FLOTILHA DO ALTO URUGUAI
Vigilância da fronteira e tempo de
efervescência sócio- cultural
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Ilustração do artista Gracco Bonetti - frontaria das ruínas de parte do prédio da Flotilha do Alto Uruguai, mais tarde usado pela empresa Construtora com uma unidade usina elétrica. |
Em 1866, Itaqui recebeu a preferência do Governo Imperial do Brasil para
tornar-se sede de uma flotilha da Marinha de Guerra. Como essa era uma área de
fronteira, estrategicamente situada em pontos de conflitos, com invasões
castelhanas e paraguaias, resolveu o Governo Imperial guarnecer esses limites
como forma de defender o território brasileiro de forma mais eficaz.
A Flotilha do Alto Uruguai foi constituída inicialmente dos navios
Tramandaí, Taquari, e Uruguai .Logo depois vieram os encouraçados Rio Grande e
Alagoas, assim como a canhoneira Greenhalg. A partir do estabelecimento da
Flotilha do Alto Uruguai, em 1866, na fronteira de Itaqui, próxima à barra do
Cambaí, teve incremento o progresso desse povoado.
Alguns anos depois (1882) já se constrói um prédio específico para o
paço municipal (prefeitura), seguido do Teatro Prezewodowski (1886),
contribuindo decisivamente para o fomento cultural. Várias companhias teatrais
europeias demandavam ao teatro, via rio da Prata e Uruguai. Além disso,
produtos e modismos do Velho Mundo, assim como do centro da Corte imperial
brasileira chegavam às casas dos itaquienses.
As moças “casadoiras deitavam os
olhos”para os jovens navais.
Nessa Flotilha serviu um dos heróis da Marinha, o Almirante Saldanha
da Gama, casado com uma itaquiense em 1867, Emília Josefina Coimbra de
Mello. Casamento de 8 dias, apenas! A simples presença de Saldanha da Gama
nesse insípido povoado já é “pano para muitas mangas”!
Entre 1872/1874 comandou a Flotilha, o Capitão -Tenente Estanislau
Prezewodowsk, destaque na Vila de
São Patrício de Itaqui, ficando célebre pelo inusitado Incidente de Alvear,
“mandando bala e bala” nos irmãos correntinos de Alvear. Os itaquienses
gostaram! A Corte, não!
Nessa Flotilha existiu o Arsenal de Marinha, considerado na época muito
superior ao de Porto Alegre e Rio Grande. Esse Arsenal tinha 26 metros de frente com
uma grande porta e seis janelas de cada lado. Havia compartimentos para o
diretor, secretaria, médicos, receituários, farmácia, enfermaria. Também, uma
sala de armas bem provida de espingardas, revólveres, espadas, cartuchos e
projetis para canhões. Oficinas a vapor para ferreiros e carpinteiro. Ao lado
deste edifício ficava a casa do comandante da Flotilha. Ao fundo, duas guaritas
na margem do rio Uruguai com um canhão e uma metralhadora.
As informações transitam num momento com a denominação arsenal, noutra
flotilha, em algumas, forte.
No ancoradouro do arroio Cambaí postavam-se os barcos pequenos para o
serviço do Arsenal e as embarcações citadas. Não restam mais nenhum desses
edifícios, tampouco nada sobrou das embarcações, armamentos e instalações
afins. Tem-se informação que a casa do comandante da Flotilha ainda existe, na
referida quadra onde ficava esta instituição militar. As ruínas do prédio à
margem do Uruguai são reminiscências pós-Flotilha. Sobre a casa do comandante
cabe uma ressalva. A casa ora existente fica no lado esquerdo da rua Osvaldo
Aranha, que desce sentido ao centro da cidade. As informações primitivas
indicam que a casa do comandante ficava colada aos edifícios do arsenal,
portanto no lado direito da rua, sentido arsenal/porto. Talvez essa casa fosse
disponibilizada para outros comandantes fora do período inicial do
estabelecimento.
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Essas ruínas missioneiras(?) ficariam nos fundos da Flotilha. |
Em 26 de novembro de 1906 a Flotilha do Alto Uruguai foi dissolvida,
os navios de guerra foram para Rio de Janeiro e o estabelecimento entregue ao
Ministério de Guerra. Em seu lugar foi instalado um batalhão de infantaria, do
Exército.
O Jornal A Federação, de Porto Alegre, instrumento do Partido
Republicano, noticiava que em fevereiro de 1907, chegaram na capital dois
grandes canhões de bronze que pertenceram ao Encouraçado Alagoas, inclusive
utilizados na guerra do Paraguai, pesando 980 kilos, mais três chapas de
couraça da torre do referido barco, pesando todas, 1.700 kilos e, mais ainda,
cinco caixões contendo o arquivo da extinta Flotilha do Alto Uruguai. O interessante
das chapas é que elas estavam com os sinais das balas inimigas. Tudo isso foi
enviado para o Museu Naval do Rio de Janeiro. Algum itaquiense residindo na
Cidade Maravilhosa pode, um dia acessar essas relíquias e comprovar se, de
fato, estão lá.
Cheguei, em determinada oportunidade, a conhecer um canhão e algumas
chapas de barcos e outros ferros encontrados quando a prefeitura da cidade
fazia uma limpeza nos fundos do terreno do arsenal. Foi noticiado pela imprensa
e parece que o canhão teria ido para o 1.º RC Mec. Tinha, inclusive, observação
minha, o brasão da monarquia brasileira em seu dorso.
Em 1883 havia um forte esquema de segurança de nossa fronteira fluvial,
especificamente na Flotilha do Alto Uruguai. Quase duas décadas depois de
instalada a Flotilha, foi o governo imperial encorpando-a. Havia dois redutos
de pedra maciça considerados fortes. Um, na beira do rio, com quatro metros de
altura, inaugurado em 1881, chamado de Dois de Dezembro, em forma cônica. Em sua
plataforma achava-se um canhão girando em todas as direções, calibre 120, marca
Withworth.
Um outro forte, mais ao centro do destacamento, chamado de Onze de
Junho, com cinco metros de altura, forma octogonal, tendo na base dois canhões,
um calibre 30 e outro, inglês, calibre 32, fazendo fogo para todas as direções.
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Observe, no lado esquerdo, o prédio branco, pois atrás dele, aquela construção poderia ser o Forte Onze de Junho, nomeado na reportagem de 1883. |
Além disso, havia dois canhões de bronze, de grande alcance, montados em
plataformas móveis.
E mais, cinco canhões montados em carretilhas de campanha, sistema
Withworth e La Hitte e outros de obuses de montanha. Somavam todos: dez
canhões. Para nossa região isso era uma fortificação e tanto.
Tem muita história ainda sobre esse
sentimental e importante destacamento da marinha de guerra brasileira nessas terras. Hoje: ruínas, mato,
pedra e causos! Só!