas repleto de pilhérias e descontraídas gargalhados,
por outro. Isso é história!
Sua Majestade, D. Pedro II |
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