segunda-feira, 23 de março de 2020

Flashes da história primitiva de Itaqui.


Flashes da história primitiva de Itaqui
Olhares atentos. Ouvidos hirtos. Um misto de credulidade e de graça!
Prof.º Paulo Santos

É incrível o quanto o passado nos surpreende com suas peculiaridades. Ao longo da trajetória histórica e temporal do universo itaquiense, deparamo-nos  com preciosidades reverenciais inusitadas, atípicas e anacrônicas sob o olhar contemporâneo.  Algumas como:
·         No ano de 1760, na efervescência da República Comunista-Cristã (se tal terminologia fosse aceita), índios de ITAQUI foram até a redução de São Nicolau ( a 1.ª querência rio-grandense) recepcionar um Bispo da Companhia de Jesus, vindo de Buenos Aires, em visita às reduções missioneiras orientais. O curioso dessa recepção é que os caciques dos povos fizeram dupla procissão, constando de guaranis cristianizados e animais domesticados. O estranho cortejo tinha feras enjauladas como onças, tigres, além de lontras, cotias, macacos, nutrias, perdizes e perdigões. Se foram índios de Itaqui a este evento era porque os mesmos estavam ambientados ao processo comunitário-cristão da época. Com certeza, não era um povo jesuítico, mas representações das capelas do Rincão da Cruz que lá compareceram.
·         Mais distante ainda, ano de 1710, uma informação “pra lá de estranha”!  Um antigo pesquisador missioneiro, Pedro Marques dos Santos, numa publicação de 1985, informava que foi criada a primeira fábrica de sabão do Rio Grande do Sul. Conta que dois portugueses teriam montado uma indústria cuja matéria prima era a carne abandonada nos campos que, reunida, era transformada em sabão. Diz mais ainda – que tal fábrica estaria situada na região do Serro de ITAQUI, ou seja, a parte mais alta, pedregosa e árida. Com todo crédito que se possa dar à fonte em questão, esta notícia pende mais para o lado folclórico e do imaginário.
·         Chegando perto do ITAQUI português, encontramos um informe de 1858. Trata-se de um relatório do governo provincial indicando a necessidade da construção de uma pequena casa de detenção. O inusitado transita no sentido de que os criminosos eram conservados num rancho de capim e, pasmem!, sem portas. Mais de um vez, os prisioneiros fugiram acompanhados das sentinelas. Que maravilha!
·         Julho de 1865, os paraguaios invadem ITAQUI, saqueando propriedades e prédios públicos. A igreja matriz teve suas alfaias (paramentos e objetos litúrgicos) roubados. Em 1866, o padre José Coriolano de Sousa Passos solicitou ao governo provincial a compra de novos objetos sacros. Eles foram adquiridos e, no mesmo ano, o governo monárquico de Dom Pedro Segundo autoriza que estas alfaias e ornamentos fossem benzidos. Coisas do passado! O Imperador mandou. Deus salve o rei!
Sua Majestade, D. Pedro II
Nem sempre os relatos históricos estão eivados de heroísmos e fatos grandiosos. Às vezes eles estão assim – simples, curiosos, inusitados e, na maior parte, engraçados. E isso é história! Serve de munição para a formatação das estórias à beira dos fogões, dos causos inauditos, da configuração das lendas, do endeusamento de personagens. Matronas sisudas recontavam causos para a piazada; empertigados centauros platinos, sonoramente, reverberavam esses relatos. E o povo era alimentado dessas gostosas informações de um passado sentimental e folclórico. Denso, por um lado, mas repleto de pilhérias e descontraídas gargalhados, por outro. Isso é história!

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